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Grindr e Tinder divulgam informações pessoais, diz estudo

Entre os dados transferidos para empresas de publicidade estão parceiros preferidos e endereços precisos

15 jan 2020 - 11h46
(atualizado às 12h04)
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Aplicativos populares de encontros como Grindr, OkCupid e Tinder estão divulgando informações de usuários, como parceiros preferidos e endereços precisos, para empresas de publicidade e marketing de uma forma que podem estar violando leis de privacidade, segundo novo relatório sobre alguns aplicativos para sistema Android mais baixados.

Grindr, o aplicativo de encontros mais popular do mundo para o público gay, transmitiu códigos e nomes usados para mais de uma dezena de empresas, mostrando essencialmente a orientação sexual dos usuários, segundo o relatório, divulgado na terça-feira, 14, pelo Conselho de Consumidores da Noruega (CCN), baseado em Oslo.

O Grindr enviou a localização de um usuário para várias empresas, que poderão compartilhar os dados com muitas outras. Quando o New York Times testou o aplicativo, constatou o compartilhamento de dados precisos de localização do usuário com cinco empresas.

Os pesquisadores também informaram que o OkCupid enviou características étnicas e respostas de um perfil pessoal de um usuário - tais como "Você já usou drogas psicodélicas?" - para ajudar empresas a criar mensagens precisas. O NYT constatou que o OkCupid postou recentemente uma lista de mais de 300 anunciantes parceiros e analistas que podem compartilhar informações de usuários.

"Qualquer consumidor com um número médio de aplicativos em seu celular - algo entre 40 e 80 apps - terá seus dados compartilhados por centenas, talvez milhares de usuários", disse o CCN.

O relatório, intitulado "Fora de controle: como os consumidores são explorados pela indústria de publicidade online", diz que um crescente ecossistema de empresas rastreia milhões de usuários, possibilitando a inúmeros negócios traçar o perfil de pessoas, bombardeá-las com anúncios e influenciar seu comportamento.

Duas semanas atrás, a Califórnia pôs em vigor uma abrangente lei de privacidade do consumidor. Entre outras coisas, a lei prevê que o consumidor pode interromper a divulgação de informações sobre ele em empresas que comercializam dados pessoais.

Na União Europeia, órgãos reguladores estão reforçando normas que proíbem a empresas coletar informações pessoais sobre religião, etnicidade, orientação sexual e vida sexual sem o explícito consentimento das pessoas. O CCN pretende apresentar queixa a órgãos reguladores noruegueses sobre possíveis violações das leis europeias de proteção de dados.

Nos EUA, um grupo de consumidores vai enviar cartas a órgãos reguladores americanos pedindo que investiguem se empresas do país violam leis federais ou estaduais de privacidade.

Em declaração, o Match Group, dono do OkCupid e do Tinder, disse que trabalha com empresas de fora para acompanhar os serviços prestados e garantir o compartilhamento apenas de dados específicos considerados necessários pelos usuários. O conglomerado acrescentou que tem contratos com vendedores garantindo a segurança de dados pessoais dos usuários.

O Grindr disse que não recebeu cópia do relatório e não pode, portanto, comentar seu conteúdo. A plataforma disse levar em grande conta a privacidade dos usuários.

O relatório examinou como desenvolvedores embutem softwares nos aplicativos para rastrear usuários, suas preferências e endereços reais. Os dados pessoais que softwares de anúncios extraem de aplicativos são tipicamente ligados a um código de rastreamento de usuários que é único para cada celular.

Empresas usam códigos de rastreamento para enriquecer perfis de usuários. Mesmo sem seus nomes reais, as contas podem ser identificadas e localizadas neste cruzamento de dados.

O relatório do CCN sugere que algumas empresas tratam informações íntimas, como orientação sexual e uso de drogas, do mesmo que informações mais inócuas, como pratos favoritos.

Entre outras coisas, os pesquisadores descobriram que o Tinder enviou informações sobre gênero e sexualidade de um usuário e do parceiro que ele estava procurando para duas empresas de marketing.

As descobertas do estudo ilustram como pode ser desafiador para os consumidores rastrear e impedir a divulgação de suas informações pessoais. O aplicativo Grindr, por exemplo, inclui softwares do MoPub, o serviço de anúncios do Twitter, que pode coletar o nome e a localização precisa de um usuário.

Em declaração, o Twitter disse: "Estamos investigando o caso para entender a suficiência do mecanismo de consentimento do Grindr. Enquanto isso, desabilitamos a conta do MoPub do Gindr".

A AT&T não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

Estadão
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