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Cidades inteligentes no Brasil são possíveis?

Especialistas defendem que o conceito de cidade inteligente está mais próximo de ações para a qualid...

25 jun 2019 - 14h38
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Cidades movidas à tecnologia, com aplicativos integrando a população com os serviços públicos, wi-fi gratuito nas ruas e melhor aproveitamento dos espaços e recursos, esse é o cenário que vem à mente da maior parte das pessoas quando falamos em cidades inteligentes.

O conceito, porém, pode estar mais próximo da realidade que vivemos nas cidades brasileiras hoje do que isso. Muito além da tecnologia, especialistas defendem que o significado de cidade inteligente é amplo e indefinido. A consultora de cidades inteligentes na Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), Thaís Nahas explica.

"Existem várias ideias do que seriam as cidades inteligentes, as empresas de tecnologia dizem que são cidades totalmente tecnológicas, mas existe também o conceito de que são cidades para as pessoas. A gente tem que começar com as pessoas, seu entendimento sobre o lugar em que moram e integração com a cidade, depois disso, podemos usar a tecnologia para tornar os serviços mais eficientes", comenta..

Como se faz uma cidade inteligente

O pesquisador Ph.D em Urbanismo norte-americano Boyd Cohen defende que desenvolvimento tecnológico e a integração social fazem parte das três gerações de cidades inteligentes. Não necessariamente todos os municípios que se propõem a desenvolver projetos com base neste conceito passarão pelos três estágios.

O teórico defende que a primeira geração é a top-down, quando tecnologias de ponta são inseridas dentro das cidades. Nesse caso, o desenvolvimento, geralmente, é encabeçado por empresas de tecnologia.

A segunda geração é liderada pelo governo em instâncias municipais, estaduais ou federais. Nela, os governantes implantam tecnologias que ajudam a fazer a gestão da cidade e que melhoram o acesso a serviços e ambientes públicos.

Por fim, a terceira é baseada no conceito de governança em rede, quando líderes locais se unem à gestão da cidade e empresas para pensarem juntos nas necessidades e realidades da região.

(Fonte: TecMundo / Silmara Slobodzian)
(Fonte: TecMundo / Silmara Slobodzian)
Foto: TecMundo

As gerações representam as diferentes formas como um projeto de cidade inteligente pode ser pensado. Cohen defende que o melhor modelo é o que une eficiência econômica, qualidade de vida e sustentabilidade.

Como pensar cidades inteligentes no Brasil

Thaís aponta que, independente do modelo de cidade inteligente escolhido por uma determinada região, o primeiro passo é ter dados sobre a população a fim de pensar em soluções realmente acessíveis e úteis. "Pensando no transporte, é preciso entender como as pessoas se locomovem, de onde vem e para onde vão, qual modal utilizam, para criar uma solução inteligente".

A consultora ainda defende que não vê cidades inteligentes hoje ainda no Brasil, o que existe são projetos pontuais que englobam um bairro ou um serviço dentro deste conceito. Os bairros projetados pela Planet são um exemplo.

A empresa ítalo-britânica pretende construir 10 regiões inteligentes no Brasil até 2022. Apesar do título do projeto trazer o termo smart city, operacionalmente a empresa constrói bairros abertos adequados a cada região a fim de oportunizar a democratização do acesso ao conceito de cidades inteligentes.

"Muitos projetos de cidades e regiões inteligentes são pensados para pessoas ricas, o conceito que defendemos é de cidade ao alcance de todos, em que pessoas com diferentes faixas de renda possam morar perto, o que gera em termos de inclusão e segurança números fantásticos", explica Susanna Marchionni, CEO da Planet no Brasil.

Funciona assim: a empresa adquire um terreno de no mínimo 160 hectares, constrói uma infraestrutura moderna com lâmpadas de led e acesso a wi-fi, por exemplo, e vende os lotes. Aos moradores da região, se dá o acesso a um aplicativo por onde podem verificar os acontecimentos do bairro, como horário de cinema ou festas, trocar serviços e informações, além de pedir ajuda se necessário.

(Fonte: Planet/ Divulgação)
(Fonte: Planet/ Divulgação)
Foto: TecMundo

A tecnologia é desenvolvida na Itália e Susanna garante que os dados dos usuários não são usados a fim de gerar renda. A monetização, portanto, ficaria a cargo de ofertas especiais para os moradores do bairro anunciadas via aplicativo com comissão para a Planet e venda dos lotes e casas.

A infraestrutura do bairro permite que os serviços sejam mais integrados e tem como objetivo levar estas facilidades a pessoas de diferentes classes sociais. Susanna salienta que "existe uma interação social muito grande no projeto, todos os lotes têm o mesmo valor, não privilegiando áreas nobres".

O projeto piloto foi construído em São Gonçalo do Amarante (CE), em uma área de 330 hectares e um custo total de US$ 50 milhões. Até agora foram entregues 90 hectares e as primeiras famílias se mudaram em janeiro, existem casas disponíveis a partir de RS 100 mil. Um novo projeto será construído em Natal com aportes de R$ 140 milhões e deverá abrigar 15 mil pessoas. Além disso, o terreno mínimo é um lote de 200m².

Com a intenção de levar o conceito de cidades inteligentes para bairros acessíveis a todos, o projeto é aberto, o que significa que não existem portões entorno e que a manutenção da infraestrutura entregue é de responsabilidade das prefeituras locais.

(Fonte: Planet/ Divulgação)
(Fonte: Planet/ Divulgação)
Foto: TecMundo

Aproximando conceito e realidade

Mais do que cidades como a dos Jetsons, o conceito de regiões inteligentes envolto nos projetos pensados para o Brasil precisam ser inclusivos e entender as diferentes realidades presentes nas cidades.

Pensado para pessoas, um projeto inteligente é o que alia tecnologia a melhor execução de serviços públicos e qualidade de vida, dentro de um ambiente com infraestrutura para que todos possam aproveitar os benefícios.

Thaís conclui que para alcançar este conceito não necessariamente é preciso de tecnologia, o importante é oferecer os serviços com qualidade. Para ela, uma cidade não alcança o título de inteligente é preciso uma construção constante. "É como quem diz 'alcançamos a felicidade', fazendo uma analogia, não existe um momento em que se diz 'alcançamos um modelo de inteligência' é uma construção sempre", finaliza.

TecMundo
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