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Opinião: Não chore por Nikki Haley

10 out 2018 - 11h33
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Muitos defendem a narrativa de que, com a renúncia da embaixadora na ONU, o trumpismo perde uma de suas poucas vozes da razão. Mas seus dois anos de mandato contam uma outra história, opina o jornalista Michael Knigge.O caso Nikki Haley não merece ser motivo para se criticar mais uma vez o inflacionário vai-e-vem de pessoal na Casa Branca. Continua-se sem saber se a aparentemente amigável renúncia da embaixadora americana na ONU já fora planejada há tempos e estava combinada com Donald Trump, ou se, pelo contrário, ela até mesmo pretende concorrer contra o então presidente na próxima eleição, em 2020.

Muitas iniciativas de Nikki Haley na ONU foram de apoio incondicional à política isolacionista de Trump
Muitas iniciativas de Nikki Haley na ONU foram de apoio incondicional à política isolacionista de Trump
Foto: DW / Deutsche Welle

No fim das contas, tais especulações pouco contribuem para julgar até que ponto os Estados Unidos se impuseram no palco mundial nos últimos dois anos. Em vez disso, vamos nos concentrar no que é sabido, que é o balanço de Haley como representante diplomática de seu país nas Nações Unidas.

Falando abertamente: esse balanço é mais para sombrio. Durante seu mandato em Nova York, ela também se engajou pelos direitos humanos, além de ser um dos poucos integrantes do governo Trump que expressaram alguma crítica à Rússia.

Mas não é por isso que Nikki Haley será lembrada. Ela é, antes, não só uma das mulheres mais destacadas do gabinete Trump, como uma das figuras mais representativas da política de rescisão do presidente republicano. Com o respaldo dela, os EUA abandonaram não só o Acordo do Clima de Paris, promovido pela ONU, mas também do acordo nuclear com o Irã, da organização cultural Unesco e do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Ela será lembrada por ameaçar pelo Twitter os demais países-membros da ONU que haviam apoiado uma resolução puramente simbólica contra a transferência para Jerusalém da embaixada americana em Israel.

Ela será lembrada por ter estabelecido um novo e perigoso princípio segundo o qual Washington só ajuda as nações que considera suas amigas, ou seja, as que se comprometerem a concordar incondicionalmente com a política trumpista e que na ONU votem sempre de acordo com os americanos.

E deve-se lembrar que durante o mandato de Haley os EUA suspenderam o financiamento ao Fundo de População das Nações Unidas, reintroduzindo, em seu lugar a "Global Gag Rule", a qual proíbe o governo americano de subsidiar organizações internacionais de saúde que se empenhem pelo direito ao aborto.

Tudo somado, Nikki Haley foi uma apaixonada adepta da política "America first" de Trump, declaradamente voltada para uma abordagem unilateral fundamentalmente contrária aos princípios fundamentais da ONU. O estilo pessoal dela poder abrandado, vez por outra, a atitude hostil de Trump em relação ao multilateralismo, mas essa atitude esteve sempre presente.

Em sua defesa, se poderia dizer que ela tentou ao máximo impedir que o presidente americano causasse ainda mais danos. Seria possível também dizer que o sucessor dela poderia piorar tudo ainda mais. Mas é tarde demais para esse tipo de consideração: levando-se em conta todos os estragos que o governo trumpista já provocou em numerosos fronts, é difícil afirmar que "poderia ter sido ainda pior".

À luz de todos os critérios tradicionais do partido, é simplesmente impossível classificá-la como uma republicana moderada. Ela foi a figura de proa da política de Donald Trump no palco global. Não há qualquer razão para o mundo derramar uma única lágrima sequer pela renúncia de Nikki Haley.

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