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'Cultura gamer faz fãs na Twitch gerarem mais dinheiro', diz Lucas Silveira, da Fresno

Líder da banda acredita que a tradição de doação financeira na plataforma pode se tornar uma frente importante de receita para artistas

2 ago 2020 - 05h10
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Lucas Silveira (sentado ao centro) aponta a importância da cultura de doação na Twitch  
Lucas Silveira (sentado ao centro) aponta a importância da cultura de doação na Twitch
Foto: Fresno/Divulgação / Estadão

A Fresno, uma das principais bandas brasileiras na virada da década passada, é nativa digital - passou de Fotolog e Orkut a Facebook e Twitter com a tranquilidade de quem caminha em um parque. Agora, o grupo aposta as fichas na Twitch, plataforma de streaming comprada por US$ 970 milhões pela Amazon em 2014.

Usuário desde 2016, Lucas Silveira, vocalista da Fresno, acredita que há características na plataforma que podem abrir fontes de receita importantes para artistas, principalmente em tempos de escuridão e silêncio para a indústria de shows. Em depoimento ao Estado, Lucas explica a importância da cultura de doação financeira para produtores de conteúdo da plataforma, algo que contrasta com a tradição dos consumidores de música das últimas duas décadas de ter acesso a quase tudo pelo menor valor possível.

Na conversa, o cantor também analisa pontos da indústria musical e dos custos atrelados a ela. Confira os melhores momentos:

"Por volta de 2016, comecei a me juntar com pessoas de outras bandas para jogar. No dia 1 da quarentena, cheguei para os caras da Fresno e avisei que tinha criado um canal da banda na Twitch, o que poderia abrir ali uma janela para o nosso dia-a-dia. Isso coincidiu com os esforços da plataforma de levar músicos brasileiros.

Virou um braço do trabalho atual da Fresno, especialmente porque show não existe mais. Estou substituindo as horas de trabalho dedicadas para um show. Estou tentando fazer disso um negócio que nos mantenha motivados e que rentabilize o tempo gasto ali. Lá, conseguimos monetizar o superfã.

Quando você lança uma música no Spotify, não importa o quanto uma pessoa seja fã, ela vai ouvir essa música muitas vezes, mas não vai conseguir te ajudar suficientemente. A Twitch oferece ferramentas para doação e essa é uma cultura que vem dos games. Em música, você pede dinheiro e as pessoas respondem: 'cala a boca e vai tocar'. Em um disco, você gasta R$ 30 mil e as pessoas acham que isso volta. É uma cultura antiga, de gravadora. Música é prejuízo atrás de prejuízo.

Os próprios artistas têm aquela postura de 'não vou fazer um crowdfunding porque as pessoas vão perceber que estou em dificuldade'. As iniciativas antigas de crowdfunding que acabaram dando certo foram aquelas que as pessoas ficaram com pena do artista e acabaram ajudando.

Na Twitch, a pegada é outra. Se você tiver um público fiel, 50 pessoas que seja, e conseguir monetizar esses 50 superfãs, eles vão dar mais retorno que os plays do Spotify. É mais rápido chegar a US$ 1.000 na Twitch do que no Spotify.

Não sei se um dia o esquema de doação e apoio da Twitch vai cair nas graças de um sertanejo, pois a maioria dos fãs desses artistas têm uma relação bastante impessoal com música. Claro, todos esses artistas têm muitos seguidores, e um Lucas Lucco conseguiria monetizar milhares deles, mas não sei se essas pessoas sentem que precisam fazer isso. Além disso, em um cenário de não pandemia, o cara faz 28 shows por mês e não tem tempo para porra nenhuma. É natural que a galera do rock, do eletrônico e do alternativo procurem algo novo.

Essa receita, porém, ainda não substitui o que ganhamos com shows, mas a própria ideia de shows precisa ser revista. O show de rock é um negócio muito caro de ser feito, e é por isso que ficou elitizado. Daqui a pouco, vamos falar de bandas como se fala de orquestras por causa do custo. 'Lembra quando a gente montava um palco, um PA, para ver uma hora de barulheira, com microfonia e tudo errado?'.

Às vezes, penso que em vez de fazer um turnê de lançamento passando pelo Brasil inteiro, podemos fazer menos shows e ter uma grande live. Em vez de ter mil pessoas em muitos shows, vai ter 100 mil em uma grande live e poderíamos ter o faturamento de 10 shows. Em cenário de retorno à normalidade, é possível também fazer o show e transmitir os bastidores, ou o próprio show. O artista tem que se ligar e abrir o máximo de frentes possíveis e ter máximo controle do material."

Estadão
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