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Por que o plano do Brexit abriu uma crise no governo britânico?

Chanceler Boris Johnson anuncia sua renúncia horas após a saída de outro importante secretário do gabinete da premiê Theresa May, que enfrenta fortes resistências ao seu plano para a saída do Reino Unido da União Europeia.

9 jul 2018 - 14h07
(atualizado às 15h10)
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Johnson foi o segundo secretário do gabinete a renunciar, aprofundando a crise para o governo de May
Johnson foi o segundo secretário do gabinete a renunciar, aprofundando a crise para o governo de May
Foto: PA / BBC News Brasil

As difíceis negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia - o Brexit - levaram mais uma figura de peso a abandonar o governo britânico e abriram especulações quanto a uma grave crise de liderança.

O secretário de Relações Exteriores, Boris Johnson, anunciou sua renúncia nesta segunda-feira, horas após o secretário especial para o Brexit, David Davis, também ter renunciado.

A saída de ambos é uma reação ao plano divulgado pela primeira-ministra, Theresa May, na sexta-feira, que prevê a manutenção de fortes laços econômicos com a União Europeia após a saída britânica do bloco, programada para março do ano que vem.

O plano, traçado pelo gabinete de May na tentativa de desbloquear as negociações do Brexit com o bloco europeu, tem enfrentado resistência interna.

Em sua carta de renúncia, no domingo, Davis afirmou que "a direção (adotada pelo plano) deixa (o Reino Unido) em uma posição fraca de negociação" com o bloco, opinando que a proposta "entrega o controle de grande parte da nossa economia à UE".

Em entrevista à BBC nesta segunda-feira, Davis afirmou esperar que o Reino Unido "resista com força a qualquer pedido de novas concessões" nas negociações.

May respondeu em uma carta rejeitando a interpretação de Davis e discordando da ideia de que os britânicos sairão enfraquecidos.

Perante o Parlamento, ela defendeu novamente a estratégia, como uma forma de evitar os riscos de um Brexit "desordenado" que teria profundas consequências socioeconômicas tanto para o Reino Unido quanto para o restante da Europa.

Por que a saída de Johnson importa?

Johnson, ex-prefeito de Londres e um dos mais firmes defensores do Brexit, não deu declarações públicas sobre o plano, mas o criticou em privado, segundo fontes dentro do governo.

Sua saída é particularmente significativa porque Johnson não era apenas um ministro de alto escalão, mas um dos "rostos" da campanha pró-Brexit no plebiscito realizado em 2016, quando a maioria da população britânica votou pela saída da UE. Desde então, e em meio a trocas de governo e diversas crises políticas, o Reino Unido tenta definir os termos de sua saída, tanto do ponto de vista econômico quanto migratório e regulatório.

Negociações do Brexit têm causado sucessivas crises dentro do gabinete da premiê May
Negociações do Brexit têm causado sucessivas crises dentro do gabinete da premiê May
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A própria May, que assumiu o poder após a saída de David Cameron, passou por uma série de reveses nas negociações, sendo o principal deles uma estratégia fracassada de aumentar seu poder no Parlamento em eleições convocadas para abril de 2017. Na ocasião, ela esperava aumentar o número de assentos ocupados por parlamentares de seu partido, o Conservador, para conseguir aprovar leis relacionadas ao Brexit com mais facilidade. Mas a aposta deu errado: os conservadores mantiveram a maioria na Casa, mas perderam assentos.

Agora, a saída de Johnson transforma uma situação "vergonhosa e difícil para a premiê em uma potencial crise de grandes proporções", na avaliação da editora de política da BBC, Laura Kuenssberg.

O vice-líder do Partido Trabalista (oposição), Tom Watson, afirmou que o governo está "derretendo". "É um caos completo", criticou. "O país está paralisado com um governo dividido e trapalhão. A premiê não consegue entregar o Brexit e tem zero autoridade restante."

O plano do Brexit

O plano traçado para o Brexit, acertado em maratonas de conversas realizadas na sexta-feira, detalhou, pela primeira vez desde o plebiscito de 2016, a proposta que o Reino Unido deve levar à União Europeia, com a expectativa de chegar a um acordo com os europeus até outubro.

"Acreditamos que (o plano) vai produzir um Brexit positivo, esse foi nosso foco", afirmou um porta-voz de May aos jornalistas.

O plano prevê um Brexit que restrinja a imigração mas seja "amigável aos negócios", que não signifique uma ruptura completa com a UE e que permita uma "harmonização contínua" com o marco regulatório do bloco europeu em âmbitos econômicos, comerciais e migratórios.

O temor é de que uma ruptura total provoque fuga de capitais, perda de empregos e tensões nas relações internacionais britânicas, em especial com a Irlanda do Norte, onde existe um sentimento antibritânico entre parte da população.

Negociações com a UE buscam um acordo até outubro, para uma saída do bloco europeu até março do ano que vem
Negociações com a UE buscam um acordo até outubro, para uma saída do bloco europeu até março do ano que vem
Foto: Thinstock / BBC News Brasil

No entanto, críticos dentro do Partido Conservador afirmam que um acordo nesses termos pode deixar o Reino Unido vulnerável à UE, ao mesmo tempo que perde a capacidade de influenciar o bloco.

Em pronunciamento ao Parlamento nesta segunda-feira, pouco depois da renúncia de Johnson, May afirmou que ouviu ao longo do tempo "todas as ideias possíveis e todas as versões possíveis do Brexit. Este (plano) é o Brexit correto", defendeu.

Mas ela enfrenta um gabinete dividido, e há especulações até mesmo sobre sua permanência no cargo.

Ao mesmo tempo, o porta-voz da Comissão Europeia (braço executivo da UE), Margaritis Schinas, afirmou que o bloco vai "continuar a negociar de boa vontade e boa fé com a premiê May para que se chegue a um acordo".

Do ponto de vista do bloco, a principal preocupação é evitar que o sentimento anti-UE, já latente em outros países do continente, resulte em outras saídas.

Pelo Twitter, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, comentou a situação britânica, afirmando que "políticos vêm e vão, mas os problemas que eles criam para o povo permanecem".

"Só posso lamentar que o Brexit não tenha ido embora junto com Davis e Johnson. Mas... quem sabe?", ironizou.

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