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Indústria aposta em resolução 8K e tela flexível para televisão do futuro

Na feira CES, em Las Vegas, marcas trouxeram aparelhos de alta qualidade; para analistas, fabricantes estão tentando fazer mercado avançar, mesmo sem conteúdo disponível ou preço acessível para o grande público

13 jan 2019 - 05h11
(atualizado em 15/1/2019 às 11h53)
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Realizada há cinco décadas nos EUA, a Consumer Electronics Show (CES) já foi palco da estreia de eletrônicos como DVDs, Blu-ray e videogames. Nos últimos anos, a feira mudou de perfil, abraçando temas como carros autônomos. Em 2019, porém, o evento voltou às origens e trouxe as telas como destaque, com lançamentos de aparelhos com novas resoluções e possibilidades de design.

Em Las Vegas, Samsung, LG, TCL e Sony exibiram TVs com resolução 8K prontas para chegar ao mercado - em anos anteriores, a tecnologia apareceu só como experimentação. No 8K, cada tela terá cerca de 33 milhões de pixels, quatro vezes mais que na tecnologia 4K (Ultra HD).

Pode soar um pouco fora da realidade trazer o 8K ao mercado enquanto o 4K não deslanchou. No Brasil, segundo a consultoria GfK, as TVs 4K representaram 23,5% das vendas do setor, em unidades, entre janeiro e novembro de 2018. "Ainda é um produto de nicho", diz Gisela Pougy, diretora da GfK. Também é difícil achar conteúdo em Ultra HD - há Blu-ray e streaming, como Netflix ou YouTube. No caso do 8K, o buraco é mais embaixo: estão previstas para os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, as primeiras experiências de transmissão com a resolução.

Mas falta de conteúdo não é empecilho para as empresas. Com processadores mais potentes, as televisões 8K exibidas na CES podem melhorar a qualidade de imagens gravadas em resoluções inferiores - o chamado "upscaling". Assim, até mesmo vídeos gravados em alta definição (Full HD) ou 4K pareceriam superiores numa tela 8K.

Além disso, o anseio do consumidor por telas maiores e experiência digna de cinema também justifica a adesão das fabricantes à nova resolução, na visão do professor Renato Franzin, da USP. "O que determina a qualidade da imagem é o número de pixels por polegada. Conforme cresce o tamanho da tela, cai a qualidade", explica. "O 4K não aguenta telas gigantes; a solução é embarcar no 8K". Outro motivo é comercial: "Ao lançar o 8K, a indústria motiva que cinema, televisão e operadoras corram atrás", diz Guilherme Campos, gerente de produto de TVs da Samsung no Brasil.

Mercado. Ao Estado, Campos confirmou que a Samsung lançará TVs 8K no Brasil ainda no 1.º semestre. "Queremos que o brasileiro entenda o potencial da nova tecnologia", afirma. A sul-coreana não estará só: a chinesa TCL também pretende trazer ao País, até o final do ano, pelo menos um televisor 8K, diz o gerente de produto da marca, João Rezende. Já a LG diz ainda estudar o mercado.

É válido ter cautela. Afinal, serão aparelhos para poucos: hoje, os raros modelos 8K já à venda nas lojas dos EUA passam da marca de cinco dígitos - em dólares. Para 2019, a previsão da Consumer Technology Association é de que só 200 mil televisões 8K sejam vendidas nos EUA.

Na visão de Gisela, da GfK, é difícil crer que o 8K será ser popular no Brasil até 2022 - ano da próxima Copa do Mundo, quando o brasileiro mais compra novas TVs. Para Franzin, a chegada do 8K ao País é estratégia de marketing. "O brasileiro pode não ter o bolso para uma televisão 8K, mas vê a qualidade da marca quando busca um produto no seu perfil", diz.

Design. LG e Samsung também trouxeram novidades no design. Na CES, a Samsung mostrou nova versão da The Wall, televisão com painéis modulares que podem se unir em formatos heterodoxos, como quadrado ou em retrato (vertical). "Hoje, o consumidor tem que adequar o espaço à TV", diz Campos, da Samsung. "Queremos inverter essa lógica."

Já a LG inovou com a LG Signature R, cuja tela pode ser enrolada como um jornal e armazenada dentro de uma caixa. Com resolução 4K, o modelo chegará às lojas dos EUA em 2019. Isso para não falar da Royole, que trouxe à feira o primeiro smartphone dobrável do mundo. Segundo Franzin, as propostas das coreanas estão mais aliadas à decoração, mas são conceitos pouco viáveis para o consumo de massa. "Imagina uma criança brincando com a TV que enrola? O material não aguenta", avalia o professor.

Interação. Um aspecto curioso da renovação das telas na CES 2019 é que ela ocorre após anos de investimento da indústria em nova forma de interação homem-máquina: os comandos de voz, via assistentes como Amazon Alexa e Google e Assistant. Destaques em 2018, eles voltaram este ano, mas a serviço do visual, em mudança sensível. Um exemplo é a aposta das fabricantes que a TV servirá também para controlar a casa conectada.

"Com a voz, nos livramos da interação manual, por toque ou digitação. Mas o visual segue sendo cômodo", diz Franzin, da USP. Michael Williams, diretor de marketing da Royole, concorda: "Buscamos a melhor forma da interação para informações ou entretenimento. Por isso, sempre precisaremos da interface visual." / COLABOROU BRUNO ROMANI, DE SÃO PAULO

Estadão
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