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Trump cancela reunião com Kim horas após Coreia do Norte destruir área de testes nucleares

Reunião estava marcada para junho em Cingapura, mas já havia dúvidas sobre sua realização desde que autoridades dos dois países retomaram a troca de hostilidades.

24 mai 2018 - 17h53
(atualizado em 25/5/2018 às 12h05)
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trump kim
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Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O presidente americano, Donald Trump, cancelou a reunião marcada com Kim Jong-un e atribuiu decisão à "enorme raiva e hostilidade declarada" demonstrada recentemente pelo líder norte-coreano.

Trump disse que a reunião ainda pode vir a ocorrer, mas alertou os norte-coreanos quanto às possíveis consequências caso venham a cometer atos "insensatos".

O encontro trataria da desnuclearização da península coreana e seria a primeira vez que um presidente americano, ainda durante seu mandato, se encontraria com um líder da Coreia do Norte.

Antes de Trump se pronunciar, já havia dúvidas sobre a realização do encontro. O anúncio do presidente americano representa mais uma reviravolta nas tensas relações entre ele e Kim.

No ano passado, os dois trocaram insultos e ameaças publicamente, levando o mundo a imaginar a possibilidade de uma guerra nuclear. Mas, neste ano, as hostilidades diminuíram - a Coreia do Norte chegou a libertar três americanos que estavam presos no país.

O cancelamento do encontro veio apenas algumas horas de a Coreia do Norte confirmar que havia destruído túneis em seu único local de testes nucleares, uma medida testemunhada por jornalistas estrangeiros levados até o local.

O que disse Trump?

Em uma carta endereçada a Kim, o presidente americano afirmou que tinha uma grande expectativa pelo encontro em 12 de junho em Cingapura.

"Estava ansioso por estar lá com você. Infelizmente, com base na enorme raiva e hostilidade declarada demonstrada em seu mais recente pronunciamento, acho que é inapropriado, agora, realizar esse encontro planejado por um longo tempo", afirmou Trump.

Cancelamento do encontro foi anunciado algumas horas após a Coreia do Norte confirmar que havia destruído túneis em seu único local de testes nucleares
Cancelamento do encontro foi anunciado algumas horas após a Coreia do Norte confirmar que havia destruído túneis em seu único local de testes nucleares
Foto: AFP / BBC News Brasil

"Você fala de sua capacidade nuclear, mas a nossa é tão massiva e poderosa que eu peço a Deus que nunca seja usada."

Ele disse que a reunião frustrada foi uma "oportunidade perdida" e declarou em seguida: "Espero me encontrar com você algum dia".

Em um pronunciamento posterior na Casa Branca, Trump afirmou que isso representa um "enorme revés para a Coreia do Norte e para o mundo", acrescentando que as Forças Armadas americanas estão "a postos se necessário" para reagir a qualquer ato "insensato" da Coreia do Norte.

Resposta

O presidente americano estava aparentemente respondendo a declarações da Coreia do Norte com ataques ao seu governo e que colocavam em dúvida a realização do encontro.

No início desta quinta-feira, a vice-ministra de Relações Exteriores da Coreia do Norte, Choe Son-hui, considerou "estúpido" um comentário feito pelo vice-presidente americano, Mike Pence, dizendo que a Coreia do Norte poderia "acabar como a Líbia".

Foi uma refererência ao que ocorreu com o país norte-africano e seu ex-ditador no início da década passada.

Em 2003, Muammar Khadafi aceitou abrir mão do programa nuclear líbio - em uma entrevista à CNN, ele declarou que a invasão do Iraque e a deposição de Saddam Hussein por uma coalizão liderada pelo Estados Unidos haviam influenciado sua decisão.

Em troca, as sanções americanas contra o país norte-africano foram suspensas e as relações diplomáticas com os Estados Unidos foram retomadas.

Mas, em 2011, Khadafi foi deposto por rebeldes e militantes apoiados pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Acabou capturado e morto.

O conselheiro de segurança nacional de Trump, John Bolton, já havia feito a mesma comparação e deixado autoridades norte-coreanas insatisfeitas, aumentando a tensão entre os dois países.

Cúpula trataria de desnuclearização da península coreana
Cúpula trataria de desnuclearização da península coreana
Foto: AFP / BBC News Brasil

Choe, que esteve envolvida em diversas interações diplomáticas com os Estados Unidos na última década, disse que a Coreia do Norte não "imploraria" por diálogo e alertou sobre a possibilidade de um "confronto nuclear" caso a diplomacia falhe.

Uma autoridade da Casa Branca teria afirmado à agência Reuters que os comentários sobre Pence foram "a última gota", mas que nem todas as portas para o diálogo foram fechadas.

Qual foi a reação ao anúcio de Trump?

O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, disse estar "muito perplexo" e afirmou ser "muito lamentável" que o encontro não será mais realizado, de acordo com a agência de notícias Yonhap.

O relacionamento entre as duas nações vizinhas melhorou neste ano, e Moon e Kim se reuniram no mês passado.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, declarou que os Estados Unidos e a Coreia do Norte não devem desistir da cúpula e afirmou que "nervos de aço" são necessários no momento.

Nos Estados Unidos, o senador Tom Cotton, do Partido Republicano, o mesmo do presidente, parabenizou Trump "por enxergar a fraude de Kim Jong-un".

Mas o senador democrata Brian Schatz disse que a decisão é o que acontece "quando se juntam amadores e belicistas".

E agora?

O governo Trump afirma que as reações da Coreia do Norte nas preparações para a cúpula foram insatisfatórias, levantando dúvidas sobre se a reunião geraria resultados positivos, diz Jonathan Marcus, correspondente de diplomacia da BBC.

"Antes da retomada de relações entre as Coreias que deu início ao processo que levou à reunião ser marcada, houve uma troca intensa de retórica entre Pyongyang e Washington, gerando temores de um novo conflito na península coreana", afirma Marcus.

"A grande questão é o que acontecerá agora. O Norte vai retomar os testes de mísseis? A guerra de palavras voltará? Ou há uma pequena chance de algum tipo de processo diplomático ser mantido?"

Por fim, questiona o jornalista, "as relações entre as Coreias podem ser isoladas da crescente tensão entre Pyongyang e Washington"?

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