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Impeachment de Trump: por que condenação de ex-presidente pelo Senado agora parece mais difícil

Quase todos os republicanos do Senado votam para impedir o julgamento do impeachment de Donald Trump antes mesmo de ele começar.

27 jan 2021 - 10h46
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Donald Trump deixou a Casa Branca há quase uma semana, mas continua a lançar uma longa sombra sobre o Partido Republicano no Congresso.

Donald Trump pode ter deixado a Casa Branca, mas continua a lançar uma longa sombra sobre o Partido Republicano
Donald Trump pode ter deixado a Casa Branca, mas continua a lançar uma longa sombra sobre o Partido Republicano
Foto: Reuters / BBC News Brasil

No primeiro teste oficial de apoio à condenação pelo impeachment de Trump, acusado de incitar uma insurreição no Capitólio, a sede do governo americano, 45 dos 50 republicanos do Senado votaram por considerar a suspensão do julgamento antes mesmo de ele começar.

Após a votação, Rand Paul, que pressionou pelo engavetamento, afirmou que o o processo do impeachment entregue pela Câmara na segunda-feira (25/01) estava "morto na chegada".

Ele provavelmente está certo.

Seriam necessários pelo menos 17 senadores republicanos votando ao lado dos 50 democratas para condenar o presidente para impedi-lo de concorrer a um cargo federal novamente.

Líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, foi um dos 45 republicanos do Senado que votaram pelo engavetamento do impeachment
Líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, foi um dos 45 republicanos do Senado que votaram pelo engavetamento do impeachment
Foto: Reuters / BBC News Brasil

A votação de terça-feira mostra que há definitivamente apenas cinco republicanos que querem considerar as evidências contra Trump: Mitt Romney, Lisa Murkowski, Susan Collins, Ben Sasse e Pat Toomey.

O restante afirma que presidentes não podem enfrentar impeachment depois de deixarem o cargo.

"Meu voto hoje para rejeitar o processo de impeachment é baseado no fato de que ele foi planejado para remover um titular de um cargo público", disse a senadora Shelley Moore Capito, da Virgínia Ocidental, em um comunicado divulgado após a votação. "A Constituição não dá ao Congresso o poder de impeachment de um cidadão privado."

Os democratas certamente acharão essa uma forma muito conveniente de não ter que julgar o comportamento do presidente.

Eles também apontarão que, embora não haja precedente histórico para o impeachment de um presidente que já deixou o cargo, um secretário de gabinete no século 19 enfrentou julgamento semelhante no Senado por acusações de corrupção, mesmo depois de renunciar ao cargo.

Independentemente das explicações e justificativas, a votação processual é apenas o mais recente e mais claro sinal de enfraquecimento do apoio republicano para responsabilizar Trump pelo motim no Capitólio há três semanas.

Pouco depois do incidente, Lindsey Graham - uma das aliadas mais próximas do presidente no Senado - disse que as ações do presidente "eram o problema" e que seu legado estava "manchado".

Na época, McConnell, então líder da maioria republicana no Senado, supostamente demonstrou "satisfação" com os esforços de impeachment da Câmara e disse na semana passada que a multidão que atacou a capital foi "alimentada com mentiras" e "provocada" pelo presidente.

Mas Graham e McConnell votaram na terça-feira pelo fim do julgamento do impeachment.

As opiniões em evolução do Partido Republicano sobre a culpabilidade do presidente são provavelmente melhor capturadas pelos comentários inconstantes do líder da minoria republicana na Câmara, Kevin McCarthy.

Durante o debate sobre o impeachment na Câmara dos Representantes há duas semanas, McCarthy disse que Trump "é responsável pelo ataque ao Capitólio" e recomendou que ele seja formalmente censurado pela casa.

Na semana passada, ele disse não acreditar que Trump "provocou" o comício e então, alguns dias depois, que "todos neste país têm alguma responsabilidade" por criar o ambiente político que levou à insurreição.

Enquanto isso, aqueles que se manifestaram contra o ex-presidente e não retrocederam em seus comentários estão enfrentando crescentes pedidos de retaliação política de seu próprio partido.

Liz Cheney, que criticou vigorosamente o presidente e foi uma das 10 republicanas que votaram pelo impeachment na Câmara, enfrenta uma tentativa de removê-la de seu posto de liderança no partido.

Outros estão sendo ameaçados de perderem seus cargos se concorrerem à reeleição no próximo ano.

Após a votação de terça-feira, haverá um prazo de duas semanas para acusação e defesa se prepararem.

Dada a aparente disposição dos senadores republicanos, a única estratégia dos democratas pode ser fazer um voto de absolvição, mesmo que esse seja um fato consumado, o mais desconfortável possível.

Eles farão o possível para lembrar aos 100 senadores o medo, a confusão e a raiva que sentiram em 6 de janeiro, quando fugiram da Câmara diante de uma multidão enfurecida.

Também vão tentar colocar a responsabilidade pelo motim nas costas de um presidente que passou dois meses questionando o resultado da eleição e optou por realizar uma manifestação de protesto a uma curta distância do Capitólio no dia em que o Congresso se reuniu para certificar a eleição.

E então terão que torcer para que a história, e os eleitores americanos, estejam dispostos a atribuir culpas, mesmo que o Senado não esteja.

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