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Padre rejeita lei que busca legalizar aborto na Argentina e diz que prática é promovida pelo FMI

José María Di Paola, conhecido como Pepe, questionou o governo em um discurso na Câmara dos Deputados por estimular o debate sobre o assunto

31 mai 2018 - 15h56
(atualizado às 16h02)
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José María Di Paola, conhecido como padre Pepe, se mostrou nesta quinta-feira, 31, contrário à lei que busca legalizar o aborto na Argentina, segundo o jornal Clarín. Para ele, esta é uma prática "promovida" e "impulsionada" pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Não é à toa que este ano o aborto seja legalizado a partir da política para se aproximar daquele que o promove em todo o mundo, que é o FMI", disse ele.

Pepe questionou o governo em um discurso na Câmara dos Deputados por estimular o debate sobre o assunto. Ainda de acordo com o Clarín, ele pediu aos legisladores que "não caiam na hipocrisia" de "se manifestar contra o FMI e, ao mesmo tempo, se inclinar a aprovar uma de suas maiores exigências, o aborto".

Para apoiar seus argumentos, Pepe citou o secretário de Defesa dos EUA, Robert McNamara, que "como presidente do Banco Mundial, lutou para aumentar o fluxo de empréstimos para os países pobres do terceiro mundo sob fortes condições".

"Aborto é FMI e FMI é aborto. Nos documentos de sua fundação, encontramos os mesmos argumentos que encontramos hoje na Argentina. Aborto é sinônimo de FMI, goste ou não o mundo conservador, que não vê com maus olhos que os pobres tenham menos filhos ou que não os tenham, e também o mundo pseudo-progressista, que levanta bandeiras de liberdade presumida sabendo que este genocídio é inspirado e promovido pelo FMI."

No fim de março, milhares de pessoas marcharam em Buenos Aires e outras cidades argentinas contra o projeto que pretende legalizar a interrupção voluntária da gravidez. "Essa é a reação das pessoas que defendem a vida na Argentina", disse à imprensa Alejandro Geyer, coordenador nacional da manifestação.

A salvadorenha Teodora Vásquez recuperou a liberdade nesta quinta-feira. Ela foi condenada a 30 anos de prisão por abortar.

A Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito na Argentina apresentou no início de março um projeto de lei que pretende descriminalizar a interrupção voluntária da gravidez, após o presidente Mauricio Macri, que é contra o aborto, pedir que o debate fosse aberto no Congresso.

A iniciativa tem o apoio de 71 deputados de diferentes visões políticas e estabelece que toda mulher tem o direito de interromper sua gravidez durante as primeiras 14 semanas. Após esse prazo, o procedimento só estaria permitido nos dois casos já contemplados pela lei (evitar riscos à saúde da mulher ou quando a gravidez é fruto de um estupro), e se houver malformação fetal grave.

"Quando as eleições foram convocadas, disseram que eram a favor da vida, da família, e nenhum deputado nem senador dizia que era a favor do aborto, e agora a surpresa é que muitos estão a favor do aborto e para nós isso foi uma fraude", ressaltou Geyer.

Se a medida for aprovada, a Argentina se tornará o país mais populoso da América Latina a permitir que as mulheres interrompam a gravidez. A chegada de um projeto de lei sobre a questão à Câmara dos Deputados é considerada uma consequência do movimento pelos direitos das mulheres na nação, que começou em 2015 com uma campanha contra o feminicídio chamada "Ni Una Menos".

O apoio à legalização do aborto aumentou à medida que a Igreja católica foi perdendo prestígio. No entanto, os seus líderes insistem em se opor ao projeto. Eles argumentam que melhorar a educação sexual nas escolas é uma estratégia mais adequada para tratar o problema da gravidez indesejada.

O Tribunal Constitucional do Chile aprovou, nesta segunda-feira, a lei do aborto terapêutico, que permite a prática em caso de risco de morte para a mãe, inviabilidade fetal e estupro. A lei poderá ser promulgada pela presidente Michelle Bachelet, impulsionadora da norma.

Uma pesquisa realizada este ano concluiu que cerca de 55% dos argentinos são a favor do aborto, embora as atitudes variem em termos geográficos. Nas províncias mais rurais do norte, 40% se mostram favoráveis, contra 67% em Buenos Aires. / EFE e NYT

Estadão
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