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Opinião: Extinction Rebellion não se importa com Holocausto

22 nov 2019 - 12h00
(atualizado às 12h30)
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Cofundador do grupo minimizou o genocídio de judeus na 2ª Guerra. Assim, o ativista não só se desqualifica como também prestou um desserviço para o movimento ambientalista, opina o jornalista Martin Muno."Apenas mais uma 'putaria' na história da humanidade", disse o britânico Roger Hallam sobre o Holocausto, em entrevista ao jornal semanal alemão Die Zeit. Afinal, segundo ele, genocídios têm se repetido nos últimos 500 anos. A retórica desrespeitosa e grosseira de Hallam, um dos fundadores do movimento ambientalista Extinction Rebellion, lembra as palavras do copresidente do partido populista de direita AfD, Alexander Gauland, segundo o qual os doze anos do nazismo foram apenas um "cocô de passarinho em mais de mil anos da história alemã".

"O logotipo do Extinction Rebellion tem clara semelhança com runas – uma linguagem visual usada por extremistas de direita"
"O logotipo do Extinction Rebellion tem clara semelhança com runas – uma linguagem visual usada por extremistas de direita"
Foto: DW / Deutsche Welle

A afirmação de Hallam é, portanto, claramente classificável como populista de direita. E ela se encaixa com perfeição no cenário: Hallam se disse em setembro a favor de que extremistas de direita e sexistas possam participar do Extinction Rebellion (XR). E o logotipo da organização tem clara semelhança com runas - uma linguagem visual usada por extremistas de direita.

Muito já foi debatido sobre se o Holocausto foi algo único. Em 1986, o historiador Ernst Nolte escreveu que o extermínio dos judeus fora apenas uma reação aos gigantescos crimes stalinistas; sendo, portanto, um "ato asiático". Nolte desencadeou dessa forma a chamada historikerstreit (disputa de historiadores). Foi Jürgen Habermas quem defendeu de forma resoluta a tese da singularidade do Holocausto e alertou contra uma "normalização" do passado nazista - uma normalização como a que atualmente está sendo implementada por muitos representantes da direitista AfD.

Na República Federal da Alemanha no ano de 2019, o significado do Holocausto é uma das questões que marcam a linha divisória entre conservadores e radicais de direita. Quem relativiza ou mesmo nega o extermínio dos judeus deixa o terreno do discurso democrático. E é exatamente isso que Roger Hallam faz.

Do ponto de vista de Hallam e de seus seguidores, isso é consistente. Pois se todas as plantas, animais e toda a humanidade morrerem devido ao calor causado pela crise climática, todo o resto perde seu significado. Em face do apocalipse, pelo menos deste lado das religiões, tudo se torna sem sentido. Então, pouco importará se o Holocausto foi único.

Segundo esse pensamento, é irrelevante se eu pago meus impostos, se sou amigável com meus companheiros seres humanos ou se estou comprometido com um mundo melhor. Diante da morte iminente, também não importa se eu tento viver de forma climaticamente consciente ou se eu faço nos meus últimos dias uma viagem de longa distância após outra, vou à padaria mais próxima com o maior SUV possível ou jogo meu lixo plástico diretamente no rio mais próximo.

Mesmo que a seção alemã da XR se distancie dos comentários de Hallam: o Extinction Rebellion - e isso deve ser dito claramente - é uma seita apocalíptica. Uma que aposta em emoções e incita medos. Uma que foge à discussão necessária sobre como podemos reduzir as emissões de CO2 de forma rápida e visível e sobre como podemos viver em longo prazo de maneira climaticamente neutra. Assim, Hallam e seus aliados prestam um desserviço a todo o movimento climático.

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