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Oriente Médio

Veto a ex-presidente evidencia fraquezas do sistema político do Irã

21 mai 2013 - 20h13
(atualizado às 20h38)
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Akbar Hashemi Rafsanjani, ex-presidente do Irã, em foto do dia 11 de março de 2013, quando do registro da sua candidatura em Teerã
Akbar Hashemi Rafsanjani, ex-presidente do Irã, em foto do dia 11 de março de 2013, quando do registro da sua candidatura em Teerã
Foto: AP

Akbar Hashemi Rafsanjani, o pragmático e experiente político iraniano, será impedido de concorrer às eleições presidenciais de 14 de junho, segundo decisão tomada nesta terça-feira pelo Conselho dos Guardiães, órgão constitucional do Irã. O órgão tem autoridade para banir candidatos por conta de sua suposta incapacidade para ocupar o cargo de presidente.

Foi vetado também o candidato Esfandiar Rahim Mashaei, protegido do presidente Mahmoud Ahmadinejad - que deixa de ter um aliado em seu processo sucessório. Mashaei desagradava a ala mais linha-dura do regime, que o considerava um opositor ao sistema islâmico.

Mas, no caso específico de Rafsanjani, de 78 anos, a desqualificação terá consequências sérias para a própria República Islâmica. Em primeiro lugar, isso significa que a ala centrista liderada por Rafsanjani foi excluída do sistema político do Irã. Com isso, todos os que se sentiam representados por ele provavelmente vão se alijar do processo político e boicotar as eleições. E isso inclui diversos grupos sociais importantes, como partes da classe média, os Bazaaris (ou comerciantes) e os clérigos mais tradicionais.

Ao mesmo tempo, o veto a Rafsanjani evidencia um sistema político mais fraco e tenso, preparado para cortar na própria carne. A República Islâmica está mais vulnerável - terá de criar mecanismos de defesa mais duros para proteger-se desses grupos sociais que está rejeitando.

De revolucionário a reformista

Rafsanjani é um membro fundador da República Islâmica e conseguiu pôr fim a oito anos de guerra contra o Iraque, nos anos 1980, para liderar o processo subsequente de reconstrução. No entanto, após meio século de polítca, ele se tornou um moderado. Nos últimos quatro anos, fez apelos por moderação na política doméstica e internacional e por uma sociedade mais aberta e tolerante.

A ala conservadora do país e a extrema direita não toleraram essa mudança e, passo a passo, tentam expulsá-lo de suas áreas de autoridade. Agora, com o veto a sua candidatura, sua coalizão de reformistas e centristas pode abandoná-lo e deixá-lo apenas com a opção da aposentadoria. Alguns reformistas alegam que Rafsanjani cumpriu um papel importante ao tentar a candidatura presidencial e mobilizar parte de sua base social. Mas esse grupo provavelmente será uma minoria.

Muitos o criticarão por abandonar os objetivos declarados da ala reformista em favor de uma empreitada política; outros perderão a fé no sistema político. Para esse grupo, a única esperança é a formação de uma classe média educada que, no longo prazo, acabe por mudar o rumo da política. Na pior das hipóteses, eles cairão no isolamento político.

É também possível que ocorra uma radicalização. Apesar do caos na Síria, na Líbia e no Egito, alguns grupos de oposição iranianos argumentam que é preciso derrubar o regime por inteiro. Quaisquer que sejam os cenários futuros, com Rafsanjani oficialmente fora do sistema político, a República Islâmica vira uma importante página de sua história.

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