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Apple desistiu de plano para criptografar backups após reclamações do FBI, dizem fontes

21 jan 2020 - 11h29
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A Apple desistiu de seus planos para permitir que usuários do iPhone criptografem totalmente os backups de seus dispositivos no serviço iCloud, depois que o FBI reclamou que a medida prejudicará suas investigações, disseram seis fontes familiarizadas com o assunto à Reuters.

03/01/2019
REUTERS/Leonhard Foeger
03/01/2019 REUTERS/Leonhard Foeger
Foto: Reuters

A decisão da gigante de tecnologia, há cerca de dois anos, não foi relatada anteriormente. Ela mostra o quanto a Apple está disposta a ajudar as autoridades e agências de inteligência dos EUA, apesar de enfrentar uma disputa mais dura com o governo e se apresentar como defensora dos dados de seus clientes.

O longo conflito sobre segurança entre os investigadores e o desejo das empresas de tecnologia pela privacidade dos usuários voltou aos holofotes na semana passada, quando o procurador-geral dos EUA, William Barr, pediu publicamente para a Apple desbloquear dois iPhones usados por um oficial da Força Aérea Saudita que matou três norte-americanos em uma base naval de Pensacola, Flórida, no mês passado.

O presidente dos EUA, Donald Trump, acusou a Apple no Twitter de se recusar a desbloquear telefones usados por "assassinos, traficantes de drogas e outros elementos criminosos violentos". Senadores republicanos e democratas fizeram discursos semelhantes em uma audiência de dezembro, ameaçando passar uma lei contra a criptografia de ponta a ponta, citando evidências irrecuperáveis de crimes contra crianças.

De fato, a Apple entregou os backups do iCloud do assassino no caso Pensacola e disse que rejeitou a caracterização de que "não forneceu assistência substancial".

Um porta-voz da Apple se recusou a comentar sobre como a empresa lidou com o problema de criptografia ou sobre os conflitos que teve com autoridades. O FBI não respondeu aos pedidos de comentários sobre o assunto.

Mais de dois anos atrás, a Apple disse ao FBI que planejava oferecer aos usuários criptografia de ponta a ponta ao armazenar seus dados no iCloud, de acordo com um atual e três ex-funcionários do FBI e um atual e um ex-funcionário da Apple.

Segundo esse plano, projetado principalmente para impedir hackers, a Apple não teria mais uma chave para desbloquear os dados criptografados, o que significa que não seria capaz de entregar material às autoridades de forma legível, mesmo sob ordem judicial.

Em conversas particulares com a Apple logo depois, representantes do FBI se opuseram ao plano, argumentando que isso os negaria os meios mais eficazes para obter evidências contra suspeitos que utilizam o iPhone, disseram fontes do governo.

Quando a Apple falou em particular ao FBI sobre seu trabalho em segurança no ano seguinte, o plano de criptografia de ponta a ponta havia sido cancelado, de acordo com as seis fontes. A Reuters não conseguiu determinar por que exatamente a Apple abandonou o plano.

"O jurídico matou o plano, por razões que você pode imaginar", disse outro funcionário da Apple, sem nenhuma menção específica do motivo pelo qual o plano foi retirado ou se o FBI foi um fator na decisão.

"Eles decidiram que não iriam mais cutucar o urso", disse a pessoa, referindo-se à batalha judicial da Apple com o FBI em 2016 pelo acesso a um iPhone usado por um dos suspeitos em um tiroteio em massa em San Bernardino, Califórnia.

A Apple recorreu de uma ordem judicial para desbloquear um iPhone para o FBI. O governo desistiu do processo quando encontrou um terceiro que poderia invadir o telefone, uma ocorrência comum nas investigações do FBI.

Dois dos ex-funcionários do FBI, que não estavam presentes nas negociações com a Apple, disseram à Reuters que parece que os argumentos do FBI de que os backups fornecem evidências vitais em milhares de casos prevaleceram.

Depois que a decisão foi tomada, os 10 especialistas no projeto de criptografia da Apple - chamados de Plesio e KeyDrop - receberam ordens para parar de trabalhar na iniciativa, disseram três pessoas familiarizadas com o assunto à Reuters.

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