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Facebook Papers: nudez na rede social tem grande alcance no Brasil

Documentos vazados da empresa mostram que a percepção dos usuários brasileiros sobre esse tipo de conteúdo é maior do que em países desenvolvidos como os Estados Unidos

27 nov 2021 - 05h57
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Além de ser considerado pelo Facebook como um "país de risco" para a disseminação de discurso de ódio e desinformação, o Brasil também enfrenta problemas com a propagação de nudez na plataforma. De acordo com documentos internos da empresa de Mark Zuckerberg obtidos pelo Estadão, publicações com nudez têm grande alcance na plataforma no País - na comparação com países desenvolvidos, como os Estados Unidos, os usuários brasileiros tendem a notar mais a presença desse tipo de conteúdo.

As informações aparecem nos "Facebook Papers", um pacote de documentos da empresa vazados para um consórcio internacional de veículos de imprensa, incluindo Estadão, New York Times, Washington Post, Guardian e Le Monde. A divulgação foi feita à Securities and Exchange Commission (SEC, na sigla em inglês), órgão regulador das empresas listadas em bolsa nos Estados Unidos. Os arquivos também foram fornecidos ao Congresso americano de forma editada pelo consultor jurídico de Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook que coletou pesquisas internas da rede social após pedir demissão em maio deste ano por discordar das atitudes da companhia.

Um dos documentos, de 25 páginas, avalia qual é a visão dos usuários sobre a circulação de conteúdos com nudez em diferentes países - a ideia da pesquisa, realizada em maio de 2019, era mapear o problema para sugerir mudanças na plataforma condizentes com a realidade de cada região. A análise levou em conta dados coletados nos 90 dias anteriores à publicação.

Com base na percepção dos usuários, o arquivo estuda qual é o alcance de conteúdos com nudez na rede social e qual é o impacto que esse tipo de publicação provoca nas pessoas. Além disso, a pesquisa analisa a prevalência de publicações com nudez que violam as políticas da plataforma e também dos chamados "conteúdos limítrofes", em que a violação das regras não é clara.

Em todas as categorias analisadas, o Brasil, que foi incluído no grupo de "países em desenvolvimento", supera os níveis médios registrados na Europa e em países desenvolvidos, como os Estados Unidos. Quanto à prevalência de conteúdos limítrofes, o País tem um dos maiores índices do mundo, ficando atrás apenas de Venezuela, Colômbia e Nicarágua.

"Enquanto a maioria dos países industrializados tem prevalência (de conteúdo com nudez) muito baixa, identificamos um grupo de países que percebe este conteúdo de forma mais severa", diz o documento. Embora o trecho não especifique quais são esses países, o Brasil não faz parte do grupo de países industrializados.

A pesquisa sugere a criação de normas regionais de moderação de conteúdo, em vez de colocar todas os países sob o mesmo guarda-chuva das políticas globais do Facebook. Assim, segundo o documento, seria possível aplicar diferentes padrões de configuração da plataforma nos países onde há maior percepção de nudez - entre as medidas para conter os problemas, estariam telas de aviso e o desfoque de publicações, por exemplo. Não é possível saber, porém, se a empresa criou políticas de uso personalizadas por país.

"Acho que isso (o estudo) realmente destaca um dos maiores desafios que enfrentamos no espaço de nudez - o fato de que o impacto e o conforto com a nudez são específicos de cada mercado enquanto nossas políticas são globais", comenta um funcionário da empresa no documento. Não é possível saber se a partir do documento foram tomadas medidas para moldar as regras da rede social de acordo com a região.

Em resposta ao Estadão, o Facebook afirma: "As pesquisas mostram a percepção das pessoas sobre o conteúdo que elas veem nas nossas plataformas. Essas percepções são importantes, mas dependem de uma série de fatores, incluindo o contexto cultural. Divulgamos trimestralmente a prevalência de materiais que violam nossas políticas e estamos sempre buscando identificar e remover mais conteúdos violadores."

Estadão
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