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China dá pistas do futuro do e-commerce no Brasil, diz diretor da AliExpress no País

Para Yan Di, expansão do comércio eletrônico durante a pandemia por aqui é bem parecida com o crescimento do setor no país asiático durante a Sars, em 2003

28 out 2020 - 13h03
(atualizado às 13h31)
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A veloz expansão que o varejo eletrônico do Brasil está sofrendo em 2020 com a pandemia do novo coronavírus é muito parecida com o que a China viu em 2003, com a epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, na sigla em inglês), na visão de Yan Di, diretor do AliExpress, marketplace internacional do Grupo Alibaba no País. "De certa forma, a China hoje oferece pistas de como o e-commerce brasileiro será daqui 20 anos", comenta o executivo, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Di fala que há algumas semelhanças entre as situações vividas pelos dois países: foi o isolamento causado pela epidemia de SARS, no início dos anos 2000, que impulsionou a criação do Taobao, o site de e-commerce do grupo fundado por Jack Ma que se tornou o principal da China. Também deram seu quinhão de contribuição os problemas de infraestrutura que o país asiático tinha na época e que criavam um gargalo para o setor. "Isso tudo é um processo que leva anos até se consolidar", diz.

Assim como seus principais concorrentes no Brasil - Magazine Luiza, Mercado Livre, B2W, Amazon e Via Varejo -, a operação local do AliExpress viu um aumento expressivo nas receitas por conta das medidas de isolamento social. O executivo não revela números, mas diz que em alguns segmentos considerados relevantes, o crescimento chegou a 130% na comparação com o mesmo período do ano passado. E ele vê um potencial de crescimento ainda maior, dada a baixa inserção do e-commerce no varejo total.

Na visão do executivo, o desafio agora é criar uma experiência de usuário melhor para o cliente brasileiro. Segundo ele, o AliExpress vem tomando medidas para adaptar-se à realidade local. "Nossas pesquisas mostraram que 42% dos usuários consideram o frete grátis como um dos principais fatores para realizar uma compra, então diminuímos o valor mínimo de US$ 30 para US$ 14 (cerca de R$ 70) por pedido para liberar a gratuidade", exemplifica. A empresa também adotou atendimento com profissionais que falam em português, substituindo o atendimento por chatbots, e facilitou a devolução de produtos.

Logística é desafio, diz executivo

Um obstáculo que ainda parece longe de ser superado na visão de Di é o desafio logístico que o Brasil impõe. "Hoje, demora mais movimentar um produto dentro do País do que trazê-lo até a fronteira", diz. A primeira parte do traslado foi resolvida há alguns meses, quando a empresa anunciou a contratação de três voos fretados semanais para trazer os produtos da China, o que diminuiu o prazo de entrega para, em média, 30 dias. Em grandes centros urbanos, como São Paulo, o intervalo cai para 10 dias.

"A condição precária da infraestrutura interna do Brasil se tornou o maior gargalo de nossos serviços", comenta. Segundo ele, além dos Correios, o AliExpress também está aumentando as parcerias com players logísticos locais e os investimentos em tecnologia para aumentar a eficiência de sua cobertura. Yan Di não comentou notícia veiculada há algumas semanas sobre possível interesse do Grupo Alibaba em comprar os Correios caso a estatal seja privatizada.

Público empreendedor

Além dos desafios logísticos, a adaptação do AliExpress ao mercado brasileiro também passa pelo engajamento do público. De acordo com o executivo, a maior parte dos usuários tem menos de 35 anos e gastam, em média, R$ 1,9 mil por mês no varejo eletrônico, 37% acima da média do mercado. "Uma tendência que vimos é a de brasileiros que compram produtos em grandes quantidades no AliExpress para revender em outros marketplaces. Não achamos isso ruim de jeito nenhum", comenta Di.

Uma das formas de aproveitar esse público empreendedor, na visão do executivo, é apostar no chamado 'live commerce' (comércio ao vivo, em tradução livre), que nada mais é do que chamar usuários ou influenciadores que usam redes sociais para promover a venda de produtos do AliExpress. "Esse é um mercado que o Alibaba criou na China, e há a expectativa de movimentar US$ 157 bilhões até 2021", diz, afirmando que essa aposta também se dá pelo fato de o brasileiro ter forte presença nas redes sociais.

O executivo vê que uma das tendências que a pandemia vai deixar para o varejo eletrônico é um aumento da popularização do modelo 'omnichannel' ou O2O (online to offline), onde há uma integração de plataformas eletrônicas com lojas físicas. "O varejo físico é uma realidade brasileira que não vai mudar tão cedo, então as iniciativas O2O vão ganhar cada vez mais força", destaca Di. Ele fala que este é um passo natural para o AliExpress, que tem lojas físicas na China e na Europa, e pretende se inserir futuramente neste nicho por aqui.

Meta é tornar Dia dos Solteiros conhecido no Brasil

A festividade do Dia dos Solteiros, comemorado na China no dia 11 de novembro, é a principal data do e-commerce chinês - e foi popularizada pelo Alibaba. Em 2019, as vendas na data somaram US$ 38,4 bilhões, três vezes mais que o faturamento total do e-commerce brasileiro em 2019 e cinco vezes mais que a Black Friday americana. O desafio, agora, é tornar a data tão conhecida aqui no Brasil quanto na China, segundo o country manager da AliExpress.

"Na China, o 11 de novembro se tornou famoso porque é mais que uma data de vendas, se tornou uma celebração cultural", comenta. Este ano, a empresa fixou a marca 11.11 (Double Eleven), e está elaborando uma campanha para adaptar a festividade para a cultura brasileira, unindo entretenimento e descontos. "Nos últimos dez anos, a data foi meramente comercial aqui no País. Mas os descontos sempre existem. Queremos que a data entre na cabeça do cliente de e-commerce brasileiro."

Estadão
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