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Inflação tende a acompanhar viés melhor para PIB, mas hiato é grande, diz Campos Neto

16 jul 2020 - 14h45
(atualizado às 16h36)
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O viés de melhora para a atividade econômica ficou mais claro nas últimas duas semanas, corroborando visão do Banco Central, afirmou nesta quinta-feira o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, ponderando que a assimetria para a inflação vai no mesmo sentido, embora seja muito menor.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. REUTERS/Adriano Machado
Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

"Como nós temos um hiato grande, pode ser que ela nem aconteça", ponderou ele, em referência à ociosidade da economia, ao participar de live promovida pelo Itaú BBA.

Campos Neto sublinhou que os dados de inflação das próximas duas a três semanas serão "muito importantes" e irão dar mais clareza sobre o efeito do consumo na ponta.

Na semana passada, Campos Neto havia dito à Reuters que o BC precisava entender o impacto do crescimento na inflação para avaliar se ainda há espaço para corte residual nos juros básicos, hoje em 2,25% ao ano.

Na mesma ocasião, Campos Neto ponderou que crescimento e inflação tendem a ir na mesma direção, mas com a possibilidade de o crescimento voltar mais rápido sem gerar muita inflação em função justamente do hiato do produto.

Campos Neto pontuou nesta tarde que os agentes pararam de revisar os dados de inflação para baixo e passaram a revisá-los para cima, ainda que de forma "muito incipiente". Ele também avaliou que os números de inflação estão "bem comportados".

"Estamos relativamente tranquilos. Obviamente 2021 tem um espaço grande. Quando a gente olha 2022, está bem mais perto da meta", disse ele.

A meta para a inflação em 2020 é de 4%, em 2021 é de 3,75% e em 2022 de 3,5%, sempre com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos.

Durante sua fala, Campos Neto avaliou que o comportamento da economia no segundo trimestre será o mais difícil de estimar em 2020, pois vai dar ditar o tom para o ano.

Ele reiterou que há um consumo represado que deve acontecer pela recomposição de renda às famílias com os pagamentos do auxílio emergencial, cujos efeitos serão vistos até o final do ano. O presidente do BC também frisou que muitos programas de crédito lançados pelo governo começam a entrar em vigor ao mesmo tempo, beneficiando principalmente pequenas e médias empresas.

Campos Neto disse não acreditar que a recuperação da economia será um "V" completo, apesar de ter começado nesse ritmo.

"A pergunta é o quão suave vai ser a segunda parte da recuperação", afirmou.

Para ele, um dos elementos que parece ser determinante para o formato da recuperação dos países é o crédito e, nesse sentido, há grande preocupação em mantê-lo crescendo no Brasil.

"Estamos contentes? A resposta provavelmente é não. Nós entendemos que foi feito bastante coisa, mas nós entendemos que a parte do direcionamento do crédito não chegou nas pequenas e médias empresas como nós queríamos", disse ele, reforçando que as medidas mais recentes vêm nesse sentido.

CÂMBIO

Em relação à volatilidade do câmbio, Campos Neto voltou a dizer que o BC ainda não tem uma boa explicação sobre as causas do aumento da volatilidade do câmbio no país, e continua investigando a questão.

Campos Neto detalhou que, entre as causas examinadas, está o maior volume de trading de contratos de menor volume, de investidores menores. De um lado, ele reconheceu que, colocados num gráfico o aumento no número de contratos no Brasil e a volatilidade do câmbio, "uma coisa parece seguir a outra".

De outro lado, ele ponderou que pelo histórico mundial há alguma evidência de que a pulverização do trading, com participação maior do varejo, gera volatilidade menor, e não maior.

Outras explicações que circularam, que Campos Neto disse também achar ruins, são o overhedge dos bancos e robôs de trading com volumes mais expressivos que estariam aproveitando o cenário de juros baixos no Brasil. "Investigamos isso também, e não é verdade", afirmou sobre essa segunda hipótese.

Segundo Campos Neto, uma última explicação dada para o aumento da volatilidade é que a política monetária estaria chegando perto do "lower bound", limite para o corte na Selic, com os juros mais baixos gerando um movimento de corrida por hedge no Brasil.

Ele disse que alguns fundos ligados a trading mais dinâmico passaram a operar mais o real, mas "nada muito definitivo".

"Pode ser que esteja desenvolvendo alguma coisa nesse sentido? Pode ser, mas não temos uma evidência muito clara disso até agora", afirmou.

O presidente do BC disse ter a sensação de que a volatilidade tende a diminuir e que o BC segue acompanhando a questão.

WHATSAPP

Sobre a entrada do Whatsapp em pagamentos no país, Campos Neto firmou nesta quinta-feira que a autarquia acertou com o Whatsapp que a operação de pagamentos da empresa seja aprovada o mais rápido possível, mas ressaltou que, para isso, precisa ver assegurados critérios ligados a segurança de dados e competição.

"Nós temos conversado com eles, acertamos aí uma posição de aprovar o mais rápido possível para que eles consigam operar, mas a gente precisa ter certeza que ele é barato, ele é eficiente, ele é aberto, ele é seguro para as pessoas", disse ele, em live promovida pelo Itaú BBA.

Campos Neto destacou que o Whatsapp entrou com pedido de aprovação, o qual entrará "num trilho de aprovação normal, como qualquer outro arranjo e vai ser aprovado como qualquer outro arranjo".

Ele avaliou ainda que, da forma como o negócio havia sido anunciado, o arranjo nascia com uma adquirente --a Cielo, que ele não mencionou diretamente. Segundo o presidente do BC, apesar de contratualmente não haver acerto de exclusividade, esse desenho tinha uma estrutura de custos que levava a desincentivo para mais adquirentes.

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