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Ex-chefe de comunicações do Facebook assume culpa pela contratação da Definers

A empresa de marketing político Definers Public Affairs foi citada na reportagem do The New York Times na semana passada, que revelou o mais novo escândalo envolvendo o Facebook, sobre como a chefia do Facebook ignorou e minimizou crises dentro da companhia; Elliot Schrage deixou a empresa em junho deste ano

21 nov 2018 - 18h14
(atualizado às 19h11)
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Uma semana após a revelação de que o Facebook contratou uma empresa de marketing político para atacar críticos e concorrentes, o antigo chefe de políticas públicas e comunicações da rede social, Elliot Schrage, assumiu a culpa pela contratação da empresa. O posicionamento de Schrage foi feito em um memorando interno, obtido pelo site TechCrunch.

Na última quarta (15), o jornal New York Times mostrou que Facebook contratou uma empresa chamada Definers Public Affairs para atacar os críticos da empresa e também para espalhar histórias negativas sobre companhias rivais, como o Google. Entretanto, ao assumir a culpa pela contratação, Schrage defendeu o uso da Definers para pesquisas de oposição. O executivo decidiu sair da empresa em junho deste ano, em meio ao escândalo do Cambrige Analytica, que usou sem consentimento os dados de 87 milhões de pessoas para tentar influenciar as eleições presidenciais americanas de 2016.

Diz parte do memorando: "A responsabilidade por essa decisões é da liderança do time de comunicaçoes. Esse sou eu. O Mark e a Sheryl confiaram em mim para lidar com isso sem controvérsia. Eu sabia e aprovei a contratação da Definers e de empresas similares. Eu deveria ter ficado sabendo da decisão deles de expandir suas ações."

O Facebook rompeu com a Definers Public Affairs um dia após a reportagem do jornal, no dia 15. Em uma conferência com jornalistas também no dia 15, o presidente executivo do Facebook Mark Zuckerberg criticou o trabalho da Definers descrito na reportagem, e disse que ele e a chefe de operações da empresa Sheryl Sandberg não sabia sobre as funções da empresa de marketing político.

Zuck não vair sair. O presidente executivo do Facebook Mark Zuckerberg deu uma entrevista ao canal americano CNN na noite desta terça-feira, 20. Nela, Zuckerberg deixou claro que deixar a presidência do conselho "não é o plano", mesmo agora após a repercussão do novo escândalo - a possibilidade de saída foi proposta por acionistas no mês passado.

Uma das perguntas feitas a Zuckerberg foi se ele iria manter Sheryl Sandberg no cargo de chefe de operações - principal posto da companhia depois da presidência - , depois que reportagem a apontou como responsável pela maioria das decisões controversas, como, por exemplo, ignorar a investigação interna a respeito da influência russa nas eleições americanas de 2016. O presidente executivo da empresa elogiou o trabalho de Sandberg: "Ela tem sido uma parceira importante para mim nos últimos dez anos. Estou muito orgulhoso do trabalho que temos feito juntos, e espero que trabalhemos juntos nas décadas que virão"

Além disso, na entrevista Zuckerberg defendeu mais uma vez o impacto positivo da rede social que ele criou. "Certamente haverá questões que precisaremos trabalhar ao longo do tempo, mas acho que, enquanto estamos fazendo isso, não podemos perder de vista todas as coisas realmente positivas que acontecem aqui também", disse na entrevista a CNN.

Uma semana depois. Na última quinta-feira, 15, depois de o Facebook ter desmentido a reportagem em nota em seu blog, Sheryl Sandberg, a executiva mais envolvida na polêmica, também se posicionou individualmente em um postagem no seu próprio Facebook.

Sandberg negou a reportagem, e se posicionou quanto à informação publicada de que a chefia do Facebook desprezou investigações internas sobre a interferência de hackers russos na rede social durante as eleições americanas. A executiva reconheceu que ela e Zuckerberg foram lentos na resposta à interferência russa na plataforma, mas disse que "sugerir que não estávamos interessados em saber a verdade, ou queríamos esconder o que sabíamos, ou que tentamos impedir investigações, é simplesmente falso".

Uma reportagem do Wall Street Journal publicada nesta segunda, 19, informou que Zuckerberg chegou a culpar Sandberg pelo escândalo Cambridge Analytica, o que a deixou abalada e a fez temer uma demissão. Em sua última entrevista na CNN, Zuckerberg em nenhum momento sinalizou discordâncias com a executiva.

De acordo com o site Business Insider, Patrick Walker, executivo do Facebook na Europa, Oriente Médio e África, afirmou que Sandberg continua sendo uma figura respeitada internamente na empresa. "Ela faz um trabalho muito difícil", disse.

Alex Stamos, principal executivo de segurança do Facebook, que foi o responsável por essas investigações internas sobre a interferência de hackers russos na rede social durante as eleições americanas, publicou um artigo no Washington Post no último sábado, 17, em que negou que a chefia da empresa tenha ignorado e desencorajado o seu trabalho. Entretanto, ele reconheceu que a companhia cometeu erros: "O Facebook deveria ter respondido a essas ameaças muito antes e lidado com a divulgação de uma maneira mais transparente".

Um outro episódio da semana foi a conferência de Zuckerberg e os principais executivos da empresa com os funcionários do Facebook de todo o mundo na última sexta-feira, 16. Na ocasião, reportada pelo The New York Times, os líderes do Facebook defenderam a empresa enquanto criticaram a reportagem sobre o escândalo, e alguns funcionários chegaram a dizer que a imprensa está perseguindo o Facebook devido à sua influência.

Quando funcionários perguntaram qual seria a postura da empresa em relação ao vazamento de informações por pessoas dentro da empresa, Zuckerberg deixou claro que o Facebook não hesitaria em demitir funcionários que falassem com o The New York Times ou outras publicações.

O novo escândalo atraiu a atenção até mesmo de anunciantes, o lado financeiro do Facebook. "Agora sabemos que o Facebook fará o que for preciso por dinheiro. Eles têm absolutamente nenhuma moral", disse Rishad Tobaccowala, diretor da Publicis Groupe, uma das principais empresas de anúncios do mundo, em entrevista ao The New York Times.

Como o escândalo também envolve o poder de lobby do Facebook junto a políticos americanos para tentar amenizar os desdobramentos da crise russa e do escândalo da Cambridge Analytica, a revelação abalou o mundo político. De acordo com o site Recode, senadores americanos pediram para o Departamento de Justiça investigar o Facebook.

Estadão
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