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Renan classifica Onyx como 'pouco qualificado' e veta qualquer diálogo com ele

Relator da CPI da Covid, senador também pretende evitar contato com Bolsonaro e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

4 mai 2021 - 00h27
(atualizado às 00h33)
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BRASÍLIA — O senador Renan Calheiros (MDB-AL) afirmou ao Estadão que, mesmo se fosse procurado, não conversaria com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, um dos auxiliares do presidente Jair Bolsonaro responsáveis pela estratégia política do governo na CPI da Covid. Relator da CPI, Renan disse que também pretende evitar, neste momento, contato com Bolsonaro, já que a gestão dele é alvo da comissão, e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula está em Brasília, onde vai se encontrar com várias lideranças, entre as quais o ex-presidente José Sarney, que é do MDB e amigo de Renan. "Não devo conversar com o Lula agora, da mesma forma que não é recomendável conversar com Bolsonaro. Converso com qualquer interlocutor do governo, menos com o Onyx, que parece pouco qualificado para a missão", disse Renan ao Estadão. O ministro não se manifestou.

Os atritos entre o senador do MDB e o ministro da Secretaria-Geral não são de hoje. Em 2019, Onyx foi o principal articulador da candidatura de Davi Alcolumbre (DEM-AP) à presidência do Senado. O movimento tirou votos de Renan, que acabou renunciando pouco antes da eleição. Na época, a chegada de Alcolumbre ao comando do Senado quebrou a hegemonia do MDB naquela Casa.

Renan disse que nenhum integrante do governo o procurou para conversar sobre os trabalhos da CPI, mas novos ministros devem ser convocados nos próximos dias. "Não procurou e, pelo que tenho ouvido e pelas palavras apressadas, os ministros Paulo Guedes (Economia) e Anderson Torres (Justiça) estão 'pedindo' para serem convocados, pelas trapalhadas sucessivas", afirmou o senador, em tom irônico.

Três ministros batem cabeça na articulação política no governo e a falta de sintonia já provocou as primeiras derrotas na CPI, como a convocação de todos os ex-titulares da Saúde - Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, que serão ouvidos nesta terça-feira, 4, e Eduardo Pazuello, na quarta, 5. O atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prestará depoimento na quinta, 6.

A ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, é formalmente responsável pela tarefa de intermediar o diálogo entre o governo e o Congresso. Deputada, Flávia foi indicada pelo ministro Luiz Eduardo Ramos, que comandava a pasta e acabou transferido para a Casa Civil. A indicação teve o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL).

Ao ser remanejado para a Casa Civil, Ramos produziu uma lista com 23 afirmações frequentes sobre erros do governo na condução da pandemia. A lista vazou. O ministro disse que se tratava de uma estratégia de defesa do governo, uma vez que as questões podem ser levantadas na CPI. Muitas daqueles temas, no entanto, acabaram sendo incorporados no plano de trabalho da comissão.

Onyx, por sua vez, tenta retomar o protagonismo que tinha no início do governo Bolsonaro, quando era ministro da Casa Civil. Bolsonaro esvaziou a pasta e depois transferiu Onyx para o Ministério da Cidadania no início de 2020. Em fevereiro, no entanto, ele retornou ao Palácio do Planalto para comandar a Secretaria-Geral da Presidência.

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), já defendeu a convocação do ministro Anderson Torres e de Flávia Arruda. "Já fizemos (requerimento) para convocar a Flávia. Tem de convocar até o ministro da Justiça porque o que ele fez, o que ele falou à revista Veja, é uma ameaça ao funcionamento da CPI", declarou o senador ao Estadão.

Randolfe fez referência à entrevista na qual Torres afirmou que vai requisitar informações à Polícia Federal sobre o destino de recursos enviados pelo governo aos Estados para o combate do coronavírus. Já a convocação de Flávia Arruda se justificaria, segundo Randolfe, pelo fato de uma servidora da Secretaria de Assuntos Parlamentares ter sido identificada como autora de requerimentos apresentados à CPI pelos senadores governistas Ciro Nogueira (Progressistas-PI) e Jorginho Mello (PL-SC). Thais Amaral Moura trabalha na secretaria vinculada à pasta comandada por Flávia, no Planalto.

A ministra evitou comentar a possível convocação. "Não tem requerimento. Vamos aguardar", disse ela ao Estadão. Senadores também querem convocar Guedes para que ele preste informações sobre as medidas econômicas tomadas durante a pandemia, como o auxílio emergencial e as iniciativas de ajuda a pequenas empresas.

Nos últimos dias, Guedes também disse que o vírus da covid-19 foi criado por chineses. Afirmou, depois, que usou uma "imagem infeliz" no comentário. Mesmo assim, senadores asseguram que o chefe da equipe econômica pode ser convocado para a CPI.

Estadão
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