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O silêncio do mundo árabe sobre um possível ataque americano à Síria

Relações e interesses entre governos e partes envolvidas no conflito sírio dificultam tomada de posição.

13 abr 2018 - 11h35
(atualizado às 17h38)
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Nos últimos dias, a ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de atacar a Síria com mísseis em resposta a um suposto ataque químico contra civis executado pelo regime de Bashar al-Assad agitou o cenário internacional e provocou reações de uma série de potências, como Rússia e França.

Dos Estados árabes, no entanto, somente o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, disse, durante uma visita à França nesta semana, que seu país está pronto para participar de uma ação militar na Síria.

Dois dias antes, o principal aliado da Arábia Saudita em território sírio, o grupo rebelde islâmico Jaysh al-Islam, havia capitulado diante do Exército em Ghouta Oriental, nos arredores de Damasco. E a própria Riad já abandonou há tempos seu objetivo inicial de derrubar Assad e substituí-lo por um governo pró-saudita. A meta mais importante da Arábia Saudita na Síria é agora reprimir a influência iraniana na região.

Se realmente ocorrer um ataque americano, é provável que este seja apoiado pelos aliados da Arábia Saudita, pelo menos verbalmente. Quando os EUA bombardearam uma base aérea síria com cerca de 60 mísseis em abril do ano passado, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Kuwait e Jordânia, juntamente com a Arábia Saudita, também aprovaram a medida.

Lançamento de míssil durante ataque americano a base aérea síria em abril de 2017
Lançamento de míssil durante ataque americano a base aérea síria em abril de 2017
Foto: DW / Deutsche Welle

O Catar, que também apoiou o ataque, pertencia a essa aliança na época, mas agora é abertamente hostil à Arábia Saudita. No entanto, considerando que o Catar abriga a maior base militar dos EUA na região e conta com o apoio de Trump contra o bloqueio imposto pela Arábia Saudita e os Emirados, é improvável que o emirado se oponha à ação militar desta vez.

As coisas se tornam mais complicadas no caso do Egito e do Iraque. Bagdá é basicamente capaz de se equilibrar na corda bamba diplomática entre o Irã e os Estados Unidos. Por isso, o governo iraquiano mantém oficialmente neutralidade em relação à guerra na Síria, mas não impede que milhares de cidadãos do país se juntem às milícias pró-iranianas envolvidas de forma fundamental em operações para reverter a guerra em favor de Assad.

O regime egípcio, por sua vez, depende da ajuda econômica da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes para sua sobrevivência, mas ao mesmo tempo coopera com Damasco em questões de inteligência e mantém uma parceria estratégica com a Rússia. Nem o apoio público nem a condenação de um novo ataque à Síria devem, portanto, ser esperados dos egípcios e dos iraquianos.

A posição oficial do Líbano, cujo poder é dividido entre os principais grupos religiosos, não é uniforme. O presidente do país, o maronita Michel Aoun, encontrou palavras incomumente claras e se referiu a Assad como o "presidente legítimo" e "único representante da Síria".

O presidente do Parlamento, o xiita Nabih Berri, disse que o Líbano rejeita a agressão contra a Síria planejada por alguns países ocidentais e que qualquer uso do espaço aéreo libanês é uma "violação flagrante da soberania do Líbano". Por outro lado, o primeiro-ministro, o sunita Saad al-Hariri, afirma que seu país permanecerá neutro em caso de um ataque americano.

De um total de 22 Estados árabes, talvez a Argélia possa emitir uma declaração crítica sobre um ataque. Argel mantém excelentes relações com o regime de Assad desde o início do conflito sírio, há sete anos. E o governo argelino nunca perde a oportunidade de expressar sua rejeição à intervenções militares estrangeiras: das guerras do Golfo de 1990 e 2003 ao ataque da Otan na Líbia e à guerra da Arábia Saudita no Iêmen.

No entanto, nem a posição da Liga Árabe nem a de Estados árabes individuais são relevantes para qualquer ataque contra a Síria. Em última análise, as decisões são tomadas nas capitais ocidentais e dependem, quando muito, das reações de Moscou.

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