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"Todos deveriam usar ferramentas de pirataria e contravenção", diz EFF

EFF: 'todos devem usar ferramentas de pirataria e contravenção'

30 jan 2013 - 16h53
(atualizado em 13/2/2013 às 19h23)
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A diretora de ativismo da Electronic Frontier Foundation (EFF), organização que defende a liberdade de expressão e direitos civis, afirmou nesta quarta-feira que "todos nós devemos usar programas de pirataria e contravenção". Em palestra no palco principal da Campus Party Brasil, Rainey Reitman afirmou que o uso desses serviços não deve ser só em momentos de gosto ou necessidade, mas constante, porque um maior volume de usuários ajuda a dificultar identificar pessoas específicas, o que significa "proteger aqueles que realmente precisam dessas ferramentas".

Rainey Reitman, diretora de ativismo da Electronic Frontier Foundation, participou da Campus Party
Rainey Reitman, diretora de ativismo da Electronic Frontier Foundation, participou da Campus Party
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

A primeira parte da conversa com os campuseiros no Parque Anhembi foi dedicada a detalhar as diferentes formas de censura e vigilância que os governos usam, segundo Rainey, para "espionar ilegalmente os cidadãos". "Em muitos países, incluindo muitas democracias, essa vigilância é feita sem o conhecimento do público", alertou a diretora de ativismo da EFF.

Para pensar no contra-ataque que os usuários podem fazer às atividades consideradas cerceadoras da liberdade de expressão online - tema central da palestra -, Rainey também lembrou que há "espaços na internet controlados por empresas", que são essas companhias que fazem as escolhas sobre os direitos dos usuários da web.

"As pessoas tem usado e-mail, serviços de mensagem instantânea - inclusive aqueles dentro de rede sociais -, e falado sobre tudo de suas vidas, famílias, religião, negócios. Mas esses dados podem ser interceptados", argumentou. A diretora de ativismo da EFF também citou programas usados por governos para interceptar essas comunicações interpessoais e depois usá-las para perseguir ativistas.

Além das ferramentas, Rainey mencionou estratégias estatais para coibir a expressão de ideias opostas às dos que estão no poder. Entre elas, disse, está a de dificultar o acesso à internet. Mas elas podem ser mais sutis também, continua, como a da China, em que o governo incentivou sites nacionais "clones" do Facebook e do Twitter, proibidos no país. "Como há alternativas nacionais e todo mundo as usa, os chineses tentam menos ativamente acessar os sites internacionais!", detalhou. A diretora da EFF ainda mencionou a "privatização da censura estatal", caso em que empresas particulares autocensuram seus sites para que não sejam bloqueados por mecanismos censores como o chinês.

Rainey lembrou os protestos contra o Sopa e o Pipa, projetos de lei americanos que permitiriam tirar do ar sites como Facebook e YouTube se algum usuário infringisse direitos de autoria. Por causa de pressão popular, online e nas ruas, os dois projetos foram abandonados. Para ela, os resultados da mobilização dos usuários são uma esperança para o futuro da internet.

Contra-ataque

A diretora de ativismo da EFF encerrou a palestra indicando ferramentas para quem quer combater a censura e a vigilância online. A primeira mencionada é o Tor, que mascara o endereço de IP do usuário ao transmitir dados por servidores aleatórios espalhados pelo mundo. Rainey lembrou que durante a Primavera Árabe o uso da rede cresceu exponencialmente, graças aos ativistas que tentavam se esconder no espaço virtual. Ela também explicou que, como o sistema depende de 'nós' voluntários, quem quiser ajudar também pode se dispor a ser um nó, o que permitiria à rede ser mais rápida e angariar mais usuaários.

Para evitar ter as mensagens instantâneas gravadas pelas empresas que oferecem serviços de bate-papo, quando os dados passam por seus servidores, ela indicou o Pidgin. "Os dados são encriptados antes de serem enviados ao servidor do serviço, então mesmo que as empresas entreguem esses dados ao governo, ele não cosneguirá ler o que você escreveu", detalhou. "O programa tem bugs, mas não podemos também lutar sozinhos, precisamos que a comunidade de segurança se junte a nós", conclamou.

A terceira sugestão é a extensão HTTPS Everywhere, para Google Chrome e Mozilla Firefox, que também serve para encriptar a comunicação entre o computador do usuário e os servidores dos sites que acessa. Mas, lembrou Rainey, é preciso que os donos dos sites habilitem a opçção de uso do HHTPS. Por isso, ela citou como forma de ativismo, também, entrar em contato com as empresas cujos sites o usuário acessa para que elas habilitem a opção em suas páginas na internet.

Por fim, Rainey falou do TOSBack, ferramenta de rastreamento de Termos de Serviço (TOS, na sigla em inglês) de sites populares. O recurso busca esses sites e faz uma cópia dos termos de serviço, "que mudam muito" e muitas vezes sem que o usuário saiba ou se dê conta. É uma plataforma open source, mas que no momento está desativada, segundo a diretora da EFF, porque as empresas têm tentado dificultar o acesso da ferramenta aos Termos de Serviço. Na noite desta quarta-feira uma maratona hacker buscará uma forma de conseguir reativar a plataforma.

Após a palestra, Rainey foi questionada sobre o Marco Civil brasileiro, e reforçou a importância de "os usuários de internet se envolverem nessas discussões". Ela também defendeu a criação de uma organização de defesa da liberdade de expressão online, no estilo da EFF, em terras verde-amarelas. "Preciso de mais pessoas com quem trabalhar aqui no Brasil", concluiu.

Campus Party Brasil 2013

A sexta edição da Campus Party Brasil, uma das maiores festas de inovação, tecnologia e cultura digital do mundo, acontece entre 28 de janeiro e 3 de fevereiro no Anhembi Parque, em São Paulo. Na Arena do evento, 8 mil pessoas têm acesso à internet de alta velocidade e a mais de 500 horas de palestras, oficinas e workshops em 18 temáticas, que vão desde mídias sociais e empreendedorismo até robótica e biotecnologia. Cinco mil desses campuseiros passam a semana acampados no local.

A 6ª edição traz ao Brasil nomes como o astronauta Buzz Aldrin, um dos primeiros homens a pisar na Lua, e o fundador da Atari, Nolan Bushnell. Em sua sexta edição em São Paulo, a Campus Party também teve no ano passado a primeira edição em Recife (PE). O evento acontece ainda em países como Colômbia, Estados Unidos, México, Equador e Espanha, onde nasceu em 1997.

Nas edições brasileiras anteriores, o evento trouxe ao País nomes como Tim Berners-Lee, o criador da Web; Kevin Mitnick, um dos mais famosos hackers do mundo; Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos; Steve Wozniak, que fundou a Apple ao lado de Steve Jobs; e Kul Wadhwa, diretor-geral da fundação Wikimedia,que mantém a Wikipédia.

O Terra cobre o evento direto do Anhembi Parque e, além do canal especial Campus Party Brasil 2013, os internautas podem acompanhar as novidades pelo blog Direto da Campus. Para seguir a festa pelo Twitter, basta acompanhar a hashtag oficial do evento, #cpbr6.

Fonte: Terra
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