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Facebook sabia da Cambridge Analytica desde setembro de 2015, diz documento

E-mails contrariam posição da empresa, que sempre afirmou ter tomado ciência do caso em dezembro de 2015

23 ago 2019 - 16h53
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O Facebook tinha conhecimento da atuação da empresa de marketing político Cambridge Analytica (CA) desde setembro de 2015, mostram novos documentos liberados nesta sexta, 23, pela empresa e pelo procurador geral do Distrito de Columbia (EUA).

A informação contraria o que Mark Zuckerberg, presidente executivo do Facebook, vem sustentando durante toda a apuração do caso. Em abril de 2018, quando foi sabatinado pelo Congresso americano durante 10 horas, Zuckerberg afirmou que ele e sua companhia ficaram sabendo do uso de dados pela Cambridge Analytica em dezembro de 2015, após uma reportagem do jornal The Guardian. A versão vem sendo repetida pela empresa desde então.

"Suspeitamos que muitas dessas companhias estão fazendo tipos similares de coleta, sendo a maior e mais agressiva entre os conservadores a Cambridge Analytica, uma companhia suspeita (para dizer o mínimo) de modelagem de dados que entrou profundamente em nosso mercado", dizia o e-mail de um funcionário enviado em 22 de setembro de 2015. Ele questiona também se a companhia deveria desenvolver respostas específicas para essas situações e também para ajudar a determinar o que a CA estava fazendo.

Em um post com o título "Documento tem potencial para confusão", o Facebook diz que os papéis não mostram nada de novo. A companhia também reafirmou que só tomou ciência das atividades da CA em dezembro de 2015.

A autoridade britânica de dados já havia tido acesso a e-mails de executivos do Facebook anteriores a dezembro de 2015 com preocupações relacionadas ao uso indevido de dados. Não está claro se os documentos na corte americana são os mesmos.

Em 30 de setembro de 2015, um outro funcionário revelou a falta de preparo da empresa para lidar com o caso. Em um e-mail, ele disse não acreditava ter uma política sobre a situação.

De qualquer maneira, o Facebook chegou a um acordo com a Comissão Federal do Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês) no último mês de julho, e pagará uma multa de US$ 5 bilhões, maior multa já aplicada nos EUA a uma empresa de tecnologia. Ainda assim, a companhia respirou aliviada pelo resultado. Isso porque o valor é apenas uma fração da receita do Facebook. No resultado fiscal mais recente, a companhia divulgou ter faturado US$ 16,9 bilhões só entre os meses de abril e junho de 2019.

Entenda o caso Cambridge Analytica

A consultoria Cambridge Analytica operou oficialmente entre 2013 e 2018, e utilizou indevidamente dados de 87 milhões de usuários da rede social durante a campanha de Donald Trump.

Um de seus fundadores é Steve Bannon, uma das mentes por trás da campanha Trump à presidência - hoje, Bannon se encontra afastado de Trump, mas é figura bastante próxima do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O fim de suas atividades aconteceu semanas depois que o The Guardian, junto com o The Observere o The New York Times, ter divulgado que a firma utilizava dados de usuários do Facebook ilegalmente.

O escândalo também afetou gravemente a rede social de Mark Zuckeberg: o caso levou o executivo a ter de depor no Congresso americano durante mais de dez horas e fez o Facebook rever suas políticas de segurança e privacidade. Com isso, a rede passou a prever que teria quedas em suas margens de lucro e receita - o que, em julho de 2018, desanimou investidores e levou o Facebook a perder US$ 120 bilhões em valor de mercado em um único dia.

Estadão
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