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Protestos no Chile levam Piñera a cancelar cúpula do clima e fórum do Pacífico

Ao cancelar importantes encontros internacionais, presidente chileno diz que prioridade é restabelecer a ordem pública

30 out 2019 - 11h35
(atualizado em 31/10/2019 às 06h02)
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SANTIAGO - Pressionado por grandes protestos que têm terminado em confronto e depredações, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, desistiu na manhã desta quarta-feira, 30, de receber duas importantes cúpulas internacionais, uma econômica e outra ambiental, que ocorreriam este ano. Ele alegou que a prioridade agora é "restabelecer a ordem pública".

Enquanto o líder conservador lamentava a decisão, milhares de chilenos a ignoravam e voltavam a se reunir na Plaza Itália, a dois quilômetros do Palácio de la Moneda.

Houve novos confrontos entre parte dos manifestantes que tentava chegar à sede presidencial e veículos blindados. Durante toda a tarde, os sons ouvidos nas quadras próximas do palácio foram os de sineres de bombeiros ou da polícia, de explosões de bombas de gás, de pedras atingindo os blindados e dos manifestantes chamando de assassinos os "pacos", apelido dos policiais militares. Há 19 mortes, 5 delas atribuídas às forças de segurança.

Desde o dia 18, após um protesto contra o aumento no preço do metrô seguido de uma depredação simultânea de mais de 40 estações, Piñera tem tomado medidas contrárias a seu programa de governo para tentar arrefecer a mobilização.

A suspensão do encontro da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) , que reuniria líderes mundiais nos dias 16 e 17 de novembro, e da Conferência do Clima da ONU, a COP-25, prevista para 2 a 13 de dezembro, foi o recuo de maior repercussão externa.

"É uma decisão dura, afinal 73% de nossas exportações vão para a Apec. A COP também era fundamental para lutar contra mudanças climáticas. Elas não ocorrerão mais no Chile, mas nosso trabalho para ter uma economia mais aberta será mantido", afirmou Piñera em um comunicado, demonstrando abatimento.

Suas concessões não têm diminuído a mobilização, que varia de acordo com o tema central da convocação, feita pelas redes sociais e sem líder conhecido. As desta quarta-feira, 30, focadas em pedágios (há oito praças para se cruzar Santiago), foram menores que as de terça-feira, por melhoria nas aposentadorias.

Para especialistas, a diversidade de demandas e a falta de um negociador do lado oposto são justamente fatores que fizeram a estratégia de Piñera fracassar até agora. Após dizer que estava em guerra, o presidente tem feito concessões em sequência.

Primeiro, ele anunciou um pacote de emergência cujo custo será de US$ 1,2 bilhão. Depois, fez uma série de mudanças no gabinete, trocas criticadas pelos manifestantes por não trazerem ministros de outra corrente política. Alguns nem foram demitidos, só trocaram de pasta.

Na reunião da Apec, a Casa Branca esperava que o presidente Donald Trump assinasse com o chinês Xi Jinping o primeiro protocolo para um acordo comercial que colocaria fim à disputa entre os dois países.

"A suspensão gera um dano enorme à imagem do país. A guerra comercial entre EUA e China poderia ter um fim aqui. Em contrapartida, seria muito difícil manter as cúpulas. Ter Trump por aqui poderia gerar mais protestos. É um revés para Piñera", avalia o analista político Juan Pablo Toro, da consultoria Athena Lab e professor da Pontifícia Universidade Católica do Chile.

De acordo com o analista, na marcha que reuniu mais de um milhão de pessoas na sexta-feira havia mais de 100 exigências. "Com quem se negocia? Isso pode terminar se houver esgotamento, ou se a oposição de esquerda, que começou incentivando, recuar."

Piñera disse ontem não descartar "mudanças estruturais", o que foi interpretado como uma abertura à convocação de uma Constituinte, promessa que Michelle Bachelet, sua antecessora, não conseguiu cumprir.

Na avaliação de Eugenio Guzmán, professor da Universidad del Desarrollo, governo e oposição ainda têm diagnósticos distintos para a revolta. "A oposição pede nova Constituição, enquanto o governo aposta em reformas econômicas que aliviem a situação da população. Há uma insatisfação estrutural com os políticos e seus salários, com um crescimento econômico regular do qual muitos foram excluídos. É uma revolta que poderia ter sido detonada em um governo de esquerda ou de direita", afirma Guzmán.

Brasil retirou candidatura para sediar COP

Em novembro do ano passado, o Brasil retirou sua candidatura para sediar o evento, que foi, na sequência, abraçado pelo governo chileno. O governo alegou como motivo "dificuldades orçamentárias" e o processo de transição presidencial. Após ser eleito, o presidente Jair Bolsonaro defendeu a decisão do Brasil de não sediar a conferência. "Abrimos mão de sediar a Conferência Climática Mundial da ONU, pois custaria mais de R$ 500 milhões ao Brasil", escreveu em seu Twitter em dezembro.

Estadão
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