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Protestos por George Floyd: por que as declarações de Trump sobre uso de militares em protesto enfureceram generais

Em rara entrevista, general da reserva Martin Dempsey disse que menção de Trump ao emprego de militares para conter manifestações era 'muito problemática' e 'perigosa'.

5 jun 2020 - 18h34
(atualizado em 6/6/2020 às 07h39)
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O general Martin Dempsey somou-se a outros ex-militares que criticaram o presidente publicamente
O general Martin Dempsey somou-se a outros ex-militares que criticaram o presidente publicamente
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Mais um alto ex-oficial das Forças Armadas nos EUA criticou o presidente Donald Trump por ameaçar usar as tropas para reprimir protestos em curso no país.

O general Martin Dempsey, que foi chefe do Estado-Maior Conjunto nos EUA, disse à rádio pública americana NPR que a fala de Trump era "muito problemática" e "perigosa".

O atual e o ex-secretário de Defesa também se manifestaram.

Na segunda-feira, o presidente ameaçou usar os militares para "resolver rapidamente" a turbulência se os Estados falhassem em agir.

Manifestações, em sua maioria pacíficas, se espalharam pelos EUA desde a morte do americano negro George Floyd, sufocado em uma abordagem policial no mês passado.

Embora os protestos pareçam estar diminuindo na capital Washington, o perímetro de segurança da Casa Branca se expandiu nos últimos dias.

A polícia usou cassetetes e gás lacrimogêneo para afastar manifestantes do parque Lafayette na segunda-feira e, desde então, ergueu altas cercas em torno da residência presidencial.

Trump ameaçou usar militares para reprimir protestos pelo país
Trump ameaçou usar militares para reprimir protestos pelo país
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Quem criticou Trump?

"A ideia de que o presidente assuma o controle da situação usando militares era problemática para mim", Dempsey disse num raro pronunciamento público na quinta-feira.

"A ideia de que os militares seriam convocados para dominar e suprimir o que, na maior parte, eram protestos pacíficos - em que alguns de forma oportunista os tornaram violentos - e que os militares de alguma forma chegariam e acalmariam a situação era bem perigosa para mim", acrescentou.

Dempsey serviu como o mais antigo oficial militar no governo Barack Obama entre 2011 e 2015.

As críticas foram feitas um dia depois de o general Jim Mattis, ex-secretário de Defesa de Trump, criticar o presidente, afirmando que ele deliberadamente estimulava divisões.

"Donald Trump é o primeiro presidente na minha história de vida a não tentar unir o povo americano - nem finge tentar", escreveu Mattis na revista The Atlantic. "Ao invés disso, ele tenta nos dividir."

Trump contra-atacou no Twitter chamando-o de "general superestimado".

Naquele mesmo dia, o atual secretário de Defesa de Trump, Mark Esper, também se pronunciou.

Ele disse que o uso de militares na ativa para reprimir turbulências pelo país seria desnecessário - declaração que desagradou a Casa Branca.

O que Trump disse sobre o envio de militares?

A reação do governo de Donald Trump aos protestos foi enviar a Guarda Nacional às ruas
A reação do governo de Donald Trump aos protestos foi enviar a Guarda Nacional às ruas
Foto: AFP / BBC News Brasil

Trump disse na segunda-feira que agiria para dispersar protestos violentos.

"Em uma cidade ou Estado que se recuse a tomar as medidas que sejam necessárias para defender a vida e a propriedade de seus residentes, então eu enviarei os militares dos EUA e resolverei rapidamente o problema por eles", ele disse.

Enquanto ele falava, autoridades usaram a força para dispersar um protesto majoritariamente pacífico nas redondezas para que o presidente pudesse caminhar até uma igreja danificada por um incêndio num protesto recente e ser fotografado com uma Bíblia nas mãos.

O Departamento de Justiça ordenou que a praça Lafayette, que fica do lado de fora da residência presidencial, fosse cercada para proteger a caminhada de Trump.

Na quinta à tarde, a zona de segurança foi consideravelmente ampliada, e altas cercas foram instaladas em volta de uma área ao sul da Casa Branca.

Também na quinta, a senadora republicana Lisa Murkowski anunciou que não tinha certeza se apoiaria a reeleição de Trump.

O ato foi considerado a maior crítica já sofrida por Trump por parte de um senador do seu próprio partido.

Pouco depois, Trump tuitou que faria campanha para que a senadora do Alaska não se reeleja em 2022.

Ele também tuitou uma carta escrita pelo seu ex-advogado John Dowd que se referiu a manifestantes pacíficos em Washington como "terroristas". E criticou John Kelly, seu ex-chefe de gabinete na Casa Branca, após o general apoiar Mattis.

A senadora Lisa Murkowski fez críticas ao presidente Donald Trump
A senadora Lisa Murkowski fez críticas ao presidente Donald Trump
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Enquanto isso, o jornal The News York Times disse que errou ao publicar um artigo do senador por Arkansas Tom Cotton com o título "Mandem os soldados".

A retratação ocorreu após dezenas de jornalistas do veículo criticarem a decisão de publicar o artigo, argumentando que ele punha em risco funcionários negros do próprio jornal.

O jornal inicialmente defendeu a publicação do texto - favorável ao envio de militares para conter os protestos - dizendo que queria oferecer aos leitores opiniões diversas.

Mas posteriormente o jornal publicou um comunicado dizendo que "um processo editorial apressado levou à publicação de um artigo que não atendia aos nossos padrões".

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