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Opinião: Terremoto político na Baviera

15 out 2018 - 09h53
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A tradicional União Social Cristã sofreu perdas históricas. Não é um dano colateral: a responsabilidade é da própria liderança partidária, e os efeitos deverão chegar até Berlim, opina a jornalista Rosalia Romaniec.A eleição deste domingo (14/10) na Baviera muda muita coisa, e não só nesse estado do sul da Alemanha. Aquilo que funcionou durante décadas - comunicar de forma credível aos eleitores que a União Social Cristã (CSU) é um partido cristão, conservador e, ao mesmo tempo, social - agora chegou ao fim. A queda de 48% para 37% não pode ser minimizada: é um revés histórico.

Líder social-cristão Horst Seehofer cedeu ao pânico e copiou política populista de direita
Líder social-cristão Horst Seehofer cedeu ao pânico e copiou política populista de direita
Foto: DW / Deutsche Welle

É preciso deixar uma coisa clara de antemão: o fiasco da CSU, que domina há décadas a política bávara, não é um dano colateral. Não foi o êxito dos outros que provocou as perdas eleitorais da CSU: a própria liderança social-cristã é responsável pela derrocada da legenda.

Na Baviera, grande parte do eleitorado da CSU passou para o lado do Partido Verde, o qual leva mais a sério do que ela o "cristão" que ostenta no nome. O presidente da CSU, Horst Seehofer, parece ter sido o primeiro a esquecer isso, mas parece que muitos não querem se deixar convencer de que o medo da islamização deva ser maior do que a razão e o amor ao próximo.

A outra vencedora nas urnas, a populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), não é nenhuma surpresa. Sua entrada para o 15º dos 16 Legislativos estaduais alemães está de acordo com uma tendência nacional. O fato de ela ter conseguido "apenas" cerca de 10% dos votos, e não 20%, como se temia, já é grave o suficiente, mas não deve ser necessariamente entendido como uma guinada à direita. É o resultado de um voto de protesto, e deve ser atribuído aos erros da CSU.

O pior erro é a quebra de tabu na ala de direita. Há décadas a CSU seguia seu patrono Franz-Josef Strauss, não deixando que nenhuma outra força conservadora passasse à sua frente. Isso era importante, inclusive no nível federal: na aliança com a União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Markel, a CSU preenchia uma função política como grupo mais conservador.

Isso funcionou por décadas, até que, em 2018, a liderança social-cristã entrou em pânico e passou a copiar a política da AfD. Quando se notou o erro, o chefe de partido - um sabe-tudo e opositor de Merkel - já havia feito estragos demais.

Seehofer, o senhor jogou mal! Hoje o senhor é o responsável e o perdedor.

A consequência da baderna criada pelo líder bávaro é a erosão de toda a CDU/CSU. Isso, sem falar no drama do parceiro de coalizão governamental Partido Social-Democrata (SPD), que caiu de 20% para menos de 10% na Baviera. Sua crise fica, assim, ainda mais visível: quando uma legenda que governa em Berlim sofre uma derrocada dessas num pleito estadual importante, é difícil não haver consequências.

Os social-democratas não conseguem escapar do papel de perseguidos. Eles precisam manter a calma e ganhar pontos com conteúdos próprios - mas isso é algo mais fácil de dizer do que fazer. Pois a liderança enfrenta grande oposição de suas próprias alas, daqueles que exigem o fim da coalizão SPD-CDU/CSU. É óbvio que haverá atritos e brigas, não só no partido, mas também dentro do governo Merkel.

Agora a Alemanha volta os olhos para a próxima eleição estadual, dentro de duas semanas, em Hessen. Ela talvez seja decisiva para o destino dos partidos governistas: caso todos os três sofram grandes perdas, em breve a coalizão poderá balançar.

A eleição que decidirá se Merkel continua como líder da CDU está marcada para poucas semanas mais tarde. O resultado das urnas na Baviera não contribuiu nem um pouco para fortalecer a posição e o governo dela.

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