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Primeiro presidente do Irã diz que Khomeini traiu a Revolução Islâmica de 1979

4 fev 2019 - 17h38
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O aiatolá Ruhollah Khomeini traiu os princípios da revolução iraniana após chegar ao poder em 1979, deixando um gosto "muito amargo" entre alguns daqueles que retornaram com ele em triunfo à Teerã, disse seu primeiro presidente à Reuters.

Ex-presidente iraniano Abolhassan Bani-Sadr, em entrevista à Reuters em Versalhes,  31/1/2019  REUTERS/Philippe Wojazer
Ex-presidente iraniano Abolhassan Bani-Sadr, em entrevista à Reuters em Versalhes, 31/1/2019 REUTERS/Philippe Wojazer
Foto: Reuters

Abolhassan Bani-Sadr, um declarado opositor dos governantes clérigos do Irã desde que foi retirado do poder e fugiu do país em 1981, relembrou como 40 anos atrás, em Paris, ele foi convencido de que a Revolução Islâmica do líder religioso poderia abrir caminho para a democracia e para os direitos humanos no país após o governo do Xá.

"Quando estávamos na França tudo que dizíamos para ele, ele abraçava e anunciava como versos do Corão, sem qualquer hesitação", disse Bani-Sadr, agora com 85 anos, durante entrevista em sua casa em Versalhes, nos arredores de Paris, onde tem vivido desde 1981.

"Nós tínhamos certeza de um líder religioso estava se comprometendo e que todos esses princípios aconteceriam pela primeira vez em nossa história", disse.

Khomeini fugiu do Irã durante a década de 1960, temendo uma repressão a seus ensinamentos por parte do Xá, eventualmente se instalando em uma casa modesta em um vilarejo fora de Paris, de onde estimulou protestos no Irã e alimentou a futura Revolução Islâmica.

Bani-Sadr, filho de um graduado clérigo xiita e ex-estudante de economia em Paris, tinha laços familiares próximos com Khomeini e o ajudou a se mudar para a França após períodos na Turquia e no Iraque, tornando-se um de seus maiores aliados.

"A França era uma encruzilhada de ideias e informações, e foi por isso que ele a escolheu depois que o Kuweit se recusou a recebê-lo", disse Bani-Sadr. "Quando ele estava na França, ele estava do lado da liberdade. Ele temia que o movimento não chegaria a sua conclusão e que ele seria forçado a permanecer lá."

Para observadores do Ocidente, pelo menos, Khomenei parecia abraçar uma interpretação mais moderna do Islã, na qual a religião e a política eram mantidas separadas e com a qual o Irã se distanciaria da ditadura do Xá, disse Bani-Sadr.

"Foi quando ele desceu as escadas do avião no Irã que ele mudou... os mulás o controlaram e o deram um novo destino, que é a ditadura que vemos hoje", disse.

Bani-Sadr foi eleito presidente do Irã em 5 de fevereiro de 1980 em votação popular, mas de acordo com a nova Constituição da República Islâmica, Khomenei detinha o poder real --um quadro que continuou desde sua morte em 1989 com seu sucessor, o aiatolá Ali Khamenei.

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