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'Não considero rebaixamento', diz general que deixou de ser ministro para presidir Correios

Floriano Peixoto era titular da Secretária-Geral da Presidência da República e foi a quarta baixa entre os militares do governo em 15 dias

21 jun 2019 - 22h20
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BRASÍLIA - Escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para comandar os Correios, o general Floriano Peixoto afirmou ao Estado que recebeu a missão de "fortalecer" a empresa, mas disse que a ideia de privatizá-la ainda está sendo estudada. Para ele, deixar o cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República para assumir a estatal não representou um "rebaixamento". "Não tem rebaixamento. Zero preocupação com isso", afirmou ele.

Como o sr. recebeu a notícia de que deixaria de ser de ministro para assumir os Correios?

Minha saída foi absolutamente consensual, pacífica, atendendo a uma solicitação do presidente. Eu, como soldado que sou, atendi a uma determinação do presidente da República, que tem demonstrado uma enorme confiança em mim, que diz que sou seu curinga. Não questiono o que é mais importante ou o que é menos importante. Como paraquedista, estou pronto para cumprir esta e outras missões para as quais ele me designar. Ele é o presidente da República e é quem determina onde considera ser mais relevante eu ficar e onde poderei contribuir. Só tenho a agradecer a confiança que ele deposita em mim.

Mas o senhor não se sente rebaixado em deixar de ser ministro?

Não considero rebaixamento. Correios é uma empresa tradicional, histórica, com um patrimônio humano enorme e que precisa de pessoas que somem para recuperar sua saúde financeira e torná-la, novamente, uma empresa eficiente. Não vejo essa questão de rebaixamento e isso não passa pela cabeça de ninguém, nem na minha, nem do presidente. Zero preocupação com isso. Estou muito motivado, comprometido e vou trabalhar com dedicação e lealdade ao presidente. Estou à disposição dele para me colocar para trabalhar onde ele achar que serei mais útil.

O presidente lhe deu a missão de preparar a empresa para privatizá-la?

Não tenho uma diretriz específica em relação a isso. O que o presidente pede é que haja um contínuo esforço no sentido de fortalecer a empresa. Esta questão de privatização é algo de maior complexidade, que deverá ser estudada à frente, em melhores condições pelo presidente e até pelo Parlamento brasileiro e eu não ouso dizer nada disso. Estamos lá para dar continuidade ao fortalecimento da empresa, sua recuperação financeira, estabelecer referenciais de eficiência para resgatar a credibilidade que os Correios sempre tiveram.

Seu antecessor deixou o cargo porque, segundo o presidente, atuava como sindicalista, contra a privatização.

O presidente não comentou isso e não me prendo a questões do passado. Estou trabalhando para o futuro.

O sr., como militar, se tiver de fazer a privatização dos Correios, uma empresa histórica, se sentiria incomodado?

Eu não tenho condições de lhe responder sobre isso agora. Eu seria extremamente irresponsável antecipando algo sobre o qual eu não tenho juízo perfeito formado a respeito. Estou cumprindo um papel que o presidente me designou para trabalhar e somar esforços e esta questão (privatização), como eu disse, é algo que deve ser considerado em outras condições e circunstâncias, para ser decidido pelo presidente e também sob o julgamento do Parlamento.

E quando o sr. acha que isso poderia acontecer? Seriam dois anos, como previu seu antecessor? Tem algum prazo?

Se você conseguir descobrir isso, me fala. Não tenho bola de cristal. Não tem prazo porque a questão crucial não é essa (privatização), é melhorar os indicadores da empresa.

Qual a missão que o presidente lhe deu em relação à empresa?

O presidente espera uma empresa forte, sustentável, com índices de eficiência. O presidente quer os Correios recuperem sua força e prestígio e o papel que sempre cumpriu na história do Brasil.

O sr. acha que tem muito o que consertar nos Correios? O sr. está recebendo uma empresa quebrada?

A informação que tenho é de que a empresa vem sendo bem-sucedida nos últimos dois anos e conseguindo lucros. A empresa vem se recuperando e minha chegada é para trabalhar no esforço de continuar essa recuperação. Não posso me antecipar em relação a nada ou apresentar qualquer prognóstico, porque não cheguei ainda e qualquer informação que passasse seria vaga e descolada da realidade. Não tenho visão clara do que precisa ser feito. Para isso, vou me reunir com a diretoria e obter uma fotografia da situação da empresa, para formar juízo sobre a sua realidade.

A empresa teve por anos diretorias nas mãos de partidos políticos como PTB, MDB e PT, entre outros. O sr. vai evitar indicações políticas?

Eu não tenho critério estabelecido, além de competência, capacidade e lealdade aos valores e princípios da empresa. Vou fazer uma análise bastante criteriosa desses quesitos, mas eu não pensei ainda em fazer uma busca seletiva de quem está ocupando determinado lugar. Tudo tem de ser dentro do decreto de regras de nomeação. O que eu quero é chegar lá, ver como é a empresa, ajudar a fortalecê-la para que ela volte a ser um orgulho nosso, uma das maiores do Brasil, com 120 mil empregados, uma empresa histórica. Aquilo não é um time de futebol, é uma grande empresa, uma senhora empresa.

O sr. vai mudar a vice-presidência e diretorias?

Chego completamente desarmado e sem ideias pré-concebidas. Vou me valer da estrutura atual e esperar que me apresentem e vou trabalhar prestando lealdade inquestionável ao presidente da República que me colocou lá. Meu papel maior é de fortalecer a empresa.

O sr. vai mexer no Postalis, fundo de pensão dos funcionários dos Correios? O fundo foi envolvido em escândalos em governos passados.

Não recebi orientação específica sobre isso. É uma realidade que tem de ser vista, mas não tenho dados.

O comércio eletrônico será priorizado? Será uma das metas da empresa para se fortalecer?

Essa é uma realidade e temos de discutir essas oportunidades para ver o que a empresa já está fazendo e onde ela pode entrar para se modernizar, para se fortalecer, dentro de uma lógica, sem precipitação. Vamos chegar escutando, entendendo o funcionamento, sem reinventar a roda. Chegando com muito critério.

A saída de outro general do Planalto não significa redução do poder dos militares no governo?

Não tem isso. O cargo que ocupava não é de natureza militar e aqui não é um quartel. O presidente coloca quem ele quiser onde ele acha que pode render mais, de acordo com o seu preparo. Todos estão trabalhando em sintonia pelo País e você vai ver que o Brasil vai dar certo nestes novos tempos.

Houve incômodo entre os generais com a demissão do ministro Santos Cruz da Secretaria de Governo?

Não sei disso. Desconheço.

O governo Bolsonaro tem recebido muitas críticas. O sr. acha que o governo está dando certo?

Não vou entrar nessa questão, não. Jamais teceria qualquer comentário sobre o que não é da minha área. Tenho uma lealdade inquebrantável ao presidente Bolsonaro.

Estadão
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