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Opinião: A perigosa tolerância com o extremismo de direita

28 ago 2018 - 10h43
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No país dos crimes nazistas, violência de extrema direita é ainda hoje subestimada, minimizada e até aceita. História ensina aonde essa turba pode chegar quando se alia à frustração social.Quando a noite cai na cidade saxã de Chemnitz, o trabalho de muitos jornalistas chega ao fim: a situação é muito difusa e perigosa para permanecer nas ruas. Grupos violentos de radicais de direita andam por toda a cidade, e incidentes ocorrem toda hora.

Manifestação de extrema direita em Chemnitz, cidade do estado alemão da Saxônia
Manifestação de extrema direita em Chemnitz, cidade do estado alemão da Saxônia
Foto: DW / Deutsche Welle

Um repórter teve o nariz quebrado. Um homem faz a saudação nazista diante das câmeras de TV e ameaça os jornalistas. Centenas de neonazistas, hooligans e moradores violentos querem dar vazão à sua agressividade. A polícia não consegue controlar a situação, pois falta pessoal. O resultado é um dia ruim para a sociedade livre.

Que a situação tenha chegado a esse ponto deve-se a um fato tão surpreendente quanto estarrecedor: na Alemanha, o país dos crimes nazistas, a violência de extrema direita e as ameaças feitas por grupos extremistas de direita são ainda hoje subestimadas, minimizadas e até mesmo aceitas. Os acontecimentos de Chemnitz são uma nova prova disso, pois não são em nada espontâneos.

Há anos que grupos neonazistas se organizam em torno do clube de futebol local. O nome NS Boys já diz tudo sobre suas intenções. Em alguns bairros, grupos de direita tentam obter o controle sobre as ruas. Eles agem dentro do padrão de uma subcultura que se espalhou pelo país, é interconectada e troca experiências. São grupos pequenos, mas bem treinados e eficientes. Foi assim que eles, em pouco tempo, conseguiram organizar a manifestação de 27 de agosto de 2018.

A polícia sabia dessa mobilização e também dessa estrutura. Mesmo assim não elevou o efetivo para estar em condições de garantir a segurança e a ordem. Os políticos e as autoridades de segurança simplesmente não levaram a ameaça a sério. Por quê? Porque a violência de extrema direita não se volta contra os políticos e as autoridades. Falta compaixão com as vítimas.

Um equívoco perigoso deve, porém, ser esclarecido: o ódio dessas pessoas nas ruas não se volta apenas contra a política de refugiados ou contra a chanceler federal Angela Merkel. Ele se volta contra a democracia na Alemanha. Essa turba incitadora rejeita todos os artigos da Lei Fundamental: a dignidade humana, a igualdade dos cidadãos, a proibição de discriminação por causa de religião, origem ou sexo.

Há décadas que essa nova extrema direita combate quem pensa de outra maneira, quem tem outra cor de pele e, nos últimos anos, cada vez mais os muçulmanos. Eles colocam a si mesmos na tradição de Adolf Hitler, fazem a saudação nazista, celebram os crimes da Wehrmacht [Forças Armadas da era nazista] durante a Segunda Guerra Mundial e combatem seus adversários sempre que tiverem uma chance. Eles querem a volta do terror às ruas alemãs.

O grande perigo: nos últimos anos, manifestações como as de Chemnitz se misturam cada vez mais com os protestos dos cidadãos desiludidos e marginalizados. Estes não são, em sua maioria, apoiadores do nazismo, mas têm uma proximidade perigosa com ideologias racistas e antidemocráticas. Isso é alarmante, pois a história alemã ensina que a turba organizada pode chegar longe quando se alia à frustração e ao ódio dentro da sociedade. Os políticos alemães não podem dizer que não foram alertados.

Hans Pfeifer é jornalista da DW.

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