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Vandalismo contra estátua de italiano gera polêmica em Milão

Estudantes reivindicaram ato; autoridades abriram investigação

14 jun 2020 - 14h39
(atualizado às 14h51)
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A promotoria de Milão abriu neste domingo (14) uma investigação após o monumento em homenagem ao jornalista italiano Indro Montanelli (1909-2001), localizado no jardim de um parque homônimo, no centro de Milão, ser pichado e manchado de tinta vermelha.

Montanelli, que faleceu em 2001, admitiu que havia comprado uma garota, de 12 anos, na África
Montanelli, que faleceu em 2001, admitiu que havia comprado uma garota, de 12 anos, na África
Foto: ANSA / Ansa - Brasil

O inquérito será comandado pela Divisão de Investigações Gerais e Operações Especiais (Digos), que analisará todos os vídeos das câmeras próximas ao local para tentar investigar os responsáveis pelo vandalismo.

Ontem (13), as palavras "estuprador" e "racista" foram escritas na base da estátua. Segundo as autoridades locais, pelo menos quatro latas de tinta vermelha também foram derramadas na escultura.

Montanelli, que faleceu em 2001, admitiu, em entrevista à emissora Rai em 1969, que havia comprado uma garota, de 12 anos, no Chifre da África.

O episódio ocorreu na década de 1930, quando o regime fascista de Benito Mussolini tentava estabelecer um império com a conquista da Etiópia.

Em um vídeo publicado nas redes sociais, os grupos Rede Estudantes Milão e o Laboratório Universitário Metropolitano (Lume) reivindicaram o ato.

"Pedimos em voz alta e com convicção para derrubar a estátua em seu nome", escrevem eles, ressaltando que "um colonialista que fez da escravidão uma parte importante da sua atividade política não pode e nem deve ser celebrado na praça pública".

O ato ocorre na mesma semana em que o debate sobre a remoção de monumentos de personalidades com histórico de racismo e colonialismo chegou à Itália, inflamado pela onda de protestos #BlackLivesMatter (Vidas Negras Importam, em tradução livre).

Nos últimos dias, um grupo contra a discriminação racial, sexual e de gênero chamado "Sentinelli di Milano" ("Sentinelas de Milão") já havia pedido ao prefeito da cidade, Giuseppe Sala, e à Câmara Municipal a remoção da estátua em homenagem a Montanelli.

Segundo o coletivo, o jornalista "reivindicou com orgulho até o fim da vida o fato de ter comprado e se casado com uma menina eritreia de 12 anos para que ela fosse sua escrava sexual".

Hoje, Sala, por sua vez, disse acreditar que a estátua de Montanelli deve permanecer lá, no entanto, afirmou estar disponível para conversar sobre racismo e sobre italiano.

Em um vídeo em suas redes sociais, o prefeito de Milão defendeu a permanência do monumento no parque. "Quando julgamos nossas vidas, podemos dizer que a nossa é impecável, sem coisas que eu não faria de novo? Levanto minhas mãos, na minha vida não cometi erros e coisas que gostaria de não ter feito. Mas a vida continua a julgar por sua complexidade. Por todas essas razões, acho que a estátua deve permanecer lá", finalizou.

Esta não é a primeira vez que a estátua do jornalista é alvejada, já que em 2019 ela foi manchada durante uma manifestação de 8 de março.

Ansa - Brasil   
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