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Gigantes de tecnologia se preparam para 'hora da verdade' no Congresso dos EUA

Após um ano de investigações, presidentes executivos de Amazon, Apple, Facebook e Google vão ter de depor frente a políticos nesta quarta-feira

28 jul 2020 - 20h59
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Os presidentes executivos de Amazon (Jeff Bezos), Apple (Tim Cook), Facebook (Mark Zuckerberg) e Google (Sundar Pichai) terão, nesta quarta-feira, 29, de depor frente ao Congresso dos EUA. Eles tentarão defender seus negócios poderosos do martelo pesado de Washington, que há um ano investiga as empresas por seu poderio econômico, com direito a centenas de horas de entrevistas e mais de 1,3 milhões de horas.

Os capitães de quatro das cinco maiores empresas americanas da atualidade (falta apenas a Microsoft, que não faz parte das investigações) vão aparecer juntos pela primeira vez no Congresso para justificar suas práticas de negócios. Segundo os membros do comitê antitruste da Câmara dos Deputados americana, as empresas usaram seu poder para afetar rivais e causar danos aos consumidores.

O depoimento é o maior ataque do governo contra a indústria de tecnologia desde a disputa para quebrar a Microsoft ao meio, as duas décadas. A expectativa é de que seja um espetáculo bizarro, com quatro homens responsáveis por negócios de US$ 4,85 trilhões somados tentando convencer que seus negócios não são tão poderosos assim. Mais: dois deles estão entre os cinco homens mais ricos do mundo - Zuckerberg é o quarto, Bezos é o primeiro.

Além disso, o depoimento será feito todo por videoconferência, em vez de ao vivo. É praticamente o reconhecimento do poder da indústria de tecnologia. "E tem a sensação de ser o momento 'do tabaco' para o setor", diz Gigi Sohn, pesquisadora na escola de direito da Universidade de Georgetown. A frase faz referência a uma sessão do Congresso dos EUA em 1994, quando os líderes de sete marcas de cigarros dos EUA disseram que cigarros não viciavam pessoas.

O depoimento, ponto nevrálgico de uma investigação que já dura 13 meses, será acompanhado em busca de pistas que possam avançar outros casos antitruste contra as empresas. A Comissão Federal do Comércio (FTC, na sigla em inglês), já investiga o Facebook. O Departamento de Justiça pode em breve revelar um caso contra o Google. E uma investigação de advogados gerais dos Estados contra a Apple também parece estar avançando.

A preparação para o depoimento tem sido frenética - mesmo que sua data inicial, prevista para segunda-feira, 27, tenha sido adiada com os rituais para honrar o deputado John Lewis, morto na semana passada. Lobistas de tecnologia têm feito grandes esforços nos bastidores para influenciar as questões que podem aparecer na sessão, prevista para começar às 13h (horário de Brasília).

Nela, os 15 membros do comitê antitruste terão cinco minutos para cada questão. O deputado David Cicilline, democrata de Rhode Island, vai controlar o número de rodadas de perguntas, potencialmente alongando o depoimento noite adentro. A duração também pode variar uma vez que as questões antitruste de cada empresa são complexas e bem diferentes.

O que afeta cada empresa?

A Amazon é acusada de abusar de seu papel de varejista e plataforma para que outras empresas também façam vendas em seu site.

A Apple é acusada de usar seu poder de forma injusta na App Store, a loja de aplicativos do iPhone, para bloquear rivais e forçar aplicativos a pagar altas comissões.

Rivais dizem que o Facebook tem um monopólio nas redes sociais. Além disso, a Alphabet, a empresa mãe do Google, lida com inúmeras acusações, porque o Google é dominante em áreas como anúncios online, buscas e sistemas operacionais para smartphones.

Democratas podem também sair dos trilhos do antitruste e discutir questões como desinformação em redes sociais. Espera-se também que os republicanos abram discussões sobre sua preocupação de que o viés liberal do Vale do Silício censura as vozes conservadoras.

"Havia uma atitude de que estas eram grandes empresas americanas criando empregos e deveríamos deixá-las florescer", disse Cicilline. "Mas há uma série de assuntos sérios que descobrimos ao longo da investigação e não estavam aparentes quando começamos a investigar." As quatro empresas se negaram a comentar o assunto.

Para os executivos, o depoimento será um teste. Bezos, de 56 anos, nunca testemunho perante o Congresso. Cook, de 59, e Pichai, de 48, apareceram uma vez. Já Zuckerberg, de 36 anos, apareceu três vezes no Congresso, falando sobre como o Facebook lidou com violações de privacidade e interferência nas eleições.

Previsto para falar diretamente de sua mansão no Havaí, Zuckerberg preparou seu depoimento com a empresa de advocacia WilmerHale, segundo fontes próximas ao assunto. Um pequeno time de advogados também está trabalhando com Bezos em Seattle, disseram fontes.

Nas últimas semanas, os quatro executivos também conversaram por telefone com os legisladores, disseram três pessoas com conhecimento do assunto e que não estavam a falar publicamente. Além disso, outras empresas também mandaram perguntas aos deputados - o Spotify quer falar sobre a posição da Apple com a AppStore, enquanto um grupo chinês chamado GreatFire quer perguntar sobre a censura de certos aplicativos da Apple na China.

Mas mesmo se o depoimento resultar em mais teatro do que substância, há quem acredita que ele já possa causar riscos - e aumentar a chance de uma regulação pesada surgir em Washington. "Os executivos não querem depor. Ter esse depoimento cria uma sensação de quase-culpa, considerando outros setores que tiveram o mesmo tipo de sessão, como as grandes farmacêuticas, as empresas de cigarros e os grandes bancos", diz Paul Gallant, analista de tecnologia da firma de investimentos Cowen. "Não é uma turma que o pessoal de tecnologia quer ser associado." / TRADUÇÃO DE BRUNO CAPELAS

Estadão
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