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Repórteres da Reuters presos em Mianmar receberão veredicto na próxima semana

20 ago 2018 - 08h51
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O juiz a cargo do julgamento de dois repórteres da Reuters presos em Mianmar acusados de obter documentos secretos de Estado disse nesta segunda-feira que dará seu veredicto do caso, visto por muitos como um teste da liberdade de imprensa na democracia nascente do país, no dia 27 de agosto.

Polícia escolta jornalista da Reuters Wa Lone na chegada a tribunal para audiência em Yangon 20/08/2018 REUTERS/Ann Wang
Polícia escolta jornalista da Reuters Wa Lone na chegada a tribunal para audiência em Yangon 20/08/2018 REUTERS/Ann Wang
Foto: Reuters

O magistrado marcou a data depois de ouvir os argumentos finais dos dois lados, durante os quais os advogados dos dois jornalistas disseram que eles foram "incriminados" pela polícia na tentativa de interferir em sua cobertura jornalística de um massacre de muçulmanos rohingyas.

"O dever do repórter é revelar a verdade", disse o principal advogado da defesa, Khin Maung Zaw. "Algumas pessoas podem não gostar desta verdade".

Zaw alegou que a acusação não conseguiu provar que os repórteres procuraram os documentos no cerne do caso, ou que estes últimos são uma ameaça à segurança nacional, componentes cruciais do caso.

O tribunal de Yangon tem realizado audiências desde janeiro para decidir se Wa Lone, de 32 anos, e Kyaw Soe Oo, de 28 anos, são culpados por terem violado a Lei de Segredos Oficiais, que data da era colonial do país e prevê uma pena máxima de 14 anos de prisão.

À época de sua prisão, no ano passado, os dois repórteres trabalhavam em uma investigação da Reuters sobre o assassinato de 10 meninos e homens rohingyas em um vilarejo de Rakhine, Estado do oeste de Mianmar, durante uma repressão do Exército que agências da Organização das Nações Unidas (ONU) disseram ter feito cerca de 700 mil rohingyas fugirem para Bangladesh.

O procurador-chefe, Kyaw Min Aung, disse que as ações dos dois jornalistas mostraram que eles "pretenderam prejudicar" o país. Ao buscarem documentos que poderiam representar uma ameaça à nação se seu conteúdo fosse obtido por grupos extremistas, disse ele, a dupla estava trabalhando em benefício da Reuters, e não do interesse nacional.

"A Reuters é uma agência de notícias estrangeira que paga seus repórteres em dólares", disse. "Descobriu-se dos repórteres que eles enviaram suas notícias à Reuters e suas próprias provas mostram que a Reuters vende notícias por dinheiro".

O advogado da defesa, Khin Maung Zaw, disse ser óbvio que Wa Lone e Kyaw Soe Oo são repórteres e que a corte não ouviu depoimentos insinuando que fossem espiões.

"O governo não designou a Reuters como um inimigo da nação", acrescentou.

Não foi possível contatar o porta-voz governamental, Zaw Htay, de imediato para obter comentários nesta segunda-feira. Na maioria das ocasiões ele se recusou a comentar durante o julgamento, dizendo que as cortes de Mianmar são independentes.

A Reuters disse em comunicado que não há base para uma condenação e que espera pela absolvição dos repórteres, o que seria um passo importante para demonstrar o compromisso de Mianmar com o Estado de Direito, a liberdade de imprensa e a democracia.

"A evidência perante o tribunal é clara: Wa Lone e Kyaw Soe Oo são dois repórteres honestos que não cometeram um crime", disse a agência de notícias no comunicado. "Prendê-los por mais um dia seria um castigo ilegal por seu jornalismo verdadeiro e importante".

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