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Impeachment de Trump: quem são George Kent e Bill Taylor, primeiros a testemunhar publicamente no caso

Diplomatas sêniores envolvidos com diplomacia americana na Ucrânia dizem, publicamente, que pessoas ligadas a Trump pressionaram ucranianos a investigar Joe Biden.

13 nov 2019 - 14h41
(atualizado às 16h02)
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Trump nega acusação de ter pressionado a Ucrânia a investigar seu rival político Joe Biden
Trump nega acusação de ter pressionado a Ucrânia a investigar seu rival político Joe Biden
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O processo de impeachment contra Donald Trump entra em uma fase crucial nesta quarta-feira (13/11), quando testemunhas começaram a depor publicamente perante o Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes (Deputados) dos EUA.

Essas testemunhas são pessoas de algum modo envolvidas na diplomacia e nas relações com a Ucrânia — lembrando que Trump é acusado de ter pressionado o país a investigar seu rival político Joe Biden em troca de apoio militar ao país. Trump nega as acusações, afirmando se tratar de uma "caça às bruxas".

O democrata Adam Schiff, presidente do Comitê de Inteligência, abriu a sessão desta quarta afirmando que a questão principal é se Trump tentou "explorar vulnerabilidades ucranianas" para fazer com que o país interviesse nas eleições americanas de 2020.

A aposta dos democratas é de que os depoimentos das testemunhas repitam respostas já dadas em audiências fechadas, mas desta vez diante dos olhos do público americano, o que pode aumentar ou não o apoio popular ao processo de impeachment. Por enquanto, isso tem acontecido.

A seguir, entenda quem são e o que já disseram duas testemunhas-chave a falar nesta quarta-feira:

George Kent

George Kent era responsável por supervisionar a diplomacia americana na Ucrânia
George Kent era responsável por supervisionar a diplomacia americana na Ucrânia
Foto: EPA / BBC News Brasil

O primeiro a testemunhar nesta quarta foi George Kent, vice-secretário-assistente de Estado e responsável por supervisionar a política externa americana com a Ucrânia.

Em seu depoimento prévio, ele já dissera aos congressistas que ouviu de autoridades em contato direto com Trump que o presidente queria que a Ucrânia anunciasse publicamente uma investigação sobre Joe Biden e seu filho Hunter (que trabalhou em uma empresa ucraniana de energia) — algo que é considerado crucial para a tese de que o presidente americano usou seus poderes no cargo para influenciar um país a agir em seu favor e, desse modo, potencialmente influenciar a eleição americana do ano que vem, quando Biden pode ser o candidato democrata.

Nesta quarta, ele afirmou ter sabido de esforços do advogado pessoal de Trump, Rudolph Giuliani, para interferir na diplomacia americana na Ucrânia.

"Ficou claro para mim que os esforços de Giuliani para (promover) investigações politicamente motivadas estavam infectando o relacionamento dos EUA com a Ucrânia, alavancando o anseio do (presidente da Ucrânia, Volodymyr) Zelensky para uma reunião na Casa Branca", declarou Kent perante os congressistas.

Ele também afirmou que "como princípio não acredito que os EUA deveriam pedir a outros países que se envolvessem em investigações seletivas e politicamente motivadas contra oponentes dos que estão no poder, porque essas ações seletivas minam o estado de direito".

William 'Bill' Taylor

Bill Taylor afirmou novamente que ajuda militar americana foi retida para pressionar Ucrânia a investigar Joe Biden
Bill Taylor afirmou novamente que ajuda militar americana foi retida para pressionar Ucrânia a investigar Joe Biden
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Diplomata sênior e embaixador em exercício na Ucrânia, Bill Taylor é considerada a principal testemunha desta quarta-feira — e a principal aposta dos democratas para construir um caso que leve ao impeachment de Trump.

Ele foi responsável por algumas das declarações mais bombásticas até agora: na audiência privada, afirmara que era de seu "entendimento claro" que Trump havia retido ajuda militar à Ucrânia porque queria que o governo daquele país investigasse os Biden. Ele também acusou Giuliani de estar por trás da pressão para que a Ucrânia anunciasse uma investigação.

Não foi diferente nesta quarta-feira: em seu depoimento, ele repetiu sua percepção de que a ajuda militar estava sendo usada para forçar Kiev a investigar Biden.

Ele descreveu ter se dado conta, em uma reunião do Conselho Nacional de Segurança (NSC) dos EUA, que havia dois canais diplomáticos para lidar com a Ucrânia.

"Em uma reunião comum do NSC em 18 de julho eu ouvi um funcionário dizer que havia uma retenção na ajuda de segurança à Ucrânia, mas não soube me dizer por quê (...) e que nenhum gasto adicional em assistência de segurança à Ucrânua seria aprovado até segunda ordem", declarou.

"Eu e outros ficamos sentados atônitos. Os ucranianos estavam enfrentando os russos e contavam não apenas com (financiamento para) treinamento e armas, mas também de garantia do apoio americano. O funcionário só afirmou que a ordem viera do presidente (Trump). Eu logo percebi que um dos pilares-chave de nosso forte apoio à Ucrânia estava ameaçado. Um canal irregular (de comunicação) estava indo na direção contrária dos objetivos da política americana."

Taylor afirmou também que, inicialmente, não achou que isso "tivesse relação com as investigações", mas que esse entendimento mudaria mais tarde.

Comitê de Inteligência do Senado, presidido por Adam Schiff, é quem está tomando os depoimentos das testemunhas
Comitê de Inteligência do Senado, presidido por Adam Schiff, é quem está tomando os depoimentos das testemunhas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A importância de Taylor para o processo se deve também ao fato de que suas mensagens, tornadas públicas pelo enviado especial à Ucrânia Kurt Volker, já haviam revelado sua preocupação quanto ao que via como esforço do governo Trump em pressionar os ucranianos.

Também em seu testemunho prévio, ele havia detalhado episódios em que acreditava que a ajuda militar e uma visita de autoridades ucranianas à Casa Branca estavam sendo usadas para essa pressão.

Foi seu depoimento que forçou o embaixador americano na união Europeia, Gordon Sondland, a "rever sua memória" dos fatos e afirmar ter dito a autoridades ucranianas que a ajuda militar americana ficaria retida até que fosse aberta a investigação pedida pelo governo Trump.

Nesta quarta, Taylor afirmou também que Sondland havia lhe pedido que "se assegurasse de que ninguém estivesse transcrevendo ou monitorando" o telefonema de 25 de julho entre Trump e Zelensky que motivou o inquérito de impeachment. Taylor afirmou que, à época, achou esse pedido "estranho".

Questionado sobre a sessão desta quarta, o presidente Donald Trump afirmou que não estava assistindo aos depoimentos. "Estou muito ocupado para assistir. É uma caça às bruxas, um embuste".

Ele também gravou vídeo afirmando que os procedimentos em curso na Câmara são uma "farsa".

"Eles (democratas) querem tomar o voto de vocês (eleitores)", declarou o presidente. "Eles estão tentando me barrar porque eu estou lutando por vocês. E eu nunca vou deixar isso ocorrer."

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