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Oriente Médio

Acordo com Irã é vitória tardia para política externa de Obama

25 nov 2013 - 13h36
(atualizado às 13h36)
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O acordo nuclear preliminar entre o Irã e as potências internacionais é uma conquista tardia da política externa transformadora que o presidente Barack Obama sempre promoveu e desejou. Esse é um dos motivos pelos quais seus adversários republicanos desconfiam do acordo, que veem como o resultado de uma doutrina diplomática fraca e que busca a aproximação com os inimigos dos Estados Unidos às custas dos amigos.

O acordo, forjado depois de intensas negociações entre o Irã e as potências ocidentais, é o avanço mais importante registrado em mais de 30 anos de hostilidade, se não de ódio, entre Washington e Teerã.

No entanto, significa muito para o presidente em uma sombria temporada política: representa a esperança de validação de vários aspectos centrais de sua visão política, incluindo a ideia de que os Estados Unidos devem conversar com seus inimigos, que a força militar deve ser o último recurso, que a não-proliferação deve ser o centro da política externa americana.  

Se o acordo preliminar com o Irã evoluir para um entendimento mais amplo que o aspecto nuclear, isso será fundamental para o legado de Obama enquanto estadista.

Da mesma forma, o entendimento acontece num momento em que a base de sua agenda doméstica - a ideia que um governo ativista é uma força para o bem - é colocada à prova pelo lamentável início de sua reforma da saúde.

O acordo preliminar com o Irã foi gestado longe do confortável hotel de Genebra. Foi vislumbrado pela primeira vez em um debate presidencial entre candidatos democratas em 2007, na Carolina  do Sul. Naquela ocasião, Obama repudiou o chamado "Eixo do Mal" traçado pelo governo do então presidente republicano George W. Bush e sacudiu o establishment da política externa ao oferecer um compromisso com os inimigos dos Estados Unidos, incluindo o Irã.

"A ideia de que não falar com os países é um castigo para eles (...) é ridícula", disse então Obama, que evocou as conversas entre os Estados Unidos e a União Soviética encabeçadas pelos presidentes John F. Kennedy e Ronald Reagan.

Em seu primeiro discurso de posse como presidente, Obama estendeu a mão aos inimigos de Washington se eles se mostrassem dispostos a isso, mas fracassou ao iniciar o diálogo com o Irã em seu primeiro mandato. Até a eleição do presidente iraniano moderado Hassan Rouhani este ano, a aproximação com os inimigos deu poucos frutos, com exceção, talvez, de uma abertura patrocinada pelos Estados Unidos de uma Mianmar governada por militares.

Os assessores de Obama argumentam que os êxitos de sua política incluem a volta das tropas americanas do Iraque e do Afeganistão, esta programada para o final de 2014. Mas seu legado carece do destaque que implicaria a distensão com o Irã, um êxito comparável com acontecimentos maiores como a abertura dos Estados Unidos para com a China durante o governo de Richard Nixon, ou o fim da Guerra Fria durante o governo de Ronald Reagan.

Obama, que chegou ao poder denunciando a guerra no Iraque, optou por um ato de fé ao evitar conflitos no Oriente Médio e suas insuspeitas consequências. Foi alvo de deboches por "liderar por trás" a rebelião na Líbia e por seu anúncio tardio de atacar a Síria. Prefere a temível, mas teleguiada guerra com drones.

Qualquer acordo para por fim ao programa nuclear iraniano, por mais que imperfeito, que evite uma ação militar, cujo direito, no entanto, se reserva de lançar mão, se enquadra a sua visão de mundo.

"As opções militares sempre são difíceis, sempre têm consequências não intencionadas, e, nesta situação, nunca são completas em termos de nos assegurar que depois não buscarão no futuro dotar-se de armas nucleares, inclusive de forma mais vigorosa", afirmou na semana passada.

Sempre há o deboche de alguns políticos que assinalam que finalmente Obama está ganhando o Prêmio Nobel da Paz concedido prematuramente em 2009. A piada poderá ser colocada de lado se for obtido um acordo em longo prazo com o Irã.

Mas os adversários políticos internos de Obama não estão convencidos disso. Muitos rejeitam a ideia de falar com uma nação que durante décadas os Estados Unidos classificaram como "o império do mal".

A posição fragilizada de Obama um ano depois de iniciado seu segundo mandato também não ajuda. "Este governo é muito propenso a anúncios, mas falha em consegui-los", declarou Bob Crocker, líder republicano da Comissão de Relações Exteriores do Senado, falando no domingo ao canal Fox.

Para Mike Rogers, republicano que preside a Comissão de Inteligência da Câmara de Representantes, o Irã "recebeu uma permissão para continuar com o enriquecimento de urânio, que é precisamente o que todo mundo estavam tentado evitar", declarou à CNN.

Apesar da antipatia no Capitólio, Obama poderá recorrer a uma atribuição do executivo para cumprir com o compromisso dos Estados Unidos de aliviar as sanções contra o Irã pela "modesta cifra" de US$ 7 bilhões, em troca que Teerã dê passos para deter o avanço de seu programa nuclear. O Congresso deverá votar novas sanções em dezembro para que entrem em vigor dentro de seis meses, o prazo do acordo preliminar com o Irã, caso não se alcance um acordo definitivo.

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