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Apple bloqueia versões de teste de apps do Facebook

Medida é resposta ao programa do Facebook que burlava regras da App Store para monitorar celulares de pessoas entre 13 e 35 anos

30 jan 2019 - 15h13
(atualizado às 17h10)
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Após o novo escândalo de privacidade, no qual o Facebook foi acusado de espionar os celulares de pessoas entre 13 e 35 anos em troca de vale-compras de US$ 20, a Apple decidiu bloquear todas as versões de teste de apps da rede social. A medida inclui o próprio aplicativo do Facebook, além de WhatsApp, Instagram, Messenger e outros. Segundo reportagem do site The Verge, a companhia de Mark Zuckerberg está tratando internamente o problema como algo grave.

A medida da Apple é uma resposta ao fato de que o Facebook burlava as regras da App Store para garantir o funcionamento do seu programa de monitoramento, que usava um aplicativo chamado Facebook Research. O "app espião" só podia ser instalado com uma rotina específica, liberada pela fabricante do iPhone a desenvolvedores internos - e não a qualquer usuário recrutado pela internet aleatoriamente.

Em comunicado, a Apple disse: "Criamos o nosso programa de desenvolvedores para empresas apenas para distribuição interna de apps dentro de uma organização. O Facebook usou sua filiação para distribuir um app coletor de dados para consumidores, o que é uma clara quebra de contrato com a Apple. Qualquer desenvolvedor usando os seus certificados de empresa para distribuir apps para consumidores terá os seus certificados revogados, que é o que fizemos nesse caso para proteger nossos usuários e seus dados."

Os certificados permitem que desenvolvedores instalem versões diferentes de apps nos seus iPhones. Embora não sejam a única maneira de desenvolvedores terem as versões alteradas em seus aparelhos, os certificados permitem uma ampla distribuição dos programas entre os funcionários - Facebook tem atualmente quase 34 mil funcionários.

A revogação de certificados não faz com que os apps apenas parem de ser distribuídos, mas também com que parem de funcionar. É possível que o Facebook use o mesmo certificado para vários de seus apps, como é comum na indústria, o que ajuda a explicar a grande extensão do bloqueio.

Após a revelação da existência do Facebook Research, a rede social informou que o Facebook Research seria removido da App Store. Além disso, a companhia rebateu de que o programa espionava seus partcipantes. "Importantes pontos sobre este programa de pesquisa de mercado estão sendo ignorados. Apesar das recentes matérias, não havia nada de 'secreto' sobre o aplicativo chamado Facebook Research App. Ele não estava 'espiando' as pessoas que se cadastraram para participar. Elas passaram por um processo claro: foi solicitado a elas a permissão e elas foram remuneradas por participar da pesquisa. ", diz o comunicado da empresa.

A empresa também se defendeu da acusação de que estaria espionando adolescentes. "Menos de 5% das pessoas que decidiram participar desse programa de pesquisa de mercado são adolescentes e todos eles tiveram o consentimento formal de seus pais", completa o documento. Para recrutar usuários, inclusive menores de idade, o programa veiculou anúncios no Instagram e no Snapchat.

À repórter Sarah Frier, da agência de notícias Bloomberg, o Facebook confirmou que estão fora do artodas as versões de testes de seus aplicativos, bem como apps internos usados pelos funcionários da empresa. A empresa disse ainda que está tentando negociar com a Apple. Questionada se a empresa se preocupa com sanção semelhante por parte do Google, a rede social disse que não está preocupada sobre isso agora.

O caso. O projeto do Facebook, revelado na noite desta terça, 29, pelo site TechCrunch, oferecia desde 2016 vale-compras nos EUA e na Índia para quem instalasse o app Facebook Research no iOS e no Android - o programa, então, era capaz de ver mensagens privadas em redes sociais, mensagens trocadas por apps, bem como buscas e atividades de navegação.

Com essas informações, o Facebook tomava decisões sobre a implantação de novas ferramentas em sua plataforma e até a compra de empresas emergentes que estivessem ganhando popularidade.

Uma das coisas que chamou a atenção na reportagem do TechCrunch é o fato de que o Facebook praticamente reutilizou a infraestrutura e o código do app Onavo, aplicativo banido da loja de aplicativos oficial da Apple em agosto do ano passado por permitir acesso total aos dados do smartphone.

O episódio reascende uma rivalidade entre Apple e Facebook justamente num momento no qual a empresa de Tim Cook tenta emplacar a imagem de protetora da privacidade de seus clientes enquanto a rede social tenta se livrar da imagem de vilã da privacidade. No ano passado, após a explosão do caso Cambridge Analytica, Tim Cook criticou o rival. "Nós poderíamos ganhar muito dinheiro se nossos usuários fossem o nosso produto, mas escolhemos não fazer isso", disse ele, em entrevista à emissora americana NBC. Zuckerberg retrucou dizendo que a Apple fazia produtos pouco acessíveis à população.

Estadão
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