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Mundo

Papa ataca ódio contra migrantes e denuncia campos de concentração

Francisco fez duro discurso em defesa do acolhimento

3 dez 2021 - 12h41
(atualizado às 12h48)
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O papa Francisco participou nesta sexta-feira (3) de uma oração ecumênica com migrantes na Igreja de Santa Cruz, em Nicósia, capital do Chipre, e afirmou que o ódio "envenenou" os cristãos.

Além disso, comparou campos de concentração e de trabalhos forçados da Alemanha nazista e da União Soviética stalinista com centros de detenção para deslocados internacionais.

As declarações foram dadas durante o último compromisso oficial do pontífice no Chipre, já que ele parte na manhã deste sábado (4) para a Grécia, onde visitará a capital Atenas e a ilha de Lesbos.

"O ódio envenenou nossas relações entre cristãos, e isso deixa uma marca profunda que vai durar bastante tempo. É um veneno do qual é difícil se desintoxicar. É uma mentalidade distorcida que, ao invés de fazer com que nos reconheçamos como irmãos, faz com que nos vejamos como adversários, rivais, quando não como objeto para vender ou explorar", disse.

Em um trecho improvisado de seu discurso, Francisco acrescentou que "os interesses de grupos, de nações e políticos levam muitos de nós a ficar de lado, sem querê-lo, como escravos".

"Nós lamentamos quando lemos histórias dos campos de concentração do século passado, do nazismo, de Stálin. 'Como isso pôde acontecer?' Mas está acontecendo ainda hoje, nas praias próximas, pontes de escravidão. Vi alguns depoimentos filmados, são histórias de tortura. E digo isso porque é meu papel abrir os olhos, não podemos ficar calados", denunciou.

O Papa não citou nenhum país explicitamente desta vez, mas no passado já criticou publicamente a Líbia por prender migrantes e refugiados em "verdadeiros campos de concentração".

"Deram tudo que tinham para subir em um barco, de madrugada, e não sabem se vão chegar. Muitos são barrados e acabam nos campos de concentração, verdadeiros lugares de tortura e escravidão. Essa é a história dessa civilização desenvolvida que nós chamamos de Ocidente", ironizou.

Crise migratória

Durante o encontro desta sexta, Francisco também ouviu as histórias de quatro estrangeiros acolhidos no Chipre: Mariamie Besala Welo, da República Democrática do Congo, Thamara da Silva, do Sri Lanka, Maccolins Ewoukap Nfongock, de Camarões, e Rozh Najeeb, do Iraque.

"Sua presença, irmãos e irmãs migrantes, é muito significativa para esta celebração. Seus testemunhos são como um espelho para nós, comunidades cristãs", declarou o pontífice, acrescentando que a "brutalidade da migração coloca em jogo a própria identidade".

O tema dos fluxos migratórios está no centro da primeira visita de Jorge Bergoglio ao Chipre, país com maior número de solicitantes de refúgio na União Europeia quando se leva em conta o tamanho da população.

Francisco já se comprometeu a financiar a transferência para a Itália de 50 migrantes que hoje vivem em solo cipriota, sendo que o primeiro grupo deve embarcar para Roma em meados de dezembro.

"Desculpem-me, mas quero dizer aquilo que está no meu coração: os arames farpados são colocados para não deixar o refugiado entrar. Aquele que pede liberdade, pão, ajuda, irmandade, alegria, que está fugindo do ódio, se depara com outro ódio chamado arame farpado", disse o Papa.

De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), cerca de 23 mil migrantes e refugiados já morreram ou desapareceram na travessia do Mediterrâneo desde 2014, sendo 1,65 mil apenas neste ano, alta de 14% na comparação com 2020.

A rota do Mediterrâneo Central, entre o norte da África (Líbia ou Tunísia) e o sul da Europa (Itália ou Malta) é a mais mortal, com 18,6 mil vítimas nos últimos sete anos. Em seguida, aparecem a do Mediterrâneo Ocidental, entre Marrocos e Espanha (2,8 mil), e do Mediterrâneo Oriental, entre Turquia e Grécia (1,8 mil).

"Nós estamos nos acostumando. 'Hoje um barco afundou'. Esse acostumar-se é uma doença grave, muito grave, para a qual não há remédio. Devemos ir contra esse vício de nos habituar às notícias que lemos nos jornais ou vemos na TV", acrescentou o Papa.

Ansa - Brasil   
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