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TV alemã é criticada por preconceito ao cobrir casamento real

Em redes sociais e na própria imprensa, comentaristas da ZDF são acusados de fazer observações racistas e sexistas durante a transmissão

20 mai 2018 - 14h20
(atualizado às 16h23)
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O casamento do príncipe Harry e da atriz americana Meghan Markle foi assistido no mundo inteiro neste sábado (19/05). Dezenas de veículos da imprensa internacional acompanharam o evento. Uma televisão alemã, contudo, foi duramente criticada por sua cobertura um tanto questionável.

O príncipe Harry e Meghan Markle se casaram no castelo de Windsor diante de 600 convidados
O príncipe Harry e Meghan Markle se casaram no castelo de Windsor diante de 600 convidados
Foto: DW / Deutsche Welle

Postagens em redes sociais e artigos em veículos alemães acusaram os comentaristas da emissora pública ZDF de fazer observações racistas e sexistas durante a transmissão ao vivo do casamento real. Em alguns momentos, alternativas para adjetivos pareceram faltar.

Os apresentadores, por exemplo, descreveram repetidamente Meghan e outros convidados negros como "exóticos", além de destacar sua "origem afro-americana".

Incomodada com a insistência no uso do termo, uma internauta sugeriu transformar a cobertura numa brincadeira com bebidas. "Toda vez que eles falarem 'ela é de origem afro-americana', beba uma dose de licor", ironizou a alemã no Twitter.

Na TV, houve ainda comentários sobre o cabelo da mãe da noiva, Doria Ragland. "São dreadlocks na mãe de Meghan?", questionou um comentarista da ZDF, que recebeu a resposta: "É um cabelo encaracolado que foi um pouco 'desencaracolado', o mesmo que Meghan provavelmente faz o tempo todo".

Em outro momento, os apresentadores mencionaram o coral gospel The Kingdom Choir, que cantou uma versão emocionante do clássico Stand by me, de Ben E. King, após o sim do casal. "O coral cantou lindamente negro", disse um deles, sobre o grupo formado por negros e regido por uma mulher, a maestrina Karen Gibson.

Outro comentário polêmico foi a respeito da identificação racial de Meghan. Segundo a imprensa alemã, um dos comentaristas disse que a americana "sempre quis uma família estilo Barbie", mas esqueceu que "só existem bonecas Barbie brancas ou negras" - sugerindo que, por ter uma pele mais clara, ela não seria nem um nem outro.

No Twitter, internautas também atentaram para observações que tacharam de sexistas e que reduziam Meghan simplesmente à companheira do príncipe Harry.

Eles fizeram comparações, por exemplo, entre a noiva, a advogada Amal Clooney, mulher do ator George Clooney, e a cantora e estilista Victoria Beckham, casada com o ex-jogador de futebol David Beckham, convidadas da cerimônia neste sábado.

"A ZDF acha que Meghan Markle, Amal Clooney e Victoria Beckham têm currículos muito parecidos. Já que elas tiveram suas próprias carreiras, até que (graças a Deus! Finalmente!) encontraram um homem famoso", ironizou uma usuária na rede social.

Em relação a Beckham, que foi vestida de preto, um dos apresentadores ainda teria feito a seguinte crítica sobre sua aparência: "Ela foi ao evento como se estivesse indo a uma consulta com o ginecologista. E com a maquiagem, ela parece a Família Addams".

Reações indignadas

As declarações provocaram reações inclusive em veículos da imprensa alemã, que criticaram a cobertura da emissora pública como "desrespeitosa".

"A transmissão foi recheada de observações questionáveis sobre as origens de Meghan, linguagem machista e clichês. Não houve respeito com os espectadores nem com as pessoas envolvidas", afirmou Nicola Erdmann, que escreve para o jornal alemão Die Welt.

Lennart Pfahler e Josh Groeneveld, do Huffington Post na Alemanha, criticaram a insistência em destacar a cor de pele da noiva. "A emissora nunca se cansa de enfatizar que Meghan Markle é negra. Negra, negra, negra. Podemos voltar a falar sobre chapéus de novo?", disseram.

No Twitter, o apresentador de TV e comediante Aurel Mertz publicou: "A especialista na ZDF: 'Meghan irradia espírito afro-americano'. Oficialmente, a frase mais branca que alguém já disse".

Uma internauta alemã, por sua vez, questionou se "a ZDF enviou sua melhor delegação da AfD para cobrir o casamento real", referindo-se ao partido populista de direita Alternativa para a Alemanha, de retórica xenófoba. "Eu não ouvia tantos slogans racistas desde a convenção do NPD [Partido Nacional Democrático da Alemanha]", acrescentou.

"Querida ZDF, é realmente irritante que a ascendência de Meghan seja assunto para os repórteres. Se Meghan fosse branca, sobre o que eles falariam? Por favor, trate-os igualmente", escreveu outra internauta.

Meghan Markle e o príncipe Harry se casaram neste sábado na Capela de São Jorge, no castelo de Windsor, diante de 600 convidados. A cerimônia contou com várias quebras de protocolo, como a recusa da noiva em pronunciar a palavra obediência - em inglês, os votos da mulher costumam citar "amar, cuidar e obedecer", mas Meghan omitiu este último termo.

Além disso, o casamento ficou marcado por uma forte presença negra. Além da apresentação do coral The Kingdom Choir, houve um sermão do bispo americano Michael Curry, primeiro afro-americano a presidir a Igreja Episcopal. Em seu discurso, ele falou sobre a força do amor e citou Martin Luther King, ativista negro que lutou pela igualdade de direitos nos EUA.

As cenas do casamento real entre o Príncipe Harry e Meghan Markle:
Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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