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Orcas do Pacífico estão morrendo de fome

Espécie está entre ameaçadas de extinção desde 2005

21 jul 2018 - 11h34
(atualizado às 12h09)
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Nos últimos três anos, nenhuma cria nasceu nos cardumes cada vez mais reduzidos das baleias assassinas pretas e brancas, com seus jatos de gotículas, ao largo da costa noroeste do Pacífico.

Em geral, de quatro a cinco filhotes nasciam anualmente nesta inusitada população urbana de orcas - os cardumes denominados J, K e L. Agora, porém, o número de orcas diminuiu para apenas 75, o menor dos últimos 30 anos, e seu declínio parece inexorável, desconcertante.

Classificadas entre as espécies ameaçadas desde 2005, as orcas, ou baleias assassinas, estão essencialmente morrendo de fome, pois seu alimento mais importante, o salmão rei, está desaparecendo.

População desse tipo de baleia tem diminuído perto de Seattle, nos EUA
População desse tipo de baleia tem diminuído perto de Seattle, nos EUA
Foto: Jean Beaufort / via Public Domain Pictures

Em maio, o governador Jay Inslee, do Estado norte-americano de Washington, criou uma Força Tarefa Permanente para as Orcas, um grupo de funcionários provinciais, federais, tribais e estaduais, com a finalidade de tentar conter a perda deste amado animal típico da região. "Acredito que nós trazemos as orcas na alma em nosso Estado", disse.

Estas baleias enfrentam também uma nova ameaça. Um acordo concluído recentemente entre o governo canadense e a Kinder Morgan para expandir o oleoduto Trans Mountain aumentará em sete vezes, segundo estimativas, o tráfego de petroleiros em seu habitat, onde estarão expostas a um ruído excessivo e a possíveis vazamentos. As obras começarão em agosto, apesar da oposição do governador Inslee e de diversos ambientalistas.

No final dos anos 1990, a população de orcas chegava a cerca de cem indivíduos. Seguindo o salmão, elas migram no Mar de Salish até a costa norte da Columbia Britânica e frequentemente sobem à superfície ao sul de Puget Sound, em frente ao centro de Seattle, principalmente nos meses da primavera e do verão. Os machos, que podem chegar a pesar dez toneladas, vivem cerca de 30 anos, e as fêmeas, de até sete toneladas, vivem muito mais - até os 50 ou 60 anos, embora uma delas, Granny, do cardume J, tenha vivido até os 105 anos.

Os filhotes não apenas são menos numerosos atualmente, como também os sinais de cruzamentos consanguíneos apontam para uma população debilitada. Nos anos 1970 e 1980, parques temáticos, como o Sea World, capturaram cerca de 40 orcas da região, o que pode ter contribuído para reduzir o reservatório genético dos cardumes. Pesquisadores temem que as fêmeas que poderiam se reproduzir já tenham passado da idade, e não serão substituídas.

O fator que mais influi em seu declínio é, talvez, o desaparecimento do salmão rei, que pode chegar a medir um metro de comprimento. "Elas são grandes consumidoras do salmão rei", disse Brad Hanson, pesquisador do Northwest Fisheries Science Center. As orcas precisam comer 30 por dia. A caça de peixes menores em quantidade suficiente para suprir suas necessidades exige mais energia.

Além disso, o mundo submarino desta região está ficando mais barulhento, em particular a área entre as Ilhas San Juan e a Ilha de Vancouver, chamada Haro Strait, um dos territórios favoritos das orcas que buscam o seu alimento.

"Este é, essencialmente, um grande canal rochoso onde o som reverbera", explicou Hanson. "Somando o tráfego das embarcações comerciais, dos barcos de lazer e das operações de observação das baleias, temos um local extremamente barulhento".

Os pesquisadores acreditam que a cacofonia produzida pelo tráfego das embarcações interfere na ecolocalização e torna mais difícil para as baleias detectar e comunicar sua localização aos outros membros do cardume. Pode até causar uma perda auditiva.

As autoridades aumentaram a distância que as embarcações, incluindo os barcos de observação e os caiaques, precisam manter das baleias.

"A simples presença de barcos pode fazer com que elas passem menos tempo alimentando-se", explicou Lynne Barre, uma coordenadora da recuperação das orcas. "E dificultar a comunicação. Quando os barcos estão por perto, elas precisam emitir um chamado mais alto e mais prolongado".

Outro fator é a poluição de Puget Sound. As baleias que vivem ao largo da costa de Seattle, Tacoma e de outras cidades são baleias urbanas, ameaçadas pelo lixo municipal e industrial e pelo vazamento ocasional das usinas de tratamento dos esgotos no oceano. As baleias assassinas precisam suportar um dos níveis de poluição mais elevados do que qualquer outro animal marinho. Tentar manter uma população de baleias à sombra de uma das cidades de maior crescimento dos Estados Unidos talvez seja impossível.

"Trata-se de um problema que afeta todo um ecossistema", afirmou Hanson. "A situação saiu do controle. Precisamos fazer as orcas voltarem para o lugar onde possamos sustentá-las. Mas o tempo é escasso".

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