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Trump diz que EUA sairão do pacto de armas nucleares; Rússia ameaça retaliação

21 out 2018 - 17h11
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que Washington deve se retirar de um tratado histórico da época da Guerra Fria, que baniu mísseis nucleares da Europa, porque a Rússia estaria violando o pacto, o que provocou um alerta de medidas retaliatórias vindo de Moscou.

O Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, negociado pelo então presidente dos EUA Ronald Reagan e pelo líder soviético Mikhail Gorbachev em 1987, exigia a eliminação de mísseis nucleares e convencionais de curto e médio alcances pelos dois países.

"A Rússia, infelizmente, não honrou o acordo, então vamos encerrar o acordo e sair", disse Trump a repórteres no sábado, em discurso no Estado norte-americano de Nevada.

O vice-chanceler russo, Sergei Ryabkov, disse neste domingo que uma retirada unilateral dos Estados Unidos seria "muito perigosa" e levaria a uma retaliação "técnica-militar".

Gorbachev, agora com 87 anos, disse que seria um erro Washington desistir do tratado, prejudicando o trabalho que ele e os EUA fizeram para acabar com a corrida armamentista da Guerra Fria.

"Eles realmente não entendem em Washington o que isso poderia gerar?", teria dito Gorbachev de acordo com a agência de notícias Interfax.

Um porta-voz do Kremlin disse que o presidente russo, Vladimir Putin, buscará respostas sobre a retirada do acordo quando ele se encontrar com John Bolton, conselheiro de segurança nacional de Trump, para negociações em Moscou nesta semana.

Autoridades norte-americanas acreditam que Moscou está desenvolvendo e implantou um sistema lançador em terra, violando o tratado de forças nucleares, o que poderia permitir um rápido ataque nuclear à Europa. A Rússia sempre negou qualquer violação desse tipo.

Trump disse que os Estados Unidos desenvolverão as armas a menos que a Rússia e a China concordem em parar com a corrida armamentista. A China não é parte do tratado.

CAMPO DE BATALHA NA EUROPA

O acordo que prevê controle de armas, assinado por Reagan e Gorbachev em uma cerimônia na Casa Branca, proíbe mísseis nucleares terrestres de médio alcance capazes de atingir a Europa ou o Alasca.

Ele encerrou uma crise da época da Guerra Fria, quando a União Soviética instalou cerca de 400 ogivas nucleares apontadas para a Europa Ocidental. Os Estados Unidos reagiram colocando os mísseis Pershing e Cruise na Europa.

Mas isso provocou uma onda de protestos de ativistas antinucleares, que sentiram que a implantação transformou a Europa em um potencial campo de batalha nuclear.

No início dos anos de 1980, centenas de milhares de manifestantes reuniram-se em Bonn, na Alemanha Ocidental, e ativistas formaram um campo de protesto em Greenham Common, na Grã-Bretanha, local onde os mísseis Cruise foram instalados.

O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia Ryabkov, disse de acordo com agência de notícias estatal RIA que, se os Estados Unidos se retirassem, a Rússia não teria outra alternativa a não ser retaliar, inclusive tomando medidas não especificadas de "natureza técnico-militar".

"Mas preferimos que as coisas não cheguem tão longe", afirmou ele de acordo com a RIA.

A agência de notícias Tass citou-o dizendo que a retirada "seria uma medida muito perigosa", e que foi Washington, e não Moscou, que descumpriu o tratado.

Ele disse que o governo Trump estava usando o tratado em uma tentativa de chantagear o Kremlin, colocando em risco a segurança global. "Nós, é claro, não aceitaremos ultimatos ou métodos de chantagem", disse ele à Interfax.

O ministro britânico da Defesa, Gavin Williamson, disse em comentários publicados pelo "Financial Times" que Londres está "decidida" em se postar ao lado de Washington sobre o assunto, e que o Kremlin está ridicularizando o acordo.

No entanto, outro membro da OTAN, a Alemanha, expressou dúvidas.

O ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, disse que há 30 anos o tratado é um pilar da arquitetura de segurança da Europa. "Nós agora pedimos aos Estados Unidos que considerem as possíveis conseqüências" de desistir do pacto, disse Maas neste domingo.

Trump ameaçou no passado rasgar acordos internacionais, mas não foi à frente com isso.

O senador republicano Bob Corker, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA, traçou um paralelo com o pacto comercial do NAFTA, que Trump ameaçou derrubar, antes de uma versão retrabalhada do acordo ser negociada no mês passado.

"Isso poderia ser um pouco como o fato de que eles iriam acabar com o NAFTA e depois negociaram algumas pequenas mudanças", disse Corker à CNN.

"Então, isso poderia ser algo para tentar fazer a Rússia entrar em acordo conosco." Corker disse que desistir do tratado não surgiu em uma conversa com o secretário de Estado de Trump, Mike Pompeo.

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