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Mundo

Milhares de egípcios se rúnem para oração na praça Tahrir

4 fev 2011 - 09h09
(atualizado às 12h14)
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Dezenas de milhares de pessoas oraram na praça Tahrir, no centro do Cairo, onde se concentram os manifestantes anti-Mubarak, ao iniciar nesta sexta-feira o que a oposição quer que seja o "Dia da Partida" do presidente egípcio.

Vídeo mostra agressão a jornalistas no Egito:

"É um movimento egípcio. Todo mundo participou, tanto muçulmanos como cristãos, para exigir os direitos que lhes roubaram", declarou o imã que liderou a oração, identificado como Khaled al Marakbi pelos fiéis reunidos nessa praça central, onde estão entrincheirados há 11 dias os opositores do presidente Hosni Mubarak.

"Não temos um partido que nos represente e expresse nossas reivindicações. Aquele que quiser negociar, que venha aqui para falar", afirmou o irmã. "Estamos livres e queremos viver livres. Peço que tenham paciência até a vitória", completou.

O imã chorou durante a oração na qual se lembrou dos mortos. Segundo a ONU, 300 pessoas morreram no Egito desde 25 de janeiro, às quais se somaram ao menos oito que morreram nos confrontos entre partidários e adversários de Mubarak na batalha campal de quarta-feira na praça Tahrir.

Tão logo acabou a cerimônia, as pessoas começaram a gritar "vá embora, vá embora já" para pedir a renúncia do presidente, de 82 anos, que leva 30 anos no poder. Em função da situação, o ministro da Defesa, Mohamed Hussein Tantawi, discursou à multidão reunida na praça, cercado por soldados que pediram aos manifestantes que sentassem no chão.

"Mubarak já disse que não voltará a concorrer na eleição de setembro", disse Tantawi. O ministro reiterou o pedido dos principais líderes do país a um diálogo com a oposição e citou especialmente o Guia Supremo da Irmandade Muçulmana - o grupo mais articulado dos adversários de Mubarak - Mohamed Badi.

"Digam ao Guia que sente para negociar com eles", disse. Segundo a televisão estatal, o ministro está examinando a situação da Praça Tahrir. A emissora também pediu à multidão que deixe o local. Nos últimos dois dias, os partidários de Mubarak agrediram inúmeros jornalistas estrangeiro.

A ONU, que avalia que desde o início dos protestos aconteceram 300 mortes e milhares de feridos, pediu nesta sexta-feira às autoridades egípcias que efetuem investigações "transparentes e imparciais" sobre as violências. "Os governos devem escutar suas populações e colocar em prática suas obrigações sobre direitos humanos", declarou a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay.

"A mudança está em curso no Egito, como aconteceu na Tunísia, mas a violência e o derramamento de sangue devem ser interrompidos", disse ainda.

A União Europeia (UE), por sua vez, inaugurou uma reunião de cúpula nesta sexta-feira, em Bruxelas, com a intenção de manter a pressão sobre o regime de Hosni Mubarak e exercer uma influência nesta crise ao lado dos Estados Unidos.

Em sua chegada a Bruxelas, os dirigentes europeus pediram a Mubarak que evite novos episódios de violência durante o "Dia da Partida" e inicie rapidamente uma transição política.

"Esperamos que as forças de segurança egípcias atuem de forma que assegurem manifestações livres e pacíficas nesta sexta decisiva", assinalou a chanceler alemã, Angela Merkel.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, também afirmou que é "absolutamente essencial" que o governo Mubarak inicie um diálogo com a oposição. Os opositores ao regime rejeitaram até o momento qualquer diálogo com o governo enquanto Mubarak permanecer no poder.

O guia da Irmandade Muçulmana, principal força de oposição no Egito, disse nesta sexta-feira que está disposto a dialogar com o vice-presidente Omar Suleiman sob a condição da renúncia do presidente Hosni Mubarak, em declarações à emissora Al-Jazeera.

"Dialogaremos com quem quiser desenvolver reformas no país, depois da renúncia desse injusto, corrupto tirano", declarou o guia, Mohamed Badie, referindo-se a Mubarak. É a primeira vez que o guia supremo da organização islâmica expressa-se publicamente desde o início de uma revolta popular contra o regime de Mubarak, em 25 de janeiro.

Protestos convulsionam o Egito

Desde o último dia 25 de janeiro - data que ganhou um caráter histórico, principalmente na internet, principalmente pelo uso da hashtag #Jan25 no Twitter -, os egípcios protestam pela saída do presidente Hosni Mubarak, que está há 30 anos no poder. No dia 28 as manifestações ganharam uma nova dimensão, fazendo o governo cortar o acesso à rede e declarar toque de recolher. As medidas foram ignoradas pela população, mas Mubarak disse que não sairia. Limitou-se a dizer que buscaria "reformas democráticas" para responder aos anseios da população a partir da formação de um novo governo.

A partir do dia 29, um sábado, a nova administração foi anunciada. A medida, mais uma vez, não surtiu efeito, e os protestos continuaram. O presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da polícia antimotins. Enquanto isso, a oposição seguiu se organizando. O líder opositor Mohamad ElBaradei garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Já os Irmãos Muçulmanos disseram que não iriam dialogar com o novo governo. Na terça, dia 1º de fevereiro, dezenas de milharesde pessoas se reuniram na praça Tahrir para exigir a renúncia de Mubarak.

A grandeza dos protestos levou o líder egípcio a anunciar que não participaria das próximas eleições, para delírio da massa reunida no centro do Cairo. O dia seguinte, 2 de fevereiro, no entanto, foi novamente de caos na capital. Manifestantes pró e contra o governo Mubarak travaram uma batalha campal na praça Tahrir com pedras, paus, facas e barras de ferro. O número de mortos é incerto, entre seis e dez, e mais de 800 pessoas ficaram feridas. No dia seguinte, o governo disse ter iniciado um diálogo com os partidos. Mas a oposição nega. Na praça Tahrir e arredores, segue a tensão.



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