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O guru de Bolsonaro e o sonho de despachar os generais para Cuba

Rede bolsonarista não hesita em qualificar como comunista ou simpatizante qualquer um que lhe apresente oposição

5 jun 2019 - 11h13
(atualizado às 12h30)
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<div class="embed-externo"><script data-supercoluna-author="Marcelo Godoy" data-supercoluna-chapter="Capítulo 12" data-supercoluna-role="Repórter especial" data-supercoluna-section="Bolsonaro e os Militares" src="https://arte.estadao.com.br/politica/supercoluna/?v=0.1.1"></script></div>

Caro leitor,

quando o inimigo bate às portas ou a guerra é declarada, a união sagrada toma conta dos países; esconjuram-se as divisões e as inimizades ficam no ar, suspensas, como se congeladas no tempo, esperando novo alvorecer rútilo, quente e calmo. As dissensões no Planalto eram tantas que a corte bolsonarista se viu ameaçada pelo despertar do inimigo em debandada desde a vitória de outubro. Os estudantes foram às ruas diante da balbúrdia palaciana e ajudaram a refazer os laços partidos entre as alas do governo Bolsonaro.

Foi na Educação que as alas olavista e militar do governo encontraram um campo comum de batalha. Foi na luta contra "a dominação da esquerda nas universidades" que o bolsonarismo se reencontrou na mesma trincheira sem que uns tentassem detonar granadas no foxhole do camarada. Enquanto o ministro Abraham Weintraub exibia-se cantando na chuva, em silêncio muitos compartilhavam de sua opinião no Palácio. "Make 'Em Laugh", diria Donald O'Connor na Esplanada.

Militares, Weintraub e o ministro-chefe da Advocacia Geral da União (AGU), André Luiz de Mendonça, têm certeza de que é preciso se opor aos adversários do governo nas salas de aula do ensino superior, negando-lhes aquilo que o Supremo Tribunal Federal liminarmente afirmou por 9 a 0 em outubro de 2018: as liberdades de reunião e cátedra, mesmo nos períodos eleitorais.

Bolsonaro em reunião com ministro da Defesa e comandantes militares 
Bolsonaro em reunião com ministro da Defesa e comandantes militares
Foto: Marcos Correa/Presidencia da Republica / Estadão

Ao lado do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, eles têm certeza de que é necessário conter o uso das universidades como territórios autônomos dominados pelo "inimigo". É conhecida a crítica da extrema-direita ao regime militar: 'deixou o caminho livre para a esquerda nos sindicatos e nas universidades".

Na quinta-feira, dia 30, o Ministério da Educação de Weintraub se esmerou em explicar como professores, pais e alunos não podem promover movimentos político-partidários. É claro que o movimento defendido pelos integrantes do governo, talvez, não existisse se a doutrinação ideológica em sala de aula se prestasse a disseminar apenas ideias conservadoras, conforme o leitor já leu aqui. Acossada pelo movimento contra o contingenciamento de recursos na Educação, fazia um mês que a rede bolsonarista não investia contra os militares do governo, que ela gostava de chamar de 'ala positivista', acusando-a de ser "antiamericana" e de "flertar com ditaduras comunistas". Fazia. Não faz mais.

Da longínqua Virgínia, o guru do governo, o homem que nomeou Vélez, o Breve, o primeiro ministro da Educação - e talvez tenha nomeado o segundo, Weintraub, o Dançarino - resolveu romper a trégua. Olavo de Carvalho mais uma vez reacendeu o pavio de sua velha pendenga contra os militares que lhe barram o exercício do poder. Como um Iago a soprar a suspeita e a cizânia nos ouvidos do Mouro de Veneza, Olavo retomou em suas redes sociais os ataques à caserna. Depois do desastre de seu embate contra o general Villas Bôas, o homem, agora, escolheu se lançar contra os "militares moderados". Pobre Desdêmona...

"Durante vinte anos tentei convencer liberais a aproximar-se das Forças Armadas. Eles nem ligaram. Enquanto isso, os comunistas iam 'ocupando espaços' no meio militar. É impossível, hoje, calcular a profundidade que a influência deles alcançou". E seguiu o guru: "Mas a hospitalidade com que tantos (generais) se afeiçoam a ministros da defesa comunistas e o ódio manifesto com que chamam os conservadores de extremistas devem significar alguma coisa", escreveu o professor de cursos online.

Entre os moderados, está justamente Villas Bôas. E as provas de suas "simpatias esquerdistas" colhidas pela rede bolsonarista são fotos e vídeos do general ao lado do ex-ministros da Defesa e ex-deputado Aldo Rebelo e os elogios a ele e ao também ex-ministro da Defesa e ex-deputado Raul Jugmann - dois ex-comunistas - feitos pelos general na cerimônia de sua despedida do Comando do Exército.

O que Olavo talvez não saiba é que outros generais - inclusive da ativa - também mantém boas relações com Rebelo e publicam fotografias com o ex-ministro em suas redes sociais, como comandante militar do Sudeste, general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira. Contudo, a rede bolsonarista é assim. Não pode ver em seu caminho nenhum obstáculo - generais ou jornalistas - que vai logo chamando de comunista ou simpatizante quem se lhe opõe. Só falta mandar Villas Bôas ir com os demais generais para Cuba ou para a Venezuela.

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Estadão
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