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Presidente da Comissão Europeia compara Itália à Grécia

Jean-Claude Juncker criticou projeção de aumento do déficit

1 out 2018 - 18h47
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O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, comparou nesta segunda-feira (1º) a Itália com a Grécia e disse que é preciso ser "rígido" com a lei orçamentária do país, que prevê um déficit fiscal de 2,4%.

    As declarações foram dadas durante um evento na Alemanha, em meio às discussões sobre o risco de uma explosão da dívida pública italiana, que é uma das maiores do mundo e a segunda maior da zona do euro, em 132% do PIB.

    "Não gostaria que, depois de superada a crise grega, voltássemos à mesma crise com a Itália. Uma só crise do tipo é suficiente", afirmou Juncker. A Grécia entrou em derrocada quando ficou claro que não conseguiria pagar sua dívida de quase 180% do PIB, frutos de anos seguidos de gastos acima da arrecadação, o chamado déficit.

    A UE teme que a Itália siga pelo mesmo caminho, o que seria fatal para o euro e talvez até para o próprio projeto europeu, já que o país é um dos fundadores do bloco e a terceira economia da zona da moeda comum.

    "Devemos evitar que a Itália reclame tratamentos especiais que, se concedidos a todos, significariam o fim do euro. Precisamos ser muito rígidos", acrescentou Juncker. As declarações irritaram o ministro do Interior e vice-premier Matteo Salvini, que acusou o presidente da Comissão Europeia de insultar o país.

    "Na Itália, ninguém cai nas ameaças de Juncker, que agora compara nosso país à Grécia. Queremos trabalhar para responder às necessidades de nossos cidadãos, chega de ameaças e insultos da Europa, a Itália é um país soberano", disse.

    Crítica - Horas antes do bate-boca via imprensa, a União Europeia já havia alertado que a previsão de déficit da Itália não está de acordo com as regras do bloco.

    Na semana passada, o governo chegou a um pacto para adotar um déficit de 2,4% pelos próximos três exercícios, apesar da resistência do ministro de Finanças Giovanni Tria, para financiar promessas eleitorais.

    No entanto, a UE cobra que o índice não ultrapasse 1,6%, em função da elevada dívida pública do país. "Não vejo como essas cifras sejam compatíveis com nossas regras, trabalhamos com a base de 1,6%. Com 2,4%, está claro que o déficit estrutural não será olhado do mesmo jeito", declarou o comissário europeu para Assuntos Econômicos, Pierre Moscovici, acrescentando, contudo, que não pretende "provocar uma crise com a Itália".

    As normas da UE exigem que os Estados-membros mantenham o déficit nominal abaixo de 3% do PIB e o estrutural (que exclui medidas emergenciais e efeitos da conjuntura) em um patamar que permita reduzir a dívida pública. No caso da Itália, esse índice é de 1,6%.

    "Noto que a Itália é o único país da zona do euro que terá em 2019 uma política expansionista e de retomada, mesmo sendo um dos países mais endividados. Nunca fui um defensor da austeridade, não acho que seja necessário impedir um país de fazer gastos sociais, mas, para isso, é preciso fazer boas escolhas, definir prioridades, e não realizar um acúmulo de despesas", acrescentou.

    O principal objetivo do governo é usar o déficit para financiar a chamada "renda de cidadania", que pagará um subsídio para trabalhadores desempregados, e o piso de 780 euros na aposentadoria.

    Serão destinados 10 bilhões de euros para as duas medidas, que, segundo o ministro do Trabalho Luigi Di Maio (M5S), beneficiarão 6,5 milhões de pessoas e "acabarão com a pobreza" na Itália - a grosso modo, esse dinheiro pode render uma média de 130 euros por mês para seus beneficiários.

    Di Maio acusou Moscovici de criticar a lei orçamentária apenas para aumentar o spread entre os títulos da dívida pública da Itália e da Alemanha, indicador usado como reflexo da confiança dos investidores no país. O índice fechou o pregão desta segunda-feira em 282 pontos, alta de 5,6%.

    "Nesta manhã, alguém não gostou que o spread não tivesse subido.

    Moscovici, que não é italiano, acordou e pensou em fazer declarações contra a Itália e criar tensões no mercado", afirmou o ministro.

Ansa - Brasil   
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