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Coreia do Norte estaria vendendo tecnologia até mesmo para países inimigos

18 mai 2018 - 13h36
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Um relatório publicado por uma organização especializada em estudos sobre armas de destruição em massa revelou que a Coreia do Norte tem usado empresas de fachada, nomes falsos e outros artifícios do tipo para vender tecnologia e serviços a países, muitas vezes, inimigos. Entre os clientes estariam empresas, serviços de inteligência e autoridades policiais de países da África, Europa e Ásia, além dos Estados Unidos.

Foram negociados, por exemplo, sistemas de reconhecimento facial e biometria, VPNs, plataformas de criptografia para transmissão de dados e até mesmo serviços de design. Indivíduos e pequenas empresas contrataram as companhias de fachada para criação de sites e identidades visuais, mas a esmagadora maioria dos clientes, provavelmente, nem mesmo sabiam estar negociando indiretamente com a Coreia do Norte.

Esse é um indício bastante forte, principalmente, quando se leva em conta que boa parte dos países que utilizaram os serviços da nação asiática possuem tratados que impõem sanções a Pyongyang por conta de seu programa de armas nucleares. Os Estados Unidos, por exemplo, fazem parte da lista de clientes, com escolas primárias e agências policiais tendo contratado serviços das empresas de fechada norte-coreanas.

Também fazem parte da lista de clientes companhias do setor privado da Malásia, França, Alemanha e Inglaterra, além de fabricantes de smartphones e computadores da China ou setores do governo nigeriano. Em alguns casos, os fornecedores se disfarçaram de organizações sem fins lucrativos, enquanto em outros, a fachada era de companhias legítimas, sediadas na Índia. Países como Turquia, Japão, Rússia, Canadá e Argentina também teriam negociado com as companhias de fachada, apesar de tais operações não terem sido confirmadas.

As revelações são do Centro de Estudos para Não-Proliferação James Martin, uma entidade ligada à Universidade de Midlebury, nos EUA. A história da origem destas descobertas, inclusive, é curiosa. Em 2017, uma companhia chamada Global Communications, fornecedora de rádios de comunicação para uso militar, foi revelada como parte das operações de espionagem da Coreia do Norte. Na mesma época, outra empresa, a Future TechGroup, chamou a atenção dos pesquisadores por conta de indícios de influência norte-coreana em seu site oficial.

Foto: Canaltech

Versões armazenadas em cache, por exemplo, revelaram que, inicialmente, o domínio era usado para divulgar técnicas de cultivo de cogumelos, uma atividade econômica popular no país asiático. Além disso, nos servidores, foram encontrados softwares de tradução do coreano para diferentes idiomas, bem como gravações musicais de bandas da Coreia do Norte interpretando canções como Gonna Fly Now, da série Rocky, e My Way, de Frank Sinatra. As canções foram apresentadas em um evento realizado em homenagem a Kim Jong-un.

Como parte da operação para dar legitimidade à companhia, a Future TechGroup também participou de concursos internacionais de desenvolvimento, tendo, inclusive, recebido um prêmio durante um evento desse tipo, na Suíça. Seu sistema de reconhecimento facial foi cadastrado na competição por uma organização sem fins lucrativos sediada nos Estados Unidos, com os organizadores, também, não tendo a menor ideia de que se tratava de uma tecnologia norte-coreana.

Outro aspecto apontado pelo estudo é o desaparecimento rápido das empresas no momento em que suspeitas de sua ligação à Coreia do Norte surgiam. Enquanto algumas das companhias estavam disponíveis durante a investigação, outras sumiram, possivelmente, de forma relacionada à revelação de que a Global Communications estava ligada a atividades de espionagem. A universidade aponta ainda para a possibilidade de mais fachadas ainda não descobertas, cujos negócios podem estar, inclusive, em andamento.

O relatório, por fim, apona para o fato de que as agências de segurança internacionais subestimam o desenvolvimento tecnológico da Coreia do Norte. O processo de especialização do país, voltado, principalmente, para atividades de espionagem e ataques cibernéticos, estaria em andamento desde o final dos anos 1980, como forma de não apenas financiar o governo, mas também de obter informações que possam auxiliar em movimentações estratégicas ou voltadas para o belicismo.

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