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Propina em ouro no MEC: bancada evangélica racha, e ala defende demissão de Milton Ribeiro

Parlamentares ligados à bancada querem desvincular Ribeiro dos evangélicos

23 mar 2022 - 14h02
(atualizado às 14h36)
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A reunião da Frente Parlamentar Evangélica realizada na noite de ontem, 22, foi marcada por uma falta de consenso sobre o caso do gabinete paralelo de pastores no Ministério da Educação. Uma ala defende um posicionamento duro e cobra a saída de Milton Ribeiro do Ministério da Educação. No entanto, outros parlamentares adotam mais cautela e querem dar a chance de Ribeiro se explicar melhor sobre o assunto.

Apesar da falta de consenso, os parlamentares ligados à bancada querem desvincular Ribeiro dos evangélicos, além da defesa de que os dois pastores envolvidos no caso - Gilmar Santos e Arilton Moura - não têm relação com a cúpula dos líderes religiosos que são próximos do governo.

Durante a reunião de ontem, o deputado Marco Feliciano (PL-SP), um dos parlamentares mais próximos do presidente Jair Bolsonaro (PL), foi um dos que disse que é recomendável o afastamento de Ribeiro do cargo. "Se eu sou o ministro neste momento, eu já teria entregado minha carta e me afastado", disse Feliciano.

O Estadão revelou que um pastor pediu propina em ouro e em dinheiro para facilitar o acesso de prefeitos ao MEC. Como mostrou o jornal na última sexta-feira, 18, um gabinete paralelo de pastores se instalou na pasta. Deputados e senadores já acionaram a Procuradoria-Geral da República (PGR) cobrando apuração da improbidade administrativa e tráfico de influência.

Na quinta-feira, o ministro divulgou negando qualquer tipo de favorecimento aos pastores. O texto contradiz as declarações do próprio Ribeiro, que disse em áudio que priorizaria as demandas dos religiosos e que isso era um "pedido especial" de Bolsonaro.

"A nota infelizmente é um imbróglio sem tamanho. Ele desdiz tudo o que está no áudio. É só isso. Primeiro, ninguém é louco, ninguém é bobo. Acredito que o próprio Parlamento vai fazer algum tipo de convocação. Eu quero ouvi-lo pessoalmente. O áudio é uma prova. É no mínimo imoral", afirmou Feliciano durante a reunião. O deputado Feliciano foi procurado pela reportagem, mas disse que não iria comentar o caso.

Outro a se manifestar contra o ministro foi o deputado David Soares (União-SP), filho do missionário R.R. Soares. De acordo com o parlamentar, o acesso conseguido pelos dois pastores não é o mesmo que ele tem na pasta.

"Precisa ser investigado. Quando falam que as pessoas estavam lá (no Ministério da Educação) e através de duas pessoas conseguiam tudo… Eu tenho a maior dificuldade no MEC. Em alguns setores do MEC, nada anda", disse.

Uma nova reunião da bancada evangélica foi realizada na manhã desta quarta-feira, 23, mas muito mais esvaziada. O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), presidente da bancada, adiou um pronunciamento que faria nesta manhã para o final da tarde de hoje. "Estou fazendo uma consulta ampla aos colegas da bancada", disse.

David Soares foi um dos que faltaram à reunião de hoje. "Eu não participei da reunião hoje. Não tenho informação do que foi discutido. Fico com o que falei ontem", declarou ao Estadão.

O deputado Luis Miranda (Republicanos-DF) também se posicionou contra o ministro na reunião de ontem. "Escutando os áudios e vendo os documentos, é difícil acreditar que tenha uma desculpa para tal fato".

Ele também reclamou da falta de acesso de deputados ao MEC. "Se nós temos esse sentimento e, a partir dos áudios, entendemos por que deputados não têm seus pleitos atendidos no MEC, não podemos criar defesa para ninguém".

Miranda é um dos vice-presidentes da Frente Parlamentar Evangélica. Ele ficou conhecido no ano passado por denunciar um suposto esquema de compra de vacinas contra coronavírus pelo governo federal.

A bancada evangélica ainda não se posicionou oficialmente, mas tem procurado se afastar de Ribeiro. Deputados do grupo têm falado que o ministro, apesar de ser evangélico, não foi indicação deles e que a bancada queria o reitor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), Anderson Correia, no cargo.

Estadão
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