Risco da dívida italiana já se equipara ao da Grécia
Mercado elevou temor com situação fiscal do país
A ameaça de uma denúncia da Comissão Europeia contra a Itália por causa de violações das normas fiscais do bloco fez o risco da dívida do país praticamente se igualar ao da Grécia, nação que ficou à beira da bancarrota e de deixar a zona do euro no início desta década.
No pregão desta sexta-feira (31), o spread entre o BTP italiano de 10 anos e os títulos da dívida da Alemanha chegou a bater em 294 pontos-base, com juros de 2,72%, e se aproximou dos rendimentos em Atenas (2,90%) - a sessão terminou com spread em 287 pontos-base, com juros de 2,66%.
Em 2012, o spread entre os títulos de 10 anos da Itália e da Grécia era de 2,7 mil pontos-base, mas a distância despencou ao longo dos últimos sete anos e chegou a pouco mais de 20 pontos-base nesta sexta. Esse índice não era tão baixo desde 2008, antes da crise grega, iniciada quando o então primeiro-ministro George Papandreou admitiu que o país enviara dados econômicos falsos à União Europeia.
Em relação aos títulos de cinco anos, o mercado considera a dívida italiana até mais arriscada que a da Grécia: enquanto o spread entre Itália e Alemanha subiu 10 pontos e atingiu 234, aquele entre os títulos grego e alemão caiu para 226.
Com isso, o BTP de cinco anos da Itália paga 1,74% de juros, enquanto o título grego quinquenal tem rendimento de 1,68% - quanto maiores os juros, maior o risco. "Os investidores estão premiando Atenas pelo esforço para melhorar suas contas públicas. A Itália substituiu a Grécia como principal fator de risco político na Europa", disse um analista.
A desconfiança se deve ao afrouxamento das metas fiscais da Itália, que deve fechar 2019 com um déficit de 2,4% do PIB (mais de 40 bilhões de euros) e aumentar ainda mais sua dívida, hoje superior a 130% do Produto Interno Bruto e menor apenas que a da Grécia na zona do euro.
A Comissão Europeia enviou uma carta pedindo explicações sobre a expansão do déficit e pode até denunciar o país por violação das normas fiscais do bloco. Apesar disso, o governo planeja um corte de impostos de 30 bilhões de euros para empresas e pessoas físicas, o que pode agravar a situação das contas públicas.