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O que está por trás do atropelamento em Toronto?

24 abr 2018 - 06h29
(atualizado às 19h59)
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Polícia e testemunhas não têm dúvida: foi um ato deliberado. Mas, com motorista detido, investigadores evitam fazer conexão entre ataque que matou ao menos dez na cidade canadense e atentados na Europa.A polícia de Toronto investiga nesta terça-feira (24/04) o que levou um jovem de 25 anos a jogar uma van deliberadamente contra pedestres numa movimentada rua comercial, deixando ao menos dez mortos e 15 feridos.

A área do atropelamento, isolada pela polícia: ruas cheias, em dia de sol de primavera
A área do atropelamento, isolada pela polícia: ruas cheias, em dia de sol de primavera
Foto: DW / Deutsche Welle

O motorista foi identificado como Alek Minassian e, embora o atropelamento tenha sido claramente intencional, a polícia por ora evita falar em terrorismo. Até agora, não foi possível fazer conexões entre ele e movimentos extremistas.

"O que aconteceu nesta rua atrás da gente é terrível", disse Ralph Goodale, ministro da Segurança Pública do Canadá. "Mas não parece estar conectado, de forma alguma, a uma questão de segurança pública, com base nas informações que temos até agora."

O atropelamento levou imediatamente a temores de que também o Canadá teria entrado na mira do extremismo islâmico, após uma série de ataques, usando automóveis e reivindicados pelo "Estado Islâmico", em cidades como Nice, Berlim, Barcelona, Londres e Nova York.

Com o motorista detido, investigadores começaram o processo de reconstruir como - e por quê - um dia ensolarado de início de primavera em Toronto se transformou numa cena de horror. Mas, até o início desta terça, pouco havia sido divulgado sobre Minassian: sabe-se que é morador de Richmond Hill, subúrbio da metrópole canadense, e que não tem antecedentes criminais.

Pouco antes de atingir os pedestres na segunda-feira, Minassian publicou uma mensagem no Facebook que intrigou os investigadores ao exaltar um outro ataque ocorrido na Califórnia há quase quatro anos. "A rebelião Incel já começou. Todas as saudações para Elliot Rodger", dizia o texto, confirmado como verdadeiro pela rede social.

O termo "Incel" - iniciais em inglês para a expressão "celibato involuntário" - é usado por homens heterossexuais que são constantemente rejeitados por mulheres e escrevem em fóruns online, como a rede social Reddit, para expressar sua frustração e raiva.

A palavra foi utilizada diversas vezes na internet por Elliot Rodger, saudado na postagem de Minassian. Rodger foi um rapaz de 22 anos que matou seis pessoas e feriu outras 13 antes de se suicidar, em maio de 2014, perto da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara. O atentado, a tiros e facadas, ficou conhecido como massacre de Isla Vista.

O sargento Graham Gibson, da polícia de Toronto, informou em coletiva de imprensa que a maioria das vítimas do atropelamento eram mulheres. Segundo ele, no entanto, os investigadores ainda não determinaram se elas foram alvo por serem do sexo feminino ou se foi uma coincidência.

"Esta será uma longa investigação", disse, por sua vez, o vice-chefe da polícia de Toronto, Peter Yuen. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, pediu calma: "Ainda estamos coletando informações e, assim que pudermos, compartilharemos com os canadenses."

Nesta terça-feira, Minassian foi formalmente acusado ao comparecer a um tribunal em Toronto. Ele responderá a dez acusações de homicídio doloso (quando há intenção de matar) e a 13 tentativas de homicídio - a promotoria canadense não esclareceu este último número, sendo que o ataque deixou 15 feridos.

Minassian entrou no tribunal algemado, de cabeça raspada e vestindo um macacão branco. Perante o juiz, ele falou seu nome em voz alta e com confiança, mas respondeu às perguntas com poucas palavras, segundo relatos da imprensa local e do correspondente da DW em Toronto, Jeff Harrington.

Nem o suspeito nem as autoridades deram detalhes sobre a motivação do atropelamento. O juiz decidiu que Minassian permanecerá preso enquanto aguarda o julgamento. Uma próxima audiência foi marcada para 10 de maio.

O atropelamento

A polícia canadense recebeu, às 13h26 (horário local), uma chamada de emergência informando que pedestres haviam sido atropelados na movimentada rua Yonge, uma área comercial no norte de Toronto, a maior cidade do Canadá. O furgão branco alugado percorreu a rua ou a calçada na hora do almoço por cerca de um quilômetro.

"Essa pessoa estava intencionalmente fazendo isso, ele estava matando todo mundo", contou uma testemunha, identificada como Ali, à TV local. "Ele continuou, foi adiante. As pessoas estavam sendo atingidas, uma após a outra."

O motorista, que tentou fugir do local depois do incidente, foi detido por um policial, aproximadamente meia hora depois e a poucos metros do local dos atropelamentos.

Durante a detenção, ele segurava em suas mãos um objeto não identificado, conforme mostram vídeos divulgados nas redes sociais. Ele chega a gritar para o policial - "atire em minha cabeça". O policial conseguiu prendê-lo sem tiros disparados.

O atropelamento ocorreu a cerca de 30 quilômetros do centro da cidade, onde os ministros do Exterior dos países do G7, incluindo Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha, se reuniram na segunda-feira.

RPR/EK/ap/efe/rtr/dw/lusa/ots

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A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App | Instagram

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