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Celular Huawei Nova 5T dobra aposta onde chinesa já acertou

Lançado em abril, modelo intermediário da fabricante custa R$ 3 mil e busca se aproveitar de vantagens do P30, topo de linha lançado pela chinesa aqui - incluindo serviços do Google

10 jul 2020 - 05h12
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O Nova 5T, celular da Huawei que chegou ao Brasil por R$ 3 mil no final de abril, causa aquela sensação de "a gente se conhece de algum lugar, né?". Bom, se o usuário teve contato com a linha P30, que marcou no ano passado o retorno da fabricante chinesa ao País, é possível que sim.

O dispositivo recicla muitos dos recursos vistos no topo de linha da chinesa, incluindo o processador Kirin 980 e os recursos de software para fotografia. É o primeiro celular lançado pela marca no Brasil em 2020. O 5T do nome faz referência às suas cinco câmeras - uma para selfies e um conjunto traseiro com quatro lentes. Ele havia sido lançado em outubro passado na Europa, então por que a demora? Para a reportagem, a empresa disse: "Como marca global, precisamos estar adequados aos regulamentos de cada país em que lançamos nossos produtos. Às vezes, leva mais tempo em algumas regiões, é por isso que não conseguimos manter o mesmo ritmo em todos os países".

Quando se trata de celulares da Huawei, uma das principais questões é se eles terão os serviços do Google, afinal desde maio de 2019 a fabricante está numa lista de restrições do governo dos EUA e não pode manter negócios com empresas país. No lugar, a Huawei instalou seus próprios aplicativos, mas comprar um celular Android e não poder ter os apps do Google seria o mesmo que ir a uma churrascaria rodízio e ter que se satisfazer com a salada.

Felizmente, o Nova 5T não sofre do problema - é possível que a companhia tenha obtido as licenças de uso antes do corte promovido por Donald Trump (e o hardware mais 'antigo' visto em outros aparelhos da empresa deve colaborar com isso). Ele ainda tem os serviços do Google, naquele que deve ser um dos últimos suspiros da parceria - questionada sobre o assunto pela reportagem, a empresa se esquivou e disse apenas "Estamos investindo recursos substanciais para oferecer a melhor experiência possível aos consumidores e desenvolvedores de aplicativos. O feedback que recebemos é incrivelmente positivo e mostra que estamos no caminho certo".

Para o usuário, o importante a saber é que Google Maps, YouTube, Google Drive, Gmail e a PlayStore estarão disponíveis - a combinação ainda tem Android 9 com a interface EMUI 9.1. As interferências da Huawei no Android são mínimas, assim como os apps pré-instalados. Encontrar só Netflix e uns apps tipo gravador e bloco de notas não são problema. Ponto para a Huawei.

Joinha para o leitor de digital

O Nova tem um corpo de classe: ele é todo de vidro e o modelo testado é preto. Há ainda uma fileira vertical com as quatro câmeras na traseira. Na parte frontal, o design mantém só um furo para a câmera, como alguns concorrentes da Motorola, Samsung e Xiaomi já fazem. O corpo passa bastante sensação de leveza. São 174 gramas. Já a tela LCD de 6,26 polegadas e resolução de 2.340 x 1.080 pixels vai bem. Tem boa definição e exibição de cores.

O design também tem uma experiência digna do meme do Chico Buarque: ele tem leitor de digital (alegre), mas não tem entrada para fone de ouvido (triste). O leitor digital merece um comentário à parte: ele fica posicionado na lateral direita do celular, no ponto onde o dedão costuma aterrissar quando você pega o telefone. Isso garante um desbloqueio ligeiro - é uma solução muito esperta e é mais uma prova para questionar os motivos de certos fabricante (alô, Apple) terem desencanado do método.

Antes que alguém levante para dizer que a Apple prefere o reconhecimento facial, já vou dizendo que o Nova também tem. Mas a Huawei é mais aberta sobre a eficiência da tecnologia. Quando o usuário cadastra o rosto, o celular avisa que, talvez, a tecnologia não funcione sempre tão bem e sugere combinar o desbloqueio facial com o digital.

Nos testes, o desbloqueio facial não funcionou em duas situações óbvias: uma delas é em ambientes totalmente escuros. Em baixa luminosidade, os resultados foram medianos. A segunda é quando o rosto é coberto com máscara (feita com duas camadas de algodão, ideal para proteger contra covid-19; não esqueça da sua!). A combinação de reconhecimento facial e digital, porém, garante que não tem enrosco para desbloquear o celular.

Bateria e performance

Com 8 GB de memória e o Kirin 980, chip que já foi topo de linha, o Nova se sai bem e não engasga. Isso inclui games, que é um segmento mirado pela empresa com o lançamento. Em nossos testes, jogamos muito e não houve qualquer gargalo.

O mesmo vale para transições e inicialização de apps. O celular, inclusive, permite o recurso de tela dividida, uma ferramenta já encontrada em aparelhos de marcas como Samsung e Xiaomi. É só apertar e segurar o botão quadrado na barra inferior que dois apps ficam ativos na tela ao mesmo tempo. Ainda que o espaço não torne muito confortável usar dois apps ao mesmo tempo, é interessante ver o telefone executar isso com suavidade.

A performance pode indicar impacto na bateria, mas o que vimos foi uma performance bastante satisfatória - a capacidade é de 3.750 mAh. Com apenas 67% de bateria, tive oito horas de autonomia. Evidentemente, esses números cresciam com a carga completa. Vale fazer a ressalva de que os testes foram todos feitos dentro de casa, por conta da pandemia. Isso significa que os usos de rede móveis e GPS, dois conhecidos glutões de bateria, estão reduzidos, o que aumenta a autonomia.

Ainda assim, é possível dizer que o Nova foi bem no teste da bateria. Melhor ainda é o seu carregador padrão de 22,5W. Com uma tecnologia batizada de Huawei SuperCharge, ele garante carregamento rápido. Em apenas 50 minutos, foi possível conseguir carga total.

Fotos: hoje não, Faro!

Por ser uma espécie de P30 reciclado, o sistema de fotos do Nova causa expectativa. O telefone do ano passado tinha um dos melhores conjuntos do mercado. O Nova tem uma câmera a mais que o P30. São quatro câmeras na traseira (48 MP, lente grande angular de 16 MP, lente macro de 2 MP e lente bokeh de 2 MP) contra três do antecessor ( 40 MP, 20 MP e 8 MP). Além disso, o novato ainda carrega os recursos de IA e software também encontrados no P30. Então, eu compraria o Nova apenas pela câmera? "Hoje não, Faro".

Não que os resultados sejam ruins, mas não há nada de especial de maneira geral. O modo noturno funciona muito bem. O modo retrato também desfoca o fundo com eficiência. Para quem gosta, há também o modo embelezador que remove rugas, manchas, pés de galinha e outras imperfeições faciais - claro, se você nasceu feio mesmo, ele não faz milagre. Em locais iluminados, ele também está longe de passar vergonha, fazendo um trabalho interessante nas cores.

Porém, em algumas situações, faltou definição na imagem. O Nova também costuma saturar as cores. Nem sempre é ruim, mas quando não funciona incomoda bastante. O software tem a opção de IA para identificar objetos para supostamente escolher o melhor modo de foto - alguns resultados foram bastante artificiais, na maioria das vezes. Talvez você conclua que seja melhor manter a ferramenta desativada.

Sem o zoom óptico do P30 e uma lente macro que não reproduz os mesmos resultados do irmão, utilizar qualquer um desses recursos não é lá muito inspirador. Já a câmera de selfie com 32 MP faz um bom trabalho, com cores interessantes e boa definição. Mas aqui, o recurso de embelezamento costuma estar no talo. Vale desativar.

Os vídeos são filmados em 4K e para dar conta de todo esse conteúdo, o Nova tem 128 GB de armazenamento. É bom, claro. Mas ele não tem entrada para cartão de memória caso precise de mais. No geral, todo o kit de câmera deixa um gostinho de que poderia ser melhor.

Ele não é o P30

Considerado todo o pacote, o Nova 5T é uma opção interessante. Ele tem performance, bateria, hardware e recursos de software que, juntos, valem o preço - e não esqueça do pacote do Google. Isso demonstra uma mudança de estratégia da empresa no País, que inicialmente planejava uma entrada com modelos topo de linha.

Questionada, a empresa tergiversou sobre a mudança de estratégia. "Nossa estratégia é e sempre será: ouvir as necessidades e demandas dos consumidores e fornecer a melhor experiência". Pelo visto, a resposta do brasileiro foi a de sempre: abaixa o preço e me dá alguma coisa decente.

Se a ideia é apostar no Nova apenas pela câmera, algo que faria sentido no P30, segura a onda, irmãozinho. O caminho para o sucesso é entender essa ferramenta dentro do pacote geral do aparelho. Sob essa ótica, o Nova mostra que a Huawei pode oferecer bons aparelhos por preços mais competitivos, o que pode garantir uma capacidade maior para a empresa brigar pelo nosso mercado.

Claro, o futuro da Huawei no País depende também de sua capacidade de continuar oferecendo os serviços do Google. Porém, se tudo der errado, o Nova 5T terá proporcionado uma despedida digna.

Estadão
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