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Posse de Fábio Faria reúne adversários no campo político e futebolístico

Novo ministro das Comunicações, deputado é visto como 'pacificador' das relações com os demais Poderes

17 jun 2020 - 16h09
(atualizado às 16h14)
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BRASÍLIA - Nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro para atuar como um "pacificador" das relações com os demais Poderes, o novo ministro das Comunicações, Fábio Faria, tomou posse nesta quarta-feira, 17, pregando compreensão e diálogo para uma plateia de adversários no campo político e futebolístico.

Deputado do PSD e genro do empresário Silvio Santos, do SBT, ele defendeu um "armistício patriótico" diante dos presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e da Câmara, Rodrigo Maia, e líderes do Centrão, mas sem a presença do ministro da Educação, Abraham Weintraub. Embora publicamente o discurso era de paz, o clima nas conversas de pé de ouvido era de desconfiança.

Em troca de uma trégua na Praça dos Três Poderes, Bolsonaro vem sendo pressionado a demitir o auxiliar, que chamou de "vagabundos" ministros da Corte e participou no último domingo, 14, de um ato antidemocrático. Aliados de Weintraub, os filhos do presidente não participaram na posse. Embora estivesse no Palácio do Planalto, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), que atua nas redes sociais do presidente e é seu principal conselheiro na área de comunicação, preferiu observar a cerimônia à distância.

"O grave momento também exige de nós uma postura de compreensão, de abertura ao diálogo. Se é tempo de levantarmos a guarda contra o novo coronavírus, também é hora de um armistício patriótico e deixarmos a arena eleitoral para 2022", disse Faria, cujo "perfil pacificador" foi ressaltado no comunicado à imprensa divulgado pelo governo.

A mulher do novo ministro, a apresentadora Patrícia Abravanel, e o filho mais velho do casal, Pedro, de 5 anos, estiveram no evento. A também apresentadora Receba Abavanel e o marido, o jogador do São Paulo, Alexandre Pato, também acompanharam de modo discreto. Ainda na cota do esporte, estiveram o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, e o jogador do Palmeiras, Felipe Melo, que é amigo de Bolsonaro. Palmeirense, o presidente usava um broche do time rubro negro, mas prometeu ir ao Catar no fim do ano "levantar a taça de bicampeão mundial" do alviverde. Para disputar o campeonato, no entanto, o clube paulista precisará conquistar a Taça Libertadores antes.

Entre os políticos, estavam parlamentares que fazem parte do chamado Centrão. Um deles é presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que comanda a sigla do novo ministro. Outros deputados como o líder do MDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), o líder do PP, Arthur Lira (AL), e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que é líder da maioria na Câmara, acompanharam o evento.

Para congressistas, a cerimônia era uma clara demonstração da vontade de construção de harmonia, apesar da desconfiança se uma trégua de fato se estabelecerá. Ninguém sabe também por quanto tempo durará.

A chegada de Faria também é cercada de expectativa dentro do governo. Ao anunciar o novo ministro na semana passada, Bolsonaro negou que a indicação do deputado fosse uma entrega para o Centrão e citou a proximidade com Silvio Santos como determinante para a escolha.

A Secretaria Especial de Comunicação (Secom), antes ligada à Secretaria de Governo, será subordinada ao Ministério das Comunicações. O ministro Marcos Pontes segue à frente da pasta de Ciência e Tecnologia.

"A mídia continua a estar entre as prioridades nesse governo. O dinamismo dos canais de TV fechada e a força da abrangência da TV aberta, que leva informação e entretenimento ao território nacional, são verticais importantes de política pública. Assim como o rádio, esse veículo poderoso aliado das grandes cidades e amigo próximo das comunidades mais isoladas; e os jornais, que tanto ajudam a aprofundar as reflexões da sociedade. Somados à internet, formam o símbolo e o palco da liberdade de expressão", discursou Faria.

O ministro também enalteceu Bolsonaro ao dizer que o presidente foi "um inovador na comunicação direta, ao falar com a população por meio das redes sociais". "Hoje, em um piscar de olhos são tomadas por multidões a internet não aceita voz de comando, todos têm o microfone na mão, e são ouvidos, pasmem, até mesmo pelo presidente, algo impensável em um passado próximo. O povo te deu o poder (presidente) e o senhor respondeu com respeito."

Ao final, Fábio Faria seguiu a cartilha do governo e recorreu à Bíblia. Ele, no entanto, deixou de lado o versículo 23 do livro de João ("E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará), que virou slogan do bolsonarismo desde a campanha. O novo ministro, pregando união, preferiu citar um trecho da carta aos Coríntios, segundo ele, "muito inspirador, especialmente nesse momento que vivemos." "'Assim, permanecem agora três coisas: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor' Que o amor pelo Brasil possa nos unir como brasileiros", disse.

Estadão
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