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Salvos mas ainda em sofrimento, imigrantes do Aquarius seguem para Espanha

15 jun 2018 - 19h23
(atualizado às 19h26)
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Salvos da morte no mar, mas negados de um lugar para desembarcar na Itália, os 629 imigrantes resgatados pelo navio de caridade Aquarius aguentaram mais 1.300 quilômetros de viagem à Espanha, que um dos membros da equipe de resgate disse ser culpa de políticas "idiotas".

Imigrantes no deque do MV Aquarius no mar Mediterrâneo
12/06/2018
Karpov / SOS Mediterranee/REUTERS
Imigrantes no deque do MV Aquarius no mar Mediterrâneo 12/06/2018 Karpov / SOS Mediterranee/REUTERS
Foto: Karpov/SOS Mediterranee / Reuters

O ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, diretor do partido de extrema-direita Liga, que negou ao Aquarius um desembarque seguro disse na quinta-feira que imigrantes não possuem o direito de "decidir onde começar e terminar a viagem".

Tendo passado 20 horas em embarcações de borracha lotadas antes de serem resgatados após deixarem a costa da Líbia, além de uma semana no Aquarius com um futuro incerto, ondas de 4 metros somaram à miséria dos imigrantes durante as noites, disse Max Avis, vice-coordenador de busca e resgate no navio, à Reuters.

"A enfermeira entregava um saco de vômito para uma mulher enquanto ela amamentava seu bebê", disse Avis.

"Nós temos os mais vulneráveis dos vulneráveis neste navio neste momento e em vez de serem cuidados e apoiados, eles estão sendo usados... em um exercício idiota de influência política".

O incidente do Aquarius deu ao novo governo da Itália uma chance de afirmar sua posição anti-imigração e gerou tanto críticas quanto apoio de países vizinhos na União Europeia, que não conseguiu chegar a uma solução de todo o bloco para o desafio do grande número de pessoas que fogem para a Europa.

Há 51 mulheres e 10 crianças entre os imigrantes e a maioria dorme no deque. Além de enjoos causados pelo mar, muitos têm queimaduras por conta de uma mistura de combustível e água do mar, e médicos no Aquarius trataram um homem cujo dedo foi parcialmente amputado na Líbia.

Uma das embarcações de borracha quebrou no meio de um resgate noturno, disse Avis. Foi descoberto somente nesta sexta-feira que dois jovens estão desaparecidos, provavelmente afogados. Muitos outros tiveram que ser ressuscitados após serem retirados do mar.

"Nós puxamos pessoas que tinham se afogado. Literalmente, elas estavam sentadas como fetos dentro da água e nós só as agarramos e as puxamos para dentro. O médico estava fazendo ressuscitações e nós colocamos mais e mais pessoas em cima das pessoas que ele estava ressuscitando... isto durou seis horas", disse Avis.

"Nós ficamos sem coletes salva-vidas. Nós começamos a tirar os coletes de pessoas conforme elas entravam (no barco de resgate) e jogar para pessoas que caíam na água".

Para transportar todas as 629 pessoas à Espanha em segurança, a Itália está usando dois de seus navios em um comboio com o Aquarius, operado por uma caridade franco-alemã e que possui 106 pessoas a bordo. Os imigrantes devem desembarcar no porto de Valência no domingo, oito dias após serem resgatados e nove após deixarem a Líbia.

Enquanto isso, nesta sexta-feira, a guarda costeira da Itália estava resgatando outros 500 imigrantes, disse o ministro dos Transportes, Danilo Toninelli.

"Ninguém pode dizer que estamos ignorando nossas funções, ou que somos racistas e xenofóbicos", disse Toninelli em comunicado. "A Itália sempre esteve e permanece na linha de frente no que diz respeito a salvar vidas no mar".

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