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Opinião: Coalizão de governo alemã à beira do colapso

24 set 2018 - 12h15
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Absurda disputa em torno de Maassen é mais uma crise interna resolvida só nas aparências, pois questão de fundo permanece. Coalizão de governo está salva - por ora, afirma o jornalista Jens Thurau.O que quer dizer, exatamente, quando políticos falam de "soluções para preservar a imagem"? Pode ser que, pelo menos no momento, trate-se apenas da expressão de quão longe os dirigentes estão de uma noção clara do que é aceitável e do que não é? Partamos do princípio de que uma "solução para preservar a imagem" seja algo que, após longo debate em torno do que quer que seja, permita que ninguém saia como perdedor. No caso de Hans-Georg Maassen, isso procede?

Como já se sabia, o chefe do serviço de inteligência interna da Alemanha tem que entregar o cargo por ter contradito abertamente a chanceler federal Angela Merkel na avaliação dos incidentes xenófobos na cidade de Chemnitz, em entrevista a um jornal.

Com isso, Maassen extrapolou irremediavelmente os limites de sua competência, causando agitação sobretudo no Partido Social-Democrata (SPD), da coalizão governamental. Mas a consequência não será sua promoção a vice-ministro encarregado de Segurança no Ministério do Interior - como de início se pretendia em Berlim.

Para espanto da liderança do governo em Berlim, a proposta causou indignação geral, tanto em políticos do SPD, em representantes da parceira de coalizão União Democrata Cristã (CDU) e em cidadãos perplexos. Pois, no novo cargo, Maassen teria um salário muito mais alto do que no antigo emprego.

Agora a coalizão fez uma correção de curso: Maassen será remanejado, sim, para o Ministério do Interior, mas como "consultor especial" de seu amigo ministro, o social-cristão Horst Seehofer, e não receberá mais. Essa é, em resumo, a "preservação de imagem": Seehofer tem um pouco de razão, o SPD também, Merkel lança uma prece aos céus.

Na realidade, a absurda disputa em torno de Maassen gira em torno de um conflito dentro do governo alemão, permanente e totalmente em aberto, sobre a política de refúgio. Forças conservadoras, em especial a União Social Cristã (CSU), do ministro Seehofer, consideravam e consideram errada a política relativamente favorável aos refugiados da chefe de governo Merkel.

Embora ela já não seja mais tão favorável assim, trata-se de ter razão. Pois, nas zonas rurais, a populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) está à espreita por toda parte e formula sua crítica a Merkel de forma muito mais crassa, conquistando assim uma vitória atrás da outra. A questão é não ficar para trás.

E assim a coalizão governamental alemã quase foi a pique por causa do novo cargo de um chefe de departamento. Esse governo só pensa no curto prazo, sua fragmentação é enorme, os nervos estão no limite. Mas, ao mesmo tempo, ele trabalha a todo vapor, melhora a situação nas creches; introduz um novo benefícios familiar para construção da casa própria; finalmente reconhece que a Alemanha tem um déficit de moradias financiáveis; cria novas vagas no setor de cuidados médicos, embora não suficientes.

Mas, de que serve toda essa diligência se a qualquer momento pode haver uma ruptura aberta na política para refugiados, na questão da imigração e das tendências direitistas na sociedade, até mesmo pelo pretexto mais insignificante? E, após cada crise, resolvida a duras penas, o estranhamento é cada vez maior. E a população se distancia, apavorada. Como está, só pode mesmo melhorar.

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