Moções pedem dissolução de grupo neofascista na Itália
Força Nova liderou ataque ao maior sindicato do país
Partidos de centro e esquerda da Itália apresentaram nesta segunda-feira (11) moções para obrigar o governo a dissolver o movimento neofascista Força Nova, que invadiu a sede do principal sindicato do país durante um protesto contra um certificado sanitário anti-Covid no último fim de semana.
O primeiro texto é de autoria do Partido Democrático (PD), maior legenda de centro-esquerda na Itália, enquanto o segundo é assinado por parlamentares da sigla de centro Itália Viva (IV) e do Partido Socialista Italiano (PSI). Ambos foram protocolados no Senado.
"Nossa moção pede que o governo, através de instrumentos previstos pelas leis vigentes, dissolva a organização neofascista Força Nova e todos os outros grupos que remetem ao fascismo. Esperamos que todas as forças políticas autenticamente democráticas a apoiem", disseram as líderes do PD no Senado, Simona Malpezzi, e na Câmara, Debora Serracchiani.
Na prática, as duas moções pedem a ativação de um artigo da Constituição Italiana que "proíbe, sob qualquer forma, a reorganização do partido fascista". "Não há dúvidas de que o Força Nova seja uma organização política de extrema direita inspirada no fascismo", diz o texto apresentado pelo PD.
Fundado em 1997, o FN recusa o rótulo de "neofascista", mas suas manifestações são sempre repletas de referências nostálgicas ao ditador Benito Mussolini e a símbolos do fascismo, como a saudação romana.
No último sábado (9), o grupo participou de um protesto em Roma contra a exigência de certificado sanitário anti-Covid em todos os locais de trabalho na Itália, regra que entra em vigor em 15 de outubro.
Durante o ato, militantes do Força Nova instaram a multidão a atacar sedes das instituições, como o Palácio Chigi, que abriga o gabinete do premiê Mario Draghi, e lideraram uma invasão à Confederação Geral Italiana do Trabalho (Cgil), principal sindicato do país.
A ação fez renascer o fantasma do "squadrismo", tática paramilitar de intimidação contra oponentes incorporada pelo fascismo logo em seus primórdios. "O episódio, sem sombra de dúvidas, entra no cânone do squadrismo armado do qual o fascismo se valeu entre 1920 e os anos sucessivos para a eliminação de adversários políticos", diz a moção do PSI e do IV contra o Força Nova.
O FN é historicamente próximo do partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), que hoje lidera praticamente todas as pesquisas de intenção de voto em âmbito nacional. A própria líder do FdI, a popular deputada Giorgia Meloni, admitiu que a ação do Força Nova foi "squadrista", mas não quis defini-la como "fascista".
"Com certeza é violência e squadrismo, porém não conheço a origem. Se é fascista ou não é fascista, não é esse o ponto. O ponto é que é violência, é squadrismo, e essa coisa deve ser sempre combatida", declarou Meloni no último domingo (10).
Seis pessoas foram presas após a invasão da Cgil, incluindo Roberto Fiore, fundador e líder do Força Nova. O sindicato também recebeu a visita de Draghi nesta segunda-feira.