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Estados Unidos

Menina que virou símbolo da separação de famílias nos EUA e estampou capa da Time não foi tirada da mãe

A hondurenha Yanela Denise tem dois anos e foi detida junto com a mãe na fronteira do México com a cidade de McAllen, no Texas.

22 jun 2018 - 18h05
(atualizado às 19h20)
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A imagem de Yanela Denise chorando ao olhar para a mãe gerou revolta contra medidas anunciadas em abril pelo governo Trump
A imagem de Yanela Denise chorando ao olhar para a mãe gerou revolta contra medidas anunciadas em abril pelo governo Trump
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A menina que virou símbolo da política americana que separou famílias de imigrantes e estampou a capa da revista 'Time' não foi tirada da mãe na fronteira com o México, diz seu pai.

A imagem da pequena hondurenha chorosa com um casaco rosa, olhando para a mãe, foi feita durante a detenção de um grupo que tentava cruzar ilegalmente a fronteira.

Na montagem feita pela Time, Yanela Denise foi colocada em frente ao presidente Donald Trump, que a observa sob a legenda "Bem-vinda à América".

Milhares de outras crianças, contudo, foram afastadas dos pais nos Estados Unidos nas últimas semanas.

A imagem foi feita pelo fotógrafo John Moore para a agência Getty Images no dia 12 de junho na cidade de McAllen, no Texas.

Ganhador do prêmio Pulitzer, ele disse à BBC que, momentos antes de ser detida, a mãe amamentava a criança. Elas chegaram aos EUA de bote, pelo Rio Grande, que banha os dois países.

Moore afirma que elas foram levadas juntas por agentes da Patrulha de Fronteira.

Denis Valera (esq.) afirma que a mulher saiu de casa sem avisá-lo de que tentaria entrar no EUA
Denis Valera (esq.) afirma que a mulher saiu de casa sem avisá-lo de que tentaria entrar no EUA
Foto: Facebook / BBC News Brasil

A foto gerou revolta contra medidas anunciadas em abril pelo governo Trump, que preveem que crianças sem documentação detidas na fronteira entre EUA e México possam ser separadas dos pais, e ajudou a levantar US$ 17 milhões em doações.

Mobilização contra Trump

Centenas de milhares de pessoas participaram de uma campanha realizada no Facebook para levantar fundos para o Centro para a Educação e Serviços Legais para Refugiados e Imigrantes (Refugee and Immigrant Center for Education and Legal Services), organização sem fins lucrativos baseada no Texas.

"Minha filha se tornou símbolo da separação de pais e filhos na fronteira dos Estados Unidos", afirmou Denis Valera, pai da menina, à agência de notícias Reuters.

"Ela pode ter tocado o coração do presidente Trump", acrescenta. "Ver a reação dela naquele momento parte o coração de qualquer um."

Sandra Sanchez e a filha foram detidas na fronteira da cidade de McAllen, no Texas
Sandra Sanchez e a filha foram detidas na fronteira da cidade de McAllen, no Texas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Valera afirmou que sua filha e a mãe dela, Sandra Sanchez, foram detidas juntas na fronteira da cidade de McAllen, quando Sanchez tentava pedir asilo.

O vice-ministro hondurenho de Relações Exteriores, Nelly Jerez, confirmou a versão de Valera à Reuters.

Carlos Ruiz, agente da Patrulha de Fronteira que deteve Sanchez e sua filha, afirmou que as autoridades pediram que a mãe deixasse a filha no chão para que pudesse ser revistada.

"A criança começou a chorar assim que ela a colocou no chão", acrescenta Ruiz. "Eu fui pessoalmente até a mãe e perguntei: 'Você está bem? A criança está bem?'"

"Ela respondeu: 'Sim. Ela está cansada, tem sede. São 11 da noite.'"

A pequena Yanela Denise tem dois anos de idade, de acordo com o jornal britânico Daily Mail.

Valera afirmou que Sanchez e sua filha deixaram a cidade hondurenha de Puerto Cortes sem avisá-lo ou aos três outros filhos do casal.

Ele disse acreditar que ela tenha tentado entrar nos EUA em busca de melhores condições de vida.

"Se elas forem deportadas, tudo bem, contanto que não deixem a criança sem a mãe. Estou aguardando para ver o que vai acontecer com elas", declarou.

Ao Daily Mail, ele afirmou saber que a mulher pagou US$ 6 mil a um coiote que prometeu ajudá-la a cruzar a fronteira.

Segundo jornal, os outros três filhos do casal têm 14, 11 e seis anos de idade.

"As crianças têm acompanhado as notícias. Ela estão um pouco preocupadas, mas eu tento não falar muito sobre isso. Eles sabem que a mãe e a irmã estão bem agora."

Deputada pela Califórnia, Lucille Roybal-Allard (dir.) segura foto da garotinha em protesto no Capitólio nesta terça-feira
Deputada pela Califórnia, Lucille Roybal-Allard (dir.) segura foto da garotinha em protesto no Capitólio nesta terça-feira
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A revista Time defendeu sua capa e declarou, nesta sexta-feira, que não foi à toa que a menina hondurenha virou "o símbolo mais visível de atual debate sobre imigração na América".

"Nossa capa e reportagem capturam o que está em jogo neste momento", escreveu o editor-chefe, Edward Felsenthal.

A revista, contudo, corrigiu a reportagem, que dizia que a menina tinha "sido levada, enquanto gritava, por agentes da Patrulha de Fronteira dos EUA". O texto foi substituído pela afirmação de que a mãe e a menina tinham sido "levadas juntas".

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, alegou, em um post no Twitter, que políticos do Partido Democrata e a imprensa "exploraram a foto de uma garotinha para promover sua agenda".

"Ela não foi separada da mãe. A única separação aqui é a dos fatos", ela escreveu.

Nesta sexta, Trump acusou os democratas de fazer política com "uma história falsa de dor e tristeza".

Crise na fronteira

Cerca de 2,3 mil crianças foram tiradas de suas famílias desde que a política de "tolerância zero" de Trump em relação à imigração ilegal começou, em maio. Elas foram colocadas em centros de detenção provisórios administrados pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS).

Alguns abrigos, incluindo três no Texas, recebem crianças em "tenra idade", com menos de cinco anos de idade.

Cerca de 500 voltaram às famílias desde maio, informou o Departamento de Segurança Interna.

Em meio às críticas - que vieram até de seu próprio partido e da mulher, Melania -, Trump voltou atrás nesta quarta-feira e assinou um decreto que estabelece que, a partir de agora, as famílias de imigrantes ilegais serão mantidas juntas.

A medida, contudo, não dissipou a polêmica em torno da postura do governo frente aos imigrantes. No dia da divulgação não ficou claro, por exemplo, como se daria essa detenção - informações que só foram divulgadas no dia seguinte pelo Pentágono - e até agora não se sabe se a nova regra vale também para as milhares de crianças que já estão sozinhas em abrigos.

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