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Projeto das fake news cria nova frente de disputa entre Câmara e Planalto

Projeto aprovado no Senado tem apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia; Jair Bolsonaro já sinalizou veto à proposta

2 jul 2020 - 18h35
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BRASÍLIA - Envolto em polêmicas e aprovado após um "vai e vem" de versões pelo Senado, o projeto sobre fake news cria uma nova disputa entre o Legislativo e o Palácio do Planalto. O presidente Jair Bolsonaro é contra a medida e já antecipou seu veto à proposta, caso seja aprovada. Na Câmara, no entanto, o projeto tem apoio do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e tende a ter suporte de partidos da oposição e até mesmo do Centrão, com novas modificações.

Na Câmara, projeto das fake news tem apoio do presidente da Casa, Rodrigo Maia
Na Câmara, projeto das fake news tem apoio do presidente da Casa, Rodrigo Maia
Foto: Agência Senado / Estadão

"Vai haver (disputa) sim, porque os deputados mais ideológicos do governo manifestaram-se contra", afirmou o líder do PT, deputado Enio Verri (PR). A bancada, com 54 parlamentares, deve apoiar o projeto, mas estuda alterações em relação ao texto aprovado pelos senadores. Para ele, a proposta precisou ser esvaziada para ter o aval dos senadores. "O texto era mais robusto. Queremos ver se volta a robustez que tinha inicialmente."

O projeto aprovado no Senado por 44 votos favoráveis contra 32 regulamenta o uso das redes sociais, criando a chamada Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. Companhias do setor, porém, apontam risco de censura à livre manifestação do pensamento com a mudança na legislação.

O governo não conseguiu conter o avanço da medida no Senado e vai tentar barrar a tramitação na Câmara. "Com certeza, o governo deve orientar contra a votação e vamos obstruir", disse o vice-líder do governo na Câmara, deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), ao Broadcast/Estadão. "É uma guerra ideológica e que tem como alvo principal o presidente e seus apoiadores".

Parlamentares apoiadores do presidente têm feito campanha contra as novas regras para o funcionamento de redes sociais e aplicativos de mensagens. "Agora temos que trabalhar pra derrubar esse PL na Câmara. Somos 513 deputados. Vamos ver quem calar e quem quer manter livre a voz do povo", escreveu a deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), depois da aprovação do Senado.

Kicis é uma das parlamentares investigadas âmbito do inquérito das fake news, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) e mira nomes ligados ao chamado "gabinete do ódio", grupo de assessores ligados à Presidência da República investigados por disseminar notícias falsas. Um dos pontos da investigação é identificar as fontes de financiamento das campanhas de ódio e fake news.

Para o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), o tratamento sobre fontes de financiamento é um dos pontos que precisa ser retomado pela Câmara no projeto de lei. "O Democratas ainda não reuniu sua bancada para definir um posicionamento, mas o foco deve ser na operação estratégica dessa disseminação de informações falsas e ataques nas redes", disse.

Em Plenário nesta quarta-feira, a líder do PSOL na Casa, Fernanda Melchionna (RS), admitiu que o texto que veio do Senado tem "muitos problemas", mas que devem ser corrigidos pelos deputados. "Não temos nenhuma dúvida que é necessário seguir o dinheiro e ter uma legislação que criminalize esses verdadeiros empresários e parlamentares da mentira", disse. Em resposta a sinalização de veto de Bolsonaro, ela disse: "Não vamos ceder a pressão, fake news é crime e tem que ser tratado como tal."

Vice-líder do PL, o deputado Marcelo Ramos (AM), diz que algo deve ser aprovado em relação a fake news, mas admite que o texto do Senado já foi alvo de críticas. "Acho efetivamente cria uma tensão com o bolsonarismo, mas o governo está tão fragilizado que não sei até que ponto ele vai se meter nisso pra defender seus radicais", disse.

Estadão
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